segunda-feira, março 31, 2014

Psicodália de carnaval 2014: Parte V, parte final...





Terça, 04/03

Da barraca ainda se podia ouvir os resquícios da noite passada. Um som ao longe acordava o dia com alegria. O Psicodália, além de tudo, é um festival para resistentes. Os que resistem a enxurrada de produtos medíocres e massificados, impostos pela indústria da cultura e sua ideologia publicitária de mercado. Os que resistem ao enquadramento do tempo e do corpo e mente no tempo, na produção de coisas, meros produtos de consumo. Tudo no Psicodália, até os produtos de consumo tem algo para dizer, algum conteúdo, algo simbólico, linguagens. Acordar com um bom som tocando ao longe e saber que estamos num lugar onde prevalece o bom senso ou certa amistosidade entre as pessoas, alegra a vida. E este seria o último dia de shows nos palcos do Psicodália. Digo palcos, porque em outros espaços o som continuaria...





















Di Mello (Imorrível) – Palco Psicodália, 13h30min. aprox.


O ‘imorrível’ Di Mello sobe ao palco com uma banda de apoio composta por músicos de outras bandas do Psicodália, e alguns que pelo visto, o cantor/compositor trouxe junto. Formaram uma bela banda, diga-se de passagem, onde o suingue, o Black-soul-funk, comeu solto. Um show dançante e cheio de balaço, como poucos, que fez a galera dançar, cantar, sorrir, e pensar, sim, pensar. Um ‘Q’ de ‘marginalidade’ (no sentido ‘rebeldia’ e não ‘crime’, se é que me entendem?!), caracterizou também essa apresentação. Numa linguagem mais, digamos, ‘suburbana’ ou ‘racial’ (Black), Di Mello deixou seu recado e rica sonoridade, afirmando como ninguém sua origem e pra que veio. Uma baita apresentação desse mestre do soul brasileiro. Sem mais...







Almir Sater - Palco Psicodália, 15h. aprox.


















Enquanto uma tempestade se arma, o pantaneiro Almir Sater, acompanhado de boas parcerias, sobe ao palco, tímido, mas com muita musicalidade. Um homem de poucas palavras, tímido sorriso e muita música. Assim foi o show de Almir Sater. Entre canções velhas e novas, os ‘clássicos’, cantados em coro pela multidão que se abrigava em baixo da gigantesca cobertura em frente ao palco. Lá fora, vento e muita água. Passada a tempestade, o show continuou. A chuva veio e trouxe consigo novos ares, mais frescos e puros para a fazenda Evaristo. O pouco lixo no chão fez com que, depois da tempestade, tudo parecesse virgem ainda. Uma outra das boas características do Psicodália, é certa ‘consciência ambiental’ ou respeito com o espaço e com o outro. Muitas lixeiras espalhadas pela fazenda pelo pessoal da organização, faz com que o ambiente prossiga um tanto ‘limpo’ e apto para a convivência. Voltando ao show, Almir Sater cativou a galera com sua simpatia tímida, suas canções que falam da vida, das coisas simples e do mundo no interior. Um belo show com belas canções. Como foi bom ter visto/ouvido, ao vivo, pela primeira vez esse mestre, algo que eu almejava já a algum tempo. Enfim, mais um momento prazeroso e feliz.






























Sopro Cósmico - Palco Psicodália, 18h. aprox.



















Finalizando as atividades do Psicodália 2014 nos palcos externos do evento, eis que, mais um ano, sobe ao palco a banda Sopro Cósmico, um ‘power trio’ composto por bateria, saxofone e teclados. Um trio bastante virtuoso e dono de belas composições. Um baterista muito rápido e pesado, um saxofonista bastante dinâmico e um tecladista... Bem, um tecladista que é maestro, músico excepcional e performance. O cara (tecladista) toca demais! Quando digo demais, é muito mesmo! Um dos melhores que já pude ver/ouvir. No ano passado já havia curtido o show dos caras, e neste ano, novamente, fizeram o ‘dever de casa’. Não há como não lembrar ou relacionar com o trio Emerson, Lake & Palmer. A nível, a nível! Um show instrumental cheio de energia e boas performances, para encerrar as atividades com muita ‘classe’ dos palcos externos do Psicodália 2014. Acabamos fazendo poucos registros dessa banda, pois a loucura era muita e as baterias das câmeras eram poucas. Agora, o rock continuaria no palco livre, dentro do saloon. Demos um tempo na praça de alimentação para um chopinho e algum lanche, depois prosseguimos a empreitada no saloon.






















