terça-feira, fevereiro 27, 2018

Psicodália 2018 - expressões artísticas em dias incertos...




Dias incertos e de golpes nos direitos trabalhistas, nas formas independentes de organização, na democracia, na humanidade, na vida... Dentro desta triste e violenta realidade pela qual passa o Brasil, movimentos artísticos de convivência e expressões como o Psicodália são formas de ‘resistência’. E este ano, mais uma vez, o festival se mostrou um espaço destas manifestações, destas expressões e resistências artístico-culturais, políticas e de gênero. Mais um festival intenso onde a arte se apresenta no seu mais amplo sentido. E vamos às impressões...


Quinta

Chegamos na quinta, um dia antes do início do festival. Final de tarde e a polícia montara uma barreira bem no início do caminho de terra que leva à fazenda Evaristo. Passamos batido, bem no momento em que a PM revistava um grupo pequeno de pessoas. Chegamos. Alguns minutos para as credenciais, um papo com alguns velhos conhecidos do festival que trabalhavam na portaria e já estávamos liberados e dentro da fazenda. Saudei fazendo sinal de reverência, a natureza e o festival, como de costume. Encontramos um bom lugar para acampar. Subimos as lonas e nossas bandeiras, no aguardo dos demais membros do Grupo Vertigem de Ações Poéticas e amigos/as que chegariam na sexta. Cansados da viagem bebemos algumas cervejas, rimos e conversamos bastante, até o sono chegar.




 

(Acampamento Vertigem - no Terreno Baldio)


Sexta

Acordamos alegres por estarmos no Psicodália. A 12ª edição minha e da Liza, 9 delas trabalhando na imprensa com fotos, textos e divulgação pré e pós festival, 2 delas tocando com a banda Epopeia e a primeira apresentando espetáculo com o Grupo Vertigem de Ações Poéticas (poesia, música e vídeo). Passamos o dia ajeitando uma coisa ali, outra aqui. Ajudando outros, bebericando, encontrando amigos de outras paragens e conversando. O povo aos poucos foi se chegando. Antes da noite nosso acampamento no Terreno Baldio já estava todo de pé. O festival inicia com um cortejo circense, acompanhado do público. Música, batucada, dança, malabares, caricatos, acrobacias, festa, carnaval! Com a permissão e benção dos Orixás, é iniciado ‘oficialmente’ o Psicodália 2018!
























Palco Lunar

A banda Carne Doce abre o Palco Lunar com seu som cheio de energia e bela performance, principalmente da vocalista. Na sequência é a vez da clássica Tutti Frutti, banda ‘clássica’ do rock nacional que teve Rita Lee (ex-Mutantes) como voz. Tocou clássicos de sua carreira que foram cantados pelo grande público. A banda pernambucana Mundo Livre S/A sobe ao palco com sua sempre energia e intensidade, fazendo um show de alto nível. Fred Zero Quatro comandando a levada do mangue beat que faz tremer o chão e vibrar o corpo nesta primeira noite do Palco Lunar.




                                (Tutti-Frutti)


                               
                                (Mundo Livre S/A)


Palco dos Guerreiros

Uma pausa para cervejinha e bate-papos, nos dirigimos para o Palco dos Guerreiros (que durante o dia é o Palco do Sol), e logo começa o espetáculo performático do Bloco da Laje. Curtimos, cantamos, dançamos, vibramos do começo ao fim, com as ‘incorporações’ e pontos para os Orixás e todas as liberdades possíveis que esta ‘trupe pagã e afro-brasileira’ de atores, atrizes, bufões, músicos e dançarinos/as possibilitaram. Um ‘manifesto’ político-cultural e artístico no palco. Arte e simbologias para apimentar o espírito, a vida o festival. Ainda no mesmo palco tocaram Machete Bomb e Kiai, bandas que não assisti, mas que renderam bons comentários de quem assistiu no dia seguinte. Encerramos nossa primeira noite no Saloon, confraternizando o momento, até o cansaço vencer e o descanso nos abraçar.



                               
                                (Bloco da Laje)


Sábado

Acordamos tarde. Um café e um momento meditativo. Bem acordados, ao trabalho! Muitos tiros (fotos), risos e conversas. O Psicodália é um lugar de convivência. Sim, como uma ‘comunidade’, onde as pessoas trocam ideias, conhecimentos, risos e se ajudam (na grande maioria dos casos, pelo menos).


