quarta-feira, março 12, 2014

Psicodália de carnaval 2014: Parte III




Domingo, 02/03

Um dia bonito. Fazia sol. Meio da tarde, saímos da pousada e fomos dar um rolezinho pela estação de trem da cidade, onde se encontra também um museu do trem, lugar histórico e muito bonito. De minha parte, sou apaixonado por imagens e alguns objetos velhos, carcomidos pelo tempo, cheios de marcas ou cicatrizes deixadas pelo tempo. Acabamos tendo sorte e a máquina de ferro que parecia interminável, passou por nós, apitando, fazendo o chão e o corpo tremer. Ficamos ali, por alguns instantes curtindo o momento e dando alguns tiros (fotografando), depois pegamos a estrada rumo a fazenda Evaristo, o dia seria delicioso. Domingo e uma luz incrível para fotografar. Armas (câmeras fotográficas) carregadas e engatilhadas para alguns tiros. Chegamos ao lago. O contexto: um bonito lago, pessoas, risos, fumaça, algum trago, diálogos e tudo mais que faz um domingo ser bom, diferente daquele marasmo que geralmente é um domingo na cidade. Talvez, tenha sido o dia em que as imagens mais falaram por si só. Depois, sentamos na grama para uma peça teatral de rua com o Cia Teatral Nós em Cena, uma intervenção. Sob a sombra das grandes árvores, uma boa ‘estória’ com boas atuações, ora bem humorada, ora dramática. Mais um momento de arte que se integrou na composição desta tarde iluminada do Psicodália.

















































 










 *

Logo mais a noite, outra peça teatral, desta vez com a Trouppe Putz Grillis e o espetáculo ‘Toma!’. Algo mais despojado, rememorando e brincando com os filmes que tratam do Velho Oeste norte americano (os quais, desde a infância assistia com meu velho pai, o que me fez gostar de cinema até hoje e de diretores e compositores como Serge Leone e Enio Morricone, possivelmente uma influência para que eu me apaixonasse também pela fotografia e tivesse estes como referências) com elementos regionais brasileiros e afins. Um momento de diversão, troca de risos e algum trago de cachaça oferecido pelo grupo. Algumas boas atuações, outras nem tanto, mas o importante foi a diversão, o trabalho e a integração com o público. Nesses momentos, a pretensão e aquilo que se tem como ‘profissionalismo’, não importam muito – ou em nada. Mais um alegre e instigante momento do festival.




















Yamandu Costa ( e amigos) – Palco Psicodália, 21h. aprox.


Um mestre. Um ‘monstro’. Acompanhado de dois outros ‘monstros’. Monstros dos instrumentos de corda mouros, trazidos para América pelos espanhóis, e que no Brasil, de guitarra, virou violão. O gaúcho Yamandu Costa e seus dois companheiros (um no violão outro no baixolão), simplesmente, fizeram o público vibrar junto as cordas dos seus violões, num show virtuoso, e mais que isso, de muita alma. Belíssimas e sofisticadas composições próprias e de outros autores da música erudita e pampiana. E eu que me criei em festas e eventos nativistas e gauchescos, sendo de família gaúcha e tendo um pai que foi fundador de CTG (Centro de Tradições Gaúchas) e que me orientou na declamação da chamada ‘poesia crioula’, adquirindo certo conhecimento desse estilo musical e meio artístico-cultural, deixei que algumas lágrimas molhassem meu rosto. Milonga e Chamamé, entre outros ritmos, entre o popular e o erudito, o antigo e o moderno, deram a dinâmica de um show magnífico. Um tanto de psicodelia e progressividade nas cadências, mudanças de tempo (contratempos) e afins, com aquele fundo nativista, fizeram desse show algo subliminar. E pra quem acha que ‘roqueiro’ não gosta ou não conhece algumas raízes e/ou músicas acústicas, o Psicodália mostra o contrário. A vibração e musicalidade de Yamandu e seus comparsas, se integrou ao espírito do evento fazendo dele mais abrangente e eclético do que já fora um dia. Os aplausos e saudações intermináveis no fim do show, só fizeram essa realidade e a energia do lugar aumentar para o que viria. Yamandu Costa, o ‘Hendrix’ do violão brasileiro, marcou a ferro e fogo o Psicodália, como nas velhas lidas campeiras. Mais tarde, encontramos Yamandu no Saloon, e sem revidar, aceitou um dedinho de prosa e um registro...








































nosotros y Yamandu...



Confraria da Costa – Palco Psicodália, 22h30min. aprox.

Talvez a banda mais ‘clássica’ do Psicodália. Se não me engano, desde a primeira edição do festival, vejo a Confraria tocando. A banda que já se chamou Gato Preto é bem conhecida do público por isso, além de tocar muito bem e ser cativante, e a cada vez que sobe ao palco do festival, traz a energia típica do Psicodália. Tornou-se como uma ‘marca’ do evento. Canções e histórias de pirata sempre me inspiraram, desde a infância. Sempre fui fã dos ‘mestres e marujos malditos dos mares’, da marginalia libertária que também envolve movimentos como o Cangaço brasileiro e o Zapatismo mexicano. Rum, charuto e vinho passados de mão em mão aos amigos e... Preparar... Apontar... Fogo!

























Gong – Palco Psicodália, 00h. aprox.

Um espaço de tempo depois da apresentação da Confraria. Tempo para respirar, mas continuar com o Rum e o vinho. Entre um trago e outro, um bate papo com as pessoas. Armas preparadas para mais tiros. Mas não foi fácil fotografar a banda, outra atração internacional do Psicodália, além do Jarrah Thompson. E o que dizer do show do Gong? Alguém sabe por acaso? Eu não sei se sei, portanto, terei que arriscar. Pra começar, o quesito técnico, ou seja, a qualidade de som impecável. Os gringos, neste sentido, parecem ter mais estrutura e chão que nós, brasileiros. Putaqueopariu, que som! Uma nitidez sonora que enchia os ouvidos e o corpo de musicalidade e vibrações. E o que foi a apresentação? O palco? Uma banda dos anos 60 e 70 do rock psicodélico-progressivo que, além disso, é muito contemporânea. Um dos shows mais intensos que já pude ver/ouvir. Músicos de alto nível. Comunicação crítica e de conteúdo.  Três guitarras dialogando com excessos bem mensurados – até parece cotradição, mas quem viu/ouviu, acho que sabe do que estou falando. Como um também apaixonado por efeitos e timbres, foi um prato cheio e delicioso. Meu delírio misturado a minha razão deixou que as sensações surgissem a flor da pele. Um baixista monstruoso. Um saxofonista também (como tocava!). Um baterista que me trouxe a mente nuances de Bill Bruford (King Crimson) e Neal Peart (Rush), outro ‘monstro’. E o vocal, de setenta e tantos anos de idade, uma ‘lenda viva do rock’, também, até onde eu sei, fundador da banda Soft Machine (uma das grandes bandas do fusion rock-jazz mundial). Trata-se do mestre Daevid Allen que canta muito e se expressa com vigor e dinamismo frente ao público. Agradeço e parabenizo a organização do Psicodália, por ter trazido, entre outras, a banda Gong para nos ampliar os horizontes sonoros e musicais. Simplesmente magnífico! Que show! Cara... (piiiiiiiiiiiiiii)...











































*
Então... Depois desse dia e noite excessivos (no bom sentido), não sei ou lembro mais do que aconteceu. Só sei que... Do que eu falava mesmo?

Continua...


Mais imagens:































                                          eu, David Barros (Cadillac Dinossauros) e Liza...











4 comentários:

Julia Gross disse...

Lindas fotos e comentários! Traduz bem o espírito da coisa, além do olhar peculiar. Parabéns pelo trabalho!

Unknown disse...

Ficou muito boa esta parte (também). Parabéns pela cobertura!!!

Unknown disse...

Muito boa a cobertura. Parabéns pelo texto!!!

Liza disse...

Obrigado queridos!

satisfação!


Liza e Herman.