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Rachamos um bom churrasco na ‘cozinha comunitária’ com os amigos que sempre acompanham a Epopeia nas suas empreitadas, o Diogo, Augusto, Vigui, Douglas (entre outros/as), e os cariocas Jorge (Arcpelago), Ronaldo (Arqpelago e Módulo 1000) e o Fonzi. Entre um petisco e outro, um trago e outro, bate-papos sobre música, arte, política, filosofia, etc. Passamos algumas horas bem agradáveis ali. Já dentro do saloon, no palco livre, uma banda de punk rock mais, digamos, 'tradicional' ou direto. Para quem acha que o Psicodália segmenta, uma das maiores provas de que não. Punk rock nacional no palco livre, em pleno saloon, mesmo não sendo essa a 'proposta' do festival. No caso, e neste sentido, penso que a 'maior proposta' é esta mesmo, a 'diversidade' e as 'expressões' em movimento, integração. Depois, ainda tivemos a banda em que toca baixo um dos organizadores do Psicodália, o Alexandre Osiecki. Sei que ele toca numa banda chamada Cores Berrantes, e que se apresentou num dos palcos externos do Psicodália num dos dias do evento que, infelizmente, não pude ver. Mas não tenho certeza se era a mesma banda que tocava no momento no saloon. Ficamos um pouco por ali, curtindo o bom som dos caras e trocando ideias e nos divertindo com amigos, conhecidos e desconhecidos. Em frente ao saloon, mais um tempo de bons diálogos com o amigo Jacir (Sopro Difuso). A madrugada chega. O tempo passou e saímos dar uma volta pela fazenda, curtir os últimos momentos da última noite do evento, até o cansaço bater e o sono chegar...

Rock no Saloon (Palco Livre):








Quarta, 05/03

Psicodália 2014 de carnaval, Palco da Vida, em qualquer tempo...


Final de empreitada, último dia de Psicodália. Acordamos com uma garoa fina e um som agradabilíssimo vindo da frente do saloon. Ficamos por algum tempo deitados (eu e a Liza) ouvindo a sonzeira da barraca. Já era quase meio dia e o som prosseguia. Desarmamos acampamento com trilha sonora. Uma passada em frente ao saloon curtir o som dos caras e fazer mais algumas fotos pela fazenda até que o ônibus da excursão de retorno ao Velho Oeste chegasse. Lá pelas 14h. o bus chegou. Tomamos rumo. Chegamos em Xapecó a noite, um tanto cansados mas com a alma refeita, com novas referências e ideias musicais, artísticas, filosóficas, prontos para continuar integrando a vida, já aguardando a próxima edição do evento, as novidades e continuidades. Como membro da banda Epopeia, que já teve uma boa experiência e oportunidade em subir num dos palcos do Psicodália, quando tocamos na edição de ano novo 2013-2014, sendo uma das bandas que fechou os palcos externos do festival, não há como não ficar na expectativa de sermos chamados novamente, pois são festivais ou eventos como este que nos fazem seguir, bons e reais espaços e motivos para a existência e continuidades de bandas como a nossa, já que são as composições próprias que nos dão o sentido de ser. Enfim. Parabéns, mais uma vez, aos organizadores e ao público presente! Obrigado às bandas, artistas e amigos que nos privilegiaram com suas presenças e interações! Longa vida ao Psicodália! Até o ano que vem! E que essa Epopeia continue... Em movimento!























































































Enfim... Não há Fim!


Fotos: Herman G. Silvani e Liza A. Bueno
Textos: Herman G. Silvani