(Palco do Lago)


Palco do Sol

Pela tarde, peguei um grande show. E a banda que eu não conhecia se chama: Orquestra Manancial da Alvorada de Florianópolis/SC. Um dos membros (como um maestro da banda), era de Xapecó e foi aluno do Mano, um grande amigo e colega professor e companheiro no Vertigem. Grande show! Musicalidade afinadíssima! Uma linguagem bem humorada e com crítica social. Elementos da soul music, jazz, MPB e música erudita em fusão e ebulição. Uma pausa para retomar as energias e refrescar o corpo com um chopezinho caprichado. E eis que sobe ao palco um mestre do blues nacional: Zé Pretim. Mais um belíssimo show, afinadíssimo. Blues e música popular. O blues man canta e toca sua guitarra com os dedos (sem palheta) magistralmente. Versões blues de clássicos como Asa Branca e músicas próprias fizeram do show um belo momento. O Psicodália faz um grande papel sócio-histórico e cultural, trazendo atrações como esta, de grandes artistas brasileiros desconhecidos de parte do público. Zé Pretim é blues, música brasileira. Zé Pretim é Brasil!





                                                                (Orquestra Manancial da Alvorada)




                                 (Zé Pretim)


Teatro

Depois do Zé Pretim, fomos assistir um espetáculo na tenda do teatro, que este ano foi uma tenda de circo. Espaço muito bem desenvolvido e dirigido pela querida Mayra e seu grupo de trabalho! Conhecemos, antes mesmo do espetáculo, Elton Meduna, o autor, ator e diretor da peça ‘Meros Mortais’ da Cia Pathos. Belíssimo espetáculo de cunho social que, pelo que pude perceber, é baseado num fato real externado ao público, a partir do assassinato do pai de Elton. Triste, porém poético, o espetáculo trouxe um profundo momento de reflexão em torno do nosso tempo atual e das violências que afetam a humanidade e o Brasil.




Depois do espetáculo teatral, iniciamos a noite com um role pela Rádio Kombi e suas divertidíssimas festas. Noite funk (soul) era a temática. Dançar um pouco, curtir a vibe e... alma pronta para a noite intensa que viria.



Palco Lunar

Abre a noite no Palco Lunar a banda Boogarins. Mais um belo show. Já conhecia a banda ao vivo quanto tocou no Morrostock 2016 (baita festival organizado pelo Paulo, batera da Bandinha Di Dá Dó), onde também tocamos com a Epopeia. Um show de psicodelia latente. Antes do show encontramos no rolê, o simpático baterista da Boogarins, com quem batemos um papo. Na sequência, um dos grandes nomes da música brasileira subiu ao palco, o Lô Borges, que foi parceiro de nomes como Milton Nascimento e Beto Guedes no Clube da Esquina, um grande clássico da nossa música. Lô Borges fez um show bom, porém, na minha opinião, um tanto ‘cansado’. Não se é esta a palavra, mas foi o que senti naquele momento. Mais pro final do show, tive uma emoção ao ouvir um clássico de que gosto muito: ‘Paisagem da janela’. Mais uma breve pausa e foi a vez da magnífica Bixiga 70. Um dos grandes shows do Psicodália 2018. Porrada sonora! Instrumental dos mais bem executados que já pude ouvir. Sensacional! Deu pra curtir, dançar e vibrar muito com a porrada sonora, proporcionada em grande parte pelo naipe de metais e percussões da Bixiga 70. Depois disso, um rolê, para um combustível.




                     
    (Boogarins)


















(Lô Borges)




















                                                                                                                           (Bixiga 70)


Palco dos Guerreiros

Não consegui ver/ouvir Consuelo, mas também ouvi muito bem falar dela. Cheguei ao palco e Mustache e os Apaches faziam seu show. Um belo show por sinal. Já havia visto um show da Mustache num festival, anos atrás, em Francisco Beltrão/PR. Folk, jazz, blues, com muita intensidade. Destaco, pessoalmente, a versão de ‘Os homens de preto’, música folclórica nativista gaúcha, gravada pelo conjunto Os Gaudérios (o qual tenho o vinil), executada com dignidade por Mustache e os Apaches. Encerrando a noite dos Guerreiros, a já ‘clássica’ no festival Apicultores Clandestinos. Rock Primitivo, algo de rockabilly e/ou psicobilly, punk Rock e hard core, ska e surf music, fizeram mais uma vez os Apicultores levantarem o público. Divertidíssimo e cheio de energia, para fechar mais uma noite nos palcos externos do Psicodália.




