Domingo,
02/03
Um dia bonito. Fazia sol. Meio da tarde,
saímos da pousada e fomos dar um rolezinho pela estação de trem da cidade, onde
se encontra também um museu do trem, lugar histórico e muito bonito. De minha
parte, sou apaixonado por imagens e alguns objetos velhos, carcomidos pelo
tempo, cheios de marcas ou cicatrizes deixadas pelo tempo. Acabamos tendo sorte
e a máquina de ferro que parecia interminável, passou por nós, apitando,
fazendo o chão e o corpo tremer. Ficamos ali, por alguns instantes curtindo o
momento e dando alguns tiros (fotografando), depois pegamos a estrada rumo a
fazenda Evaristo, o dia seria delicioso. Domingo e uma luz incrível para
fotografar. Armas (câmeras fotográficas) carregadas e engatilhadas para alguns
tiros. Chegamos ao lago. O contexto: um bonito lago, pessoas, risos, fumaça,
algum trago, diálogos e tudo mais que faz um domingo ser bom, diferente daquele
marasmo que geralmente é um domingo na cidade. Talvez, tenha sido o dia em que
as imagens mais falaram por si só. Depois, sentamos na grama para uma peça
teatral de rua com o Cia Teatral Nós em
Cena, uma intervenção. Sob a sombra das grandes árvores, uma boa ‘estória’
com boas atuações, ora bem humorada, ora dramática. Mais um momento de arte que
se integrou na composição desta tarde iluminada do Psicodália.
*
Logo mais a noite, outra peça teatral, desta
vez com a Trouppe Putz Grillis e o
espetáculo ‘Toma!’. Algo mais
despojado, rememorando e brincando com os
filmes que tratam do Velho Oeste norte americano (os quais, desde a infância
assistia com meu velho pai, o que me fez gostar de cinema até hoje e de
diretores e compositores como Serge Leone
e Enio Morricone, possivelmente uma
influência para que eu me apaixonasse também pela fotografia e tivesse estes
como referências) com elementos regionais brasileiros e afins. Um momento de
diversão, troca de risos e algum trago de cachaça oferecido pelo grupo. Algumas
boas atuações, outras nem tanto, mas o importante foi a diversão, o trabalho e
a integração com o público. Nesses momentos, a pretensão e aquilo que se tem
como ‘profissionalismo’, não importam muito – ou em nada. Mais um alegre e
instigante momento do festival.
Yamandu
Costa
( e amigos) – Palco Psicodália, 21h. aprox.
Um mestre. Um ‘monstro’. Acompanhado de dois
outros ‘monstros’. Monstros dos instrumentos de corda mouros, trazidos para
América pelos espanhóis, e que no Brasil, de guitarra, virou violão. O gaúcho
Yamandu Costa e seus dois companheiros (um no violão outro no baixolão),
simplesmente, fizeram o público vibrar junto as cordas dos seus violões, num
show virtuoso, e mais que isso, de muita alma. Belíssimas e sofisticadas
composições próprias e de outros autores da música erudita e pampiana. E eu que
me criei em festas e eventos nativistas e gauchescos, sendo de família gaúcha e
tendo um pai que foi fundador de CTG (Centro de Tradições Gaúchas) e que me
orientou na declamação da chamada ‘poesia crioula’, adquirindo certo
conhecimento desse estilo musical e meio artístico-cultural, deixei que algumas
lágrimas molhassem meu rosto. Milonga e Chamamé, entre outros ritmos, entre o
popular e o erudito, o antigo e o moderno, deram a dinâmica de um show
magnífico. Um tanto de psicodelia e progressividade nas cadências, mudanças de
tempo (contratempos) e afins, com aquele fundo nativista, fizeram desse show
algo subliminar. E pra quem acha que ‘roqueiro’ não gosta ou não conhece
algumas raízes e/ou músicas acústicas, o Psicodália mostra o contrário. A
vibração e musicalidade de Yamandu e seus comparsas, se integrou ao espírito do
evento fazendo dele mais abrangente e eclético do que já fora um dia. Os
aplausos e saudações intermináveis no fim do show, só fizeram essa realidade e
a energia do lugar aumentar para o que viria. Yamandu Costa, o ‘Hendrix’ do
violão brasileiro, marcou a ferro e fogo o Psicodália, como nas velhas lidas
campeiras. Mais tarde, encontramos Yamandu no Saloon, e sem revidar, aceitou um
dedinho de prosa e um registro...
nosotros y Yamandu...
