domingo, abril 05, 2015

PARTE III – Parte Final



Acordamos tarde depois de um dia e uma noite cansados na correria, entre tiros (fotos), coletivas de imprensa, conversas, alguns tragos e estragos, risos, muita alegria e música. A garoa que ia e vinha mantinha a umidade em alta na Fazenda Evaristo. Mas a agitação não parava. O dia passou como um raio, rápido, intenso e cheio de energia. Quando vimos já era noite. Em breve um dos shows mais esperados do Psicodália.

Ian Anderson subiu ao palco com sua banda para um show que foi demais! Tocaram, sob o som da flauta muito bem tocada de Ian, clássicos do Jethro Tull que levaram o público ao ápice, dançando e cantando tudo com muita alegria e integração. Um baita show como haveria de ser, por mais que a voz de Ian não esteja tão boa, ele, com maestria, cantou e deixou sua característica no ar, sob tudo, com o uso da flauta e suas performances no palco. Um grande show para um grande público e um grande festival.










O próximo show que abrilhantou a noite foi o da já também ‘clássica’ do festival, Bandinha Di Dá Dó. Uma trupe-quarteto de palhaços que sempre fazem um show divertido e inusitado, com boas performances e musicalidade. Um show intenso, divertido e com muita interação entre banda e público, que fez a plateia dançar, cantar, gritar, pular, correr, se mover e rir. Ao som da gaita, das piadas e ‘sacanagens’ (no bom sentido), o rock-teatral e circense da Bandinha sempre traz um forte tempero humano ao festival, no sentido de fazer com que as pessoas integrem-se entre si e façam da alegria um estado de espírito que se soma ao clima do Psicodália. Enfim. Demais!


















Um role depois do show da Bandinha para descansar um pouco depois de tanto dançar e se divertir. Alguns tiros, tragos e conversas. Era alto da madrugada e o Palco dos Guerreiros (Palco do Sol de dia), foi ocupado pelos timbres e a visceralidade da banda Centro da Terra. Já conhecia esta banda de ‘outros carnavais’, literalmente. Baita show, pra (não) variar um pouco. Pegadas a la Hendrix e Clapton (nos tempos do Cream) na guitarra, acompanhada por uma baita cozinha. Algo de blues, psicodeia e até garage rock fazem do show do Centro da Terra um show de rock no sentido mais visceral da palavra. Uma porrada sonora para fechar a noite, pelo menos pra nós, já que o Palco dos Guerreiros não era mais no Saloon, infelizmente. O Saloon é um lugar muito legal, onde a galera que ‘sobra’ da noite vai para confraternizar e curtir o ambiente. Porém, neste ano, mudaram e fizeram do Saloon um restaurante, o que tirou seu aspecto ‘artístico’ e de confraternização dionisíaca. Torço para que ele volte a ser o velho Saloon, onde encontros inusitados e muita alegria enchia aquele espaço – ainda enche, mas de uma forma mais, digamos, ‘formal’. Enfim... ‘Volta Saloon!’.











 






 Terça, 16/02

Um tempo de bom sono para o último dia do festival que viria. Acordamos, novamente, tarde, mas entusiasmados para ver/ouvir o grande mestre Arnaldo Baptista (ex e eterno Mutante), entre outras atrações. Meia tarde, era chegada a hora do show e o Palco do Sol lotado. Todos esperando o mestre aparecer. Um piano de calda, telão com suas obras de arte projetadas e muitas flores criaram o aspecto do espetáculo do gênio Mutante. Público eufórico e eis que Arnaldo finalmente sobe ao palco. Muitos aplausos e gritos pelo seu nome. Começa o show com a música ‘Lóki’, tema do seu disco pessoal mais emblemático e um dos meus preferidos do rock nacional. Foi difícil não se emocionar vendo e ouvindo o mestre tocar e cantar. Praticamente o show foi um ‘medlei’ de muitas das suas composições só no piano e voz, em versões bem pessoais e diferentes das dos discos. Arnaldo esbanjou alegria, simpatia e simplicidade, porém, com uma pegada única, onde cada nota do seu piano era como uma agulhada profunda porém sensível no coração. Agulhada que injetava algo de caos, poesia e vida no corpo. De uma ‘tristeza’ poética a uma alegria vital, o show do mestre Arnaldo é algo muito próprio de alguém que vive e ama o que faz, para além dos conceitos e regras musicais. Arnaldo é pura expressão e corpo, alma e poesia, caos e sensibilidade. Durante todo o show tive meus olhos lacrimejantes e minha boca sorridente, o que não foi diferente para parte significativa do público que cantou junto ao mestre. Mais um sonho realizado, o de conhecer e conversar pessoalmente com Arnaldo e poder ver/ouvi-lo no palco. Obrigado pela sua música, sua arte, sua presença, sua luz... Mestre Arnaldo!












