Uma máxima diz que ‘a voz do povo é a voz de Deus!’ Outra já diz que ‘toda a unanimidade é burra! (ou toda a maioria)’. Ficou com a segunda opção.
Terminada a primeira fase do concurso Band me Up (iniciativa da escola de línguas Yázigi), que visa produzir uma banda para o ‘sucesso’, nenhuma surpresa. Participamos já sabendo um pouco como seria (pois já participamos de outros semelhantes), e nossa chance seria mínima (sem hipocrisia, pois a maioria das bandas de rock como nós, lutam arduamente por seu espaço, onde ser reconhecidas e sobreviver da sua arte é o objetivo, mas sem apelar nem cair em modismos). Abrir voto aberto ao grande público, do jeito que as coisas estão, é óbvio, ou quase, saber do resultado. Tudo deságua no comércio, no dito mercado ‘cultural’. É só ouvir as bandas que se classificaram (pelo menos a maioria delas – salvo uma ou duas), e ver/sentir a falta de criatividade e de conteúdo artístico do som e principalmente das letras. Rimas pobríssimas e conteúdo ‘zero’. Levou quem se mobilizou mais, quem destinou certo tempo a isso e quem teve mais votos pelo ouvido danificado da maioria dos votantes. Melodias e construção musical óbvias demais. Nenhuma surpresa, nenhuma novidade, nada! Tudo muito repetitivo. Tudo isso, devido a falta de audição, falta de conhecimento musical-cultural-artístico, da pouca exigência de parte significativa dos jovens que vivem grudados na internet, rádios e/ou televisão, da mídia que propaga essas sonoridades ‘fabricadas’, miseráveis em quase tudo. Antes que digam qualquer besteira, não estou aqui ‘chorando mágoas’, pois , como disse antes, devido ao rumo que o ‘rock’ mais pop e/ou comercial tomou no Brasil, é fácil saber resultados quando a votação é aberta. Mas qