quarta-feira, maio 30, 2012

Conceitual...



Trecho de entrevista concedida à revista ‘Contexto Musical’ por Herman G. Silvani, o Niko, compositor e guitarrista da banda Epopeia:

 *   Ao ouvir Epopeia não dá pra não lembrar do rock progressivo, além do psicodélico e de um rock mais garage, também do que se faz atualmente no rock, por assim dizer. Mas, então, se existe, qual é a relação da banda Epopeia com o rock progressivo?

HGS. Às vezes nos confundem, ou relacionam a banda com o rock progressivo, o que não é de todo errado. Mas o fato é que, principalmente, a gente gosta de tocar, de experimentar. Nos divertimos ao tocar, essa troca de energia entre nós, seja no quarto de ensaio quanto no palco, entre a banda em si e a banda com o público. E há um atao de sinceridade nisso. Sendo assim, é evidente que as divagações sonoras em torno de certo experimentalismo surte efeito, o que acaba indo para as músicas na hora de compor. Referente a comparação que fazem do som da banda com o rock progressivo, não nos vemos dentro desse ‘estilo’. Mas isso não significa que não temos certa influência, nem que negamos isso. Mas... digamos que Epopeia é uma banda que não perdeu ou abandonou a ‘dinâmica’. Não aderimos à economia musical ou a minimalização das possibilidades, essa característica forte do mercado e da arte ou cultura submetidas a ele. Bebemos de muita coisa. Além da música, a literatura, poesia, cinema, fotografia, filosofia, artes plásticas e visuais, etc. Gostamos do Caos, da diversidade, e isso acaba refletindo na hora de compor e produzir. Epopeia é uma banda ‘estética’, sonoramente e visualmente falando. Não seguimos tendências, mas estamos sempre atentos a elas e aquilo que elas podem nos oferecer de bom, nem somos adeptos das ‘facilitações’. Gostamos de ‘trabalhar’ neste caso. Talvez, e muito provavelmente, Epopeia está, no mínimo, entre as bandas mais dinâmicas da cidade e região. Temos uma boa abrangência por isso. Bebemos de vários períodos do rock e da música no geral, o que nos faz ter também um ‘público’ ou fãs e admiradores do nosso trabalho, bem diversificado. Desde a garotada da geração mais nova (entre 12 e 15 anos), passando pela juventude dos 15 aos 30 anos aproximadamente, e adentrando no mundo adulto dos 30 pra cima. Talvez, isso se dê ao fato de termos essa ‘dinâmica’ no som, essa linguagem mais universal nas nossas músicas. Não nos vemos como simplesmente uma banda de rock a subir num palco e tocar músicas que agradem e façam dançar o público. Prezamos por certa atitude, certa postura, e isso também faz parte dessa ‘dinâmica’. Bebemos do punk ao progressivo, passando principalmente pelo acid/psicodélico, pelo garage rock, e até algo de música latina, jazz e soul music. E se for necessário alguma localização para referenciar o ‘estilo’ musical da banda, estamos mais próximos ao que podemos chamar de ‘rock contemporâneo psicodélico’, devido a nossa liberdade de experimentação mesmo.