Alma cheia, saímos para uma volta pela Fazenda, felizes da vida! Cai a tarde e começa no Palco Lunar a também ‘clássica’ banda do festival Cadillac Dinossauros. Diferente dos outros anos, por ser uma banda que se move bem no palco, portanto, boa de se fotografar, este ano não conseguimos tal feito, mas ouvimos de longe e depois de perto parte do seu belíssimo show. Não há muito o que dizer desta banda. Aliás, há sim, mas o mesmo de sempre – no bom sentido: Uma banda muito boa e que já faz parte da história do Psicodália, desde a primeira vez que fomos ao festival, por volta de 2007, quando ele ainda acontecia em São Martinho. De lá pra cá, Cadillac mudou, mas continua com seu show porrada e cheio de vibrações positivas, um tanto dançante um tanto pesada. Bom demais!















Passado um tempo, eis que sobe ao Palco Lunar uma das bandas que tinha imensa curiosidade em ver/ouvir ao vivo. Quer dizer, não foi a banda quem tocou, mas um dos seus integrantes mais emblemáticos, o Próspero Albanese que cantou Joelho de Porco, uma das bandas mais irônicas da história do rock nacional. Conhecida também como o primeiro ‘punk’ brasileiro, Joelho de Porco é uma banda bem ‘política’, no sentido crítico da palavra. Letras ácidas e um rock dinâmico que vagueia por outros ritmos. Quase teatral, Próspero e banda tocaram clássicos do Joelho de Porco, o que levou o público a loucura. Bom demais! Um dos grandes shows do Psicodália, e Próspero, um puta vocal, ainda! Banda que toca muito bem com vocais que cantam muito bem, e para concluir, com composições muito boas. Simples assim. Baita show, baita momento que também vai ficar na memória e história.












Depois do show, fomos para o restaurante onde a festa continuaria com apresentações musicais e teatrais. Subimos até a sala de imprensa para fotografar e assistir lá de cima os espetáculos, além de curtir os últimos momentos da nossa estada no festival. Ficamos um tempo. Conversamos com amigos/as e pessoas, nos despedimos pois sairíamos cedo ainda pela manhã, comemos algo, bebemos chope e café. Além do cansaço a felicidade por fazer parte de um todo, de um trabalho, espaço ou lugar onde a arte e a música são os elementos integradores entre as pessoas. Um pouco tristes por saber que o festival estava terminando, porém, alegres e realizados por mais esta empreitada fotográfica, artística, musical e humana.

























Perto do meio dia, desarmamos acampamento e depois de alguns minutos já estávamos na estrada. Uma viagem um pouco longa e estávamos em casa, com a sensação de, mais uma vez, estarmos vivos e ativos, pertencendo a algo que muitos não tiveram ou não tem a oportunidade de saber/conhecer, enquanto outros simplesmente ignoram. Um lugar, tempo e espaço onde as linguagens artísticas dão o tom desta estada. E é pra lá que nós vamos a mais de oito anos, todos os anos, trabalhando, registrando, curtindo, tocando. Enfim. Até a próxima Psicodália!






















com os amigos Jorge e Ronaldo da 'Arcpelago'.


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Fotos e textos: Herman G. Silvani

Fotos: Liza A. Bueno