Noite dessas, um calorão, depois de me empanturrar numa pizzaria da cidade e de algumas cervejas, cheguei em casa e liguei a TV, como de costume. Quase que diariamente faço isso. Dou uma ligadinha no aparelho só pra conferir o que anda rolando. Isso me ajuda a ter assuntos diversos na hora de escrever minhas crônicas para o jornal. Dou de cara com um ‘especial’, novelinha teen ou algo assim, que levava o nome de ‘Tal filho, tal pai’. E lá estavam os dois, na telinha da Globo. Fiuk e seu pai Fabio Júnior. Ia mudar de canal quando vi o ídolo teen num palco representando uma banda de rock, com discurso rocker e tudo. Na ‘estória’ do programinha, Fiuk era o vocal estereotipado de uma banda de rock estereotipada que estava no palco abrindo um show de axé. Sob vaias, uma mulher de peruca loira elevou um discurso ‘radical’ para a platéia enfurecida, um chavão clássico que diz mais ou menos assim: ‘Que violência é essa? Essa é uma banda de rock and roll, e rock and roll é paz e amor!’ tentando acalmar a platéia que esperava o show de axé e vaiava a dita banda de rock, arremessando copos e papéis sobre o palco (e que encenação de quinta categoria!). De uma hora pra outra, quando a banda começa a tocar seu tal ‘rock and roll’ (uma balada medíocre, ‘fiukiana’), a platéia de irada passa a adoradora, cantando em coro a canção. Nunca foi tão fácil e rápido uma banda de rock conquistar seu público. Depois do sucesso, o foco do programinha, Fiuk, acaba ‘pegando’ a Alessandra Negrini (a atriz que fez ‘Engraçadinha’, texto de Nelson Rodrigues, num seriado para a televisão), bem mais velha do que ele, despertando com isso o ciúme das outras garotas apaixonadas pelo ídolo. Uma mulher mais velha sendo ‘pega’ por um garoto que poderia ser seu filho - uma espécie de tentativa de atingir um público mais ‘adulto’, algo assim. Com o ídolo pop teen do momento, Justin Bieber, está sendo assim também. Uma sacada dos empresários e produtores para abranger mais público, creio eu. Crianças e/ou adolescentes ‘pegando’ mulherões. Muita coincidência disso estar acontecendo em locais diferentes e ao mesmo tempo, não é? Fiuk acabou de se lançar à carreira solo, portanto, nada melhor do que vinculá-lo mais vezes na programação da rede de TV que o criou. Melhor ainda, colocá-lo ao lado de seu pai, o já estabilizado cantor Fábio Júnior. Tudo soma. Talvez, por não ter um termo apropriado, é que chamo isso de ‘fabricação de ídolos’ (se alguém tiver um título melhor ou mais apropriado, eu agradeço!). Teve um momento no programinha, que Fiuk, numa conversa com o paizão na beira da piscina, abre uma revista que traz um texto em que sua banda é chamada de ‘bandinha teenager’. Ele não gosta, pois ‘não é verdade, e sua banda é uma banda madura, incrível, do mais visceral rock and roll’. Tudo muito apelativo. Tudo muito ideológico, pensado, com objetivos obscuros aos mais ingênuos e desavisados. A Globo e seus eleitos, seus produtos. Para os que acham que estou sendo cético demais, devo perguntar: Mas como não se posicionar frente à tamanha imbecilidade que tenta transformar tudo em produto de consumo, vendendo idéias mentirosas que mostram, por exemplo, como uma ‘banda de rock’ sai da garagem e atinge o grande público pelo próprio esforço e qualidade musical (como se fosse só isso, e tão fácil assim). Se isso é uma questão político-ideológica, que toma os espaços que se dizem ‘democráticos’, elegendo alguns e aniquilando outros, conforme seus interesses mercadológicos e políticos, assim, não permitindo que a diversidade artística e cultural aconteça na grande mídia (a não ser no discurso – mas não na prática), canalizando e induzindo, desta forma, o acesso dos ‘bens culturais’ a população conforme os interesses do mercado. Então, como ficar alheio, consentindo tamanha farça? Em tempos de discurso e das pseudo-igualdades de condições e oportunidades, do ‘deixa disso’, da imposição de gostos e valores, da publicidade ideológica de mercado e do predomínio do inconsciente coletivo, posicionar-se, manifestando questionamentos, se faz extremamente necessário, para que tudo não termine em mero entretenimento e na bestialização artística e cultural do ser humano.
3 comentários:
fiz o mesmo ontem. me assustei, confesso. fiquei pensando o que levou Alessandra Negrini, A Engraçadinha, a cair tanto. De Nelson Rodrigues a Fiuk, é uma queda considerável. Falo em Nelson, porque o papel de Alessandra que me marcou foi esse, da Engraçadinha. poxa, e foi um baita sucesso. uma adaptação da obra de Nelson Rodrigues que, além de tudo, cativou o público. bons atores sendo usados para esse tipo de produção. deve rolar muita grana mesmo.
ah, com certeza.. grana é 'tudo'! mas ela é uma 'boa' atriz (no sentido.. ah, deixa prá lá!!)..
ah, com certeza.. grana é 'tudo'! mas ela é uma 'boa' atriz (no sentido.. ah, deixa prá lá!!)..
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