(Mustache e os Apaches)




                               (Apicultores Clandestinos)


Domingo

Oficinas

Acorda o dia em garoa. O sono persiste por mais algumas horas. Até que levanto e vou praticar um pouco de Tai Chi Chuan (estilo Yang) na oficina ministrada pelo sifu (professor) Mark, até que comecou a oficina de I Ching com o professor Miguel. Como praticante/estudante e professor de Kung Fu e Chi Kung, e taoista (filosoficamente falando), conhecimentos da cultura chinesa muito me dizem respeito. E a oficina de I Ching foi muito interessante. Aprendi coisas que, mesmo tendo certa noção da obra, não sabia. Inclusive, ler o I Ching com varetas. Agora preciso praticar para aprender bem. Enfim, uma boa oficina que rendeu boas discussões e reflexões.























Palco do Sol

Nutrir o corpo depois de ter nutrido o espírito e, algum tempo depois, o Palco do Sol abre com o show da Estrela Leminski e Téo Ruiz. Estrela é filha do grande poeta Paulo Leminski. A modo do pai, é uma artista da palavra. Escreve bem. Boas letras e composições musicais. Um show de boa musicalidade. O amigo Nicolas que também fotografa o Psicodália já faz alguns anos, tocou saxofone neste show (mandou bem, eim irmão?!). Um belo show, com boas reflexões e musicalidade. Aproveito a estiada e saio para um role. Fotografar o ‘cotidiano’ do festival é uma das coisas que mais gosto de fazer por lá. A tarde passa e a festa Noite Latina acontece em frente a Rádio Kombi. Dança e alegria. Um pouco de garoa. E segue a festa...
















(Estrela Leminski & Teo Ruiz)






















Teatro

Passava pela tenda circense do teatro e o Homem Banda se aprontava para seu espetáculo. Trata-se do gaiteiro e vocal da Bandinha Di Dá Dó. Sentei perto das crianças que enchiam de alegria o lugar e assisti o show inteiro. Chorei. Não de emoção ou tristeza, mas de alegria. Muito engraçado! O ápice foi quando o Homem Banda chamou duas crianças ao palco que acabaram sendo parte do espetáculo. Sem palavras para descrever tamanha diversão. Que o digam as crianças e os adultos que naquele momento, se misturavam aos risos e também eram crianças.





















(Homem Banda) e... 'Eéhh!'


Palco Lunar

Abrindo a noite no Palco Lunar, o grande Zé Ramalho mostrou porque é um mestre. Magnífico show! E o mundo desabando de água lá fora. Chuva intensa. Banda afinadíssima em grande musicalidade. Zé Ramalho cantando com seu vozeirão de sempre. Das mais populares às mais psicodélicas, um grande show. Talvez o show em que mais nos divertimos. O Vertigem todo junto, dançando, bebericando, cantando - e lendo poesias no meio do público nos momentos de intervalo. Demais! Mais pro fim do show, umas versões ‘Ramalhescas’ do mestre Raul Seixas fez todo o público cantar. Me emocionei por mais de uma vez, com a musicalidade e as letras de cunho poético-sociais de Zé Ramalho. Obrigado Zé!  Obrigado Amigos/as e companheiros/as de Vertigem! Obrigado Psicodália! E alguns encontros com velhos conhecidos, colegas de trabalho (imprensa, fotografia, etc.), artistas e afins, pessoas que somam-se ao espírito do festival.



                               (Zé Ramalho)























(Juliana Strassacapa, Francisco el hombre & Liza Bueno, Grupo Vertigem, banda Epopeia e imprensa)



(Ivan Santos, Herman Silvani e Adriane Perin: arte e imprensa reunidas na diversão e trabalho)



















(Ivan Santos, Liza Bueno, Adriane Perin e Taísa Rodrigues: arte e imprensa reunidas na diversão e trabalho II)


Um ar para respirar e sobe ao palco a já clássica no festival Confraria da Costa, com suas canções de pirata e outras destilações terrorífico-libertárias. Como sempre um belo show que fez o público dançar, pular, cantar, se encher de energia. Sempre a luz do show da Confraria é boa para fotografar, somado a performance e figurino, rende bons tiros.



















(Confraria da Costa)


Palco dos Guerreiros

Mudança de palco para mais um belo show: Pata de Elefante e seu instrumental visceral rico em timbres e dinâmica. Já é a 5ª ou 6ª vez que vejo um show do Pata. Sempre bom! Western, surf music com pitadas de blues e rockabilly, mais ou menos, referencia o som da Pata de Elefante. Bom demais!