Confraria da
Costa
– Palco Psicodália, 22h30min. aprox.
Talvez a banda mais ‘clássica’ do Psicodália.
Se não me engano, desde a primeira edição do festival, vejo a Confraria
tocando. A banda que já se chamou Gato Preto é bem conhecida do público por
isso, além de tocar muito bem e ser cativante, e a cada vez que sobe ao palco
do festival, traz a energia típica do Psicodália. Tornou-se como uma ‘marca’ do
evento. Canções e histórias de pirata sempre me inspiraram, desde a infância.
Sempre fui fã dos ‘mestres e marujos malditos dos mares’, da marginalia
libertária que também envolve movimentos como o Cangaço brasileiro e o
Zapatismo mexicano. Rum, charuto e vinho passados de mão em mão aos amigos e...
Preparar... Apontar... Fogo!
Gong – Palco
Psicodália, 00h. aprox.
Um espaço de tempo depois da apresentação da
Confraria. Tempo para respirar, mas continuar com o Rum e o vinho. Entre um
trago e outro, um bate papo com as pessoas. Armas preparadas para mais tiros.
Mas não foi fácil fotografar a banda, outra atração internacional do
Psicodália, além do Jarrah Thompson.
E o que dizer do show do Gong? Alguém sabe por acaso? Eu não sei se sei,
portanto, terei que arriscar. Pra começar, o quesito técnico, ou seja, a
qualidade de som impecável. Os gringos, neste sentido, parecem ter mais
estrutura e chão que nós, brasileiros. Putaqueopariu, que som! Uma nitidez
sonora que enchia os ouvidos e o corpo de musicalidade e vibrações. E o que foi
a apresentação? O palco? Uma banda dos anos 60 e 70 do rock
psicodélico-progressivo que, além disso, é muito contemporânea. Um dos shows
mais intensos que já pude ver/ouvir. Músicos de alto nível. Comunicação crítica
e de conteúdo. Três guitarras dialogando
com excessos bem mensurados – até parece cotradição, mas quem viu/ouviu, acho
que sabe do que estou falando. Como um também apaixonado por efeitos e timbres,
foi um prato cheio e delicioso. Meu delírio misturado a minha razão deixou que
as sensações surgissem a flor da pele. Um baixista monstruoso. Um saxofonista
também (como tocava!). Um baterista que me trouxe a mente nuances de Bill
Bruford (King Crimson) e Neal Peart (Rush), outro ‘monstro’. E o vocal, de
setenta e tantos anos de idade, uma ‘lenda viva do rock’, também, até onde eu
sei, fundador da banda Soft Machine
(uma das grandes bandas do fusion rock-jazz mundial). Trata-se do mestre Daevid Allen que canta muito e se expressa
com vigor e dinamismo frente ao público. Agradeço e parabenizo a organização do
Psicodália, por ter trazido, entre outras, a banda Gong para nos ampliar os
horizontes sonoros e musicais. Simplesmente magnífico! Que show! Cara...
(piiiiiiiiiiiiiii)...
*
Então... Depois desse dia e noite excessivos
(no bom sentido), não sei ou lembro mais do que aconteceu. Só sei que... Do que
eu falava mesmo?
Continua...
Mais imagens:
4 comentários:
Lindas fotos e comentários! Traduz bem o espírito da coisa, além do olhar peculiar. Parabéns pelo trabalho!
Ficou muito boa esta parte (também). Parabéns pela cobertura!!!
Muito boa a cobertura. Parabéns pelo texto!!!
Obrigado queridos!
satisfação!
Liza e Herman.
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