A força do rock xapecoense autoral-independente e seus agentes

Final de semana passado tivemos uma cidade cheia de rock e afins. Na sexta, tudo iniciou para nós, com um espetáculo de Jazz no teatro do SESC. Banda xapecoense com composições próprias. Isso mesmo, Jazz da casa. E que Jazz! Putaqueopariu! Logo mais a noite, o rock rolou com a banda St. Joker no The Wall, casa cheia e uma bela festa. A banda muito bem afinada e com músicas porrada! Tirou a galera do chão, literalmente! E sem precisar apelar para o chavão: ‘Sai do chão!’. Ainda na sexta, a banda Dazantigas tocou no Premier Bier com a banda gaúcha Tenente Cascavel, uma união de alguns membros das ‘clássicas’ TNT e Cascaveletes. Ouvi dizer que a festa também foi boa. Já no sábado, tivemos a banda curitibana Mordida, num belíssimo show no teatro do SESC pelo projeto Unocultural. A banda desfilou suas canções compostas em anos de estrada e outras do mais recente disco. Uma ‘fabricação’ de belos timbres e arranjos eletrônicos muito bons. A Mordida é um trio, composta por nada a mais nada a menos do que Paulo de Nadal, também conhecido por essas paragens como Girino, primeiro baixista da banda Repolho. Paulo também já foi conhecido por aqui como Paulo Baruio, quando tocava em bandas punks da cidade. Algumas delas foram a épica banda de hard core Atta Sexdence, Chimia e Orelha de Pau, se não me equivoco. Portanto, Paulo tem história de rock aqui na cidade, desde os finais dos anos 80 pelo menos. Outro componente da banda é o baterista Ivan Rodrigues, filho do grande vocal falecido a pouco tempo da banda paranaense Blindagem - trata-se de Ivo Rodrigues. E com um baixista que manda muito bem, a Mordida mostrou para que veio. Ainda no sábado, fizemos uma parceria com a banda xapecoense que agora está estabelecida em Curitiba também, os Red Tomatoes, e fizemos a festa com Tomatoes e Epopeia no The Wall. Casa cheia mais uma vez e uma bela festa. Red Tomatoes iniciou em meados dos anos 90 aqui em Xapecó. Lembro muito bem quando dividíamos o palco. Na época, tínhamos a banda X-Meleka, um trio punk-ska-hc, que contava com Wlady no baixo, eu nos vocais e guitarra e Giva na bateria, hoje baterista dos Tomatoes. A banda conta com a dupla Michel no baixo e Silvio na guitarra e vocal, da formação ‘original’ dos Tomatoes. O outro guitarrista, tecladista e vocal da banda é o Fernando de Nadal, irmão do Paulo (Mordida). Esse intercâmbio entre bandas de cidades diferentes proporciona uma troca de experiêcias muito interessante. Daqui uns dias é nossa vez de pegar a estrada até Curitiba para tocar, e quem sabe, dar uma esticada até São Paulo. Bem, são planos futuros que ainda estão sendo desenhados. Por enquanto temos outros compromissos por aqui, além das produções e projetos em vista. Ainda na noite de rock no The Wall, a gurizada da rádio online ‘rock alternativo’ aqui mesmo de Xapecó, entrevistou com muita informalidade e certo bom humor pessoas chaves que movimentam a cena independente da cidade. Roberto Panarotto (Repolho), Faccio (Variantes), Paulo Cruz (Ultraleve), Ivan Rodrigues (Mordida). Até eu deixei minhas impressões no gravador do Manga e do Leandro Rossetto, vulto Gnomo. Tudo isso somando para o fortalecimento de uma cena que, meses atrás, parecia estar enterrada. Mas não, o rock xapecoense autoral e independente volta com energia, boas bandas, composições e produções. Eventos de rock estão acontecendo por toda a cidade. Este ano a coisa está funcionando muito bem. Foi o Grito Rock com o Entrevero e bandas afins, um sucesso de público e troca cultural entre as bandas e participantes, todas autorais e independentes, as noites no The Wall, o projeto Rock for friends no Premier, onde Epopeia tocou pela primeira vez a poucos dias, divdindo o palco com a Marujo Cogumelo de Xanxerê, e foi incrível – onde o público vibrou mais nas nossas músicas do que nas releituras ou versões que fizemos de outras bandas. A continuidade do projeto Unocultural em parceria com o SESC Chapecó, o programa Estudio A da Unochapecó, a rádio Alternativo Rock, entre outras iniciativas e espaços.


















Epopeia no Rock for Friends - Premier Bier

No domingo os Red Tomatoes tocaram no teatro do SESC  pela Unocultural também. Eu, a Ina Neckel, diretora do GTEU (grupo de teatro da Unochapecó) e a Liza, produzimos o palco do show dos Tomatoes no SESC. Uma experiência nova para mim, já que só havia produzido nosso próprio palco das apresentações anteriores naquele teatro. E posso lhes dizer, dá um puta trabalho! Mas é gratificante, quando você vê que a coisa surtiu algum efeito. A Ina fez a luz e nós bolamos os elementos que criariam o aspecto visual do show. E que belo show, diga-se de passagem. Os Tomatoes mandaram muito bem. Particularmente, foi o show que mais gostei deles até hoje. O projeto Unocultural continua por 2012 adentro, nos trazendo boas atrações. Os espaços do rock nas casas de shows da cidade também continuam. Projetos de discos e video-clipes das bandas independentes estão sendo gravados, assim como pesquisas acadêmicas e produções em torno das bandas estão acontecendo. Festivais acontecendo pela região oeste. E o rock xapecoense vivo como sempre esteve, desde os tempos de Tito Livy e do Grupo Nozes - de meados dos anos 70 até hoje.



















Epopeia no The Wall rock bar


Isso tudo me fez lembrar de algo que já havia esquecido, quando um tempo atrás alguém se arriscou a falar/escrever sobre ‘a situação do rock chapecoense’ – até aí, tudo bem – porém, pretenciosamente, criticando de forma mesquinha algumas bandas e o projeto Entrevero de Rock e seus agentes, sem as devidas análises e considerações, talvez pela falta de compreensão do todo e falta de conhecimento do que tratava. Entrei no ‘debate’ na tentativa de problematizar um pouco a questão, já que esta estava limitada ao simplismo reducionista de um discurso, no mínimo, infundado. Por falta de argumentos relevantes e pela incapacidade de discutir a nível das idéias e do conhecimento, acabei virando ‘alvo’ das críticas, dores e frustrações do sujeito que, até hoje, volta e meia, quando ouve ou lê meu nome por aí, põe o dedo na própria ferida, estimulando sua infecção. 



















Encontro-esquenta de seres 'inoxidáveis' em noite de rock: Niko, Giva (Red Tomatoes),
Faccio (Os Variantes), Liza & Guto (Xanxerê)...


E já que o assunto é a ‘situação do rock xapecoense’ hoje, só posso falar enquanto membro e compositor de uma das bandas autorais da cidade que promove suas próprias músicas, e digo, o rock independente e autoral xapecoense vai muito bem – obrigado! – como há muito tempo não acontecia, graças a soma de valores, qualidade e persistência na produção, ousadia e vontade das próprias bandas em juntar forças e somar nessa ‘luta’, nesse ‘grito’.

Viva o rock autoral independente!

Herman G. Silvani