                               (Pata de Elefante)


Segunda

Teatro

Dia do nosso espetáculo com o Grupo Vertigem de Ações Poéticas: ‘Barricadas Poéticas em dias incertos’. Acordamos perto das 9h para ver do palco e das necessidades para nossa apresentação. Cansados, depois votamos a dormir. Companheiros do Vertigem faziam o corre atrás do cenário. O dia passou entre fotos e conversas. Algum tempo antes da apresentação, a necessária concentração. Queríamos muito assistir o show da banda Som Nosso de Cada Dia, uma das minhas preferidas do rock brasileiro, onde tocou guitarra e cantou nesta empreitada, nosso amigo Marcelo Schevano (Patrulha do Espaço, Casa das Máquinas e Carro Bomba). Marcelo está produzindo o primeiro disco solo da Eliz Bueno, nossa vocal na banda Epopeia. Mas, devido ao choque de horários, não foi possível assistir ao Som Nosso. Depois encontramos o Marcelo e saímos dar umas voltas e beber umas cervejas pela fazenda. Também trocamos um dedo de prosa com a ‘seleção’ que compõe atualmente a banda Som Nosso: Pedrão, além do Schevano, acompanhado por membros da banda Terreno Baldio e Violeta de Outono. Imaginava que o show do Som Nosso seria mais tarde, pela noite, devido ao estilo musical e história da banda. Depois pensei que, talvez este horário realmente aponte certa ‘mudança’ de público do Psicodália, como ouço muitos dizerem (se bem que não vejo muito assim, mas, pode ter relação). Num passado não tão distante, mais bandas de rock psicodélico e progressivo tocavam no festival. Nos últimos anos, o festival trouxe mais a sonoridade ‘brasileira’ (o que também gosto muito e acho fundamental). Mas este é um assunto um tanto quanto complexo que podemos tratar, quem sabe, num outro momento. A questão é que fiquei me coçando para assistir tal espetáculo (o do Som Nosso de Cada Dia), mas, a arte nos chama para o palco...


















Produção de cenário do grupo Vertigem, com Maurício Sinski (foto: Isadora Stentzler)


Grupo Vertigem de Ações Poéticas: Barricadas Poéticas em dias incertos

Com intervenções poéticas pelo festival, leituras no Saloon, no restaurante, pelas ruas da fazenda e até no meio do público nos shows, as ‘ações poéticas’ foram acontecendo. E chegou a nossa hora. Com a integração da Mayra (responsável pelo teatro) e seu grupo de trabalho, montamos rapidinho o cenário e em alguns minutos iniciamos o espetáculo. De Rimbaud à Facção Central, passando por Hilda Hilst, Lira, J.G. de Araújo Jorge, Vange Leonel, Bukowski, Neruda, Mia Couto, etc., a poesia se fez, com música autoral e releituras, com vídeos e manifestações socioculturais destas linguagens integradas. Depois do espetáculo, alguns diretores/as, atores e atrizes, de outros espetáculos que nos assistiam, assim como público presente e membros da organização do festival e do teatro, vieram nos saudar pela apresentação. Alguns emocionados, como nós. O que nos faz acreditar que o espetáculo atingiu o coração, mente e espírito dos envolvidos. Só temos a agradecer ao público, aos trabalhadores/as envolvidos, ao festival e à Mayra que, carinhosamente apostou e somou nesta nossa empreitada poética. Muito obrigado!



           (Mano, do Grupo Vertigem de Ações Poéticas em intervenções pela Fazenda - no Saloon)











































                               (Grupo Vertigem de Ações Poéticas)  * fotos: Isadora Stentzler


Esperamos, sinceramente, que no próximo Psicodália, o Brasil tenha saído deste estado deplorável em que se encontra (no seu sentido político-ideológico, social e econômico), e que, por isso, o Vertigem possa voltar com novo espetáculo talvez, pelo menos, menos ‘duro’, mas não menos intenso e poético. No momento, fazemos parte desta ‘resistência’, junto ao Psicodália e seus vários artistas e trabalhadores/as que, como nós, pensa e pratica um mundo mais diverso e poético, onde cada um tenha o direito, a condição de ser e se expressar conforme sua necessidade. Enfim. Continuamos...

















Trabalhadoras e trabalhadores que fazem o Psicodália acontecer



Palco Lunar

Já era escuro lá fora quando saímos do teatro rumo ao acampamento. Depois de guardar cenário e instrumentos musicais, fomos até a frente da Rádio Kombi onde acontecia a festa Noite Balcan. Muita diversão e música do leste europeu. Em alguns instantes, já na frente do Palco Lunar, pegamos parte do show da Francisco, El Hombre. Mais uma vez, um emocionante (e emocionado) show, que botou o público pra cantar e dançar, deixando o recado da diversidade, como um manifesto, uma convocatória para aceitação das diferenças. Já vi uns 3 shows da banda pelo menos (entre Morrostock e Psicodália), e novamente, um belo show!



















(Francisco, El Hombre - com participação da banda Mulamba)


Role no Saloon. Tragos e estragos. Pizza dália (deliciosa!) para forrar o estômago. Aliás, este ano, a alimentação estava muito boa. Melhor do que todos os outros anos, principalmente o ‘prato feliz’. Bom demais! Enriqueceram no tempero. Preço acessível. Uma atração a mais para o festival. Pelo menos para eu, que como bem e tenho a comida como uma arte também. Algumas horas no Saloon, chovia. Dei uma escapada para ver um pouco pelo menos do show do Jorge Ben Jor. Confesso que não sou dos maiores fãs da sua obra (respeitadíssima!), mas, o tanto que vi/ouvi do show, posso dizer: que showzão, eim?! Bah! Altas vibrações. Grande musicalidade. O público vibrava a cada canção. Mas não pude ficar por muito tempo. Chovia demais e estava difícil entrar pra debaixo da lona, muita gente. Também não consegui entrar no espaço destinado a imprensa para fotografar. Mas, pude conferir um pouco deste belíssimo momento.



                                (Joge Ben Jor)


Voltei para o Saloon para mais algum tempo de confraternização entre amigos e companheiros/as do Vertigem. Até que fomos todos/as para o show da também ‘clássica’ no Psicodália Bandinha Di Dá Dó. Clown music. Um baita show! Com boas performances e muito humor. A Bandinha divertiu o grande público, como sempre. Ao final do show, o pertinente e contundente recado/manifesto do Paulo (baterista e organizador do Morrostock), contra a pressão dos ‘di bem’ (conservadores da região), polícia e do conselho tutelar sobre o público e o festival.





















                               (Bandinha Di Dá Dó)


Estado moralista e sua atuação hipócrita

Muito triste e indignante ver polícia e conselho tutelar questionando, com certa ignorância ou estupidez, as pessoas dentro da fazenda. Relatos com quem conversei, diziam que as abordagens tinham certo tom pejorativo, preconceituoso, discriminatório. Conselheiros tutelares escoltados pela PM, segundo relato, chegaram a tirar onda da ‘tenda da cura’, rindo-se e dizendo: ‘vão curar o que ali?’. Outros, relataram que os ‘moralistas’ provocavam: ‘você não acha impróprio, ou não tem vergonha de trazer seu filho num lugar como este’? Relatos também de revistas abusivas pelo lado de fora da fazenda. Ouvi falar de ‘constrangimento público’. É este o papel destas instituições? É este o nível das abordagens e do conhecimento delas? Não encontro outra palavra senão ignorância. Alguns preferirão estupidez, mediocridade. Olhem as fotos e verão o modo, a situação e lugar ‘terrível’ onde as crianças conviveram nestes dias. Um papel ridículo do Estado e suas instituições. A ‘operação’ poderia ser razoável se não fosse tão intransigente e os questionamentos tão medíocres. Penso que também seja reflexo do momento sinistro pelo qual passa o país, e que todos sabem (ou pelo menos deveriam saber). Mas o recado foi dado por tantos outros artistas que se manifestaram no festival. Nós do Vertigem, também deixamos nosso recado, nosso manifesto político e poético na história do Psicodália – e continuamos. E como bem disse o Paulo, é tempo de resistência. E a arte é um destes canais. Enfim. Resistimos! Contudo, nada que tire o brilho do Psicodália, que, além de arte, é um movimento de resistência frente a uma realidade muitas vezes absurda.

* Vejam só que absurdo, de como as crianças são 'mal tratadas, escravizadas e tristes' no Psicodália: 


























Dito e visto isso, frente a todo este ‘ataque’ às diversidades, encerro minhas impressões citando meu amigo bigodudo:

“O que não nos mata, nos torna mais fortes” (Nietzsche)

·         Impressões da terça-feira não foram possíveis pelo falto de voltarmos para o ‘velho oeste’ pela manhã, por motivos de trabalho. Queríamos muito ter visto Pedra Branca, Arrigo Barnabé, Tulipa Ruiz, Terra Celta y los hermanos uruguaios do Cuatro Pesos de Propina. Mas não deu. Então é isso. Até a próxima! Enfim. Não há fim... Continuamos...

Texto: Herman Silvani
Fotos: Liza Bueno & Herman Silvani


* Mais fotos:






















(Fabi do grupo Vertigem, Liza do grupo Vertigem e Epopeia, Jacir da banda Sopro Difuso e Jo da Cia Conta Causos)




























(Paulo da Bandinha Di Dá Dó e organizador do Morrostock e Herman do grupo Vertigem e Epopeia)






* continuam as fotos nos perfis pessoais de Herman e Liza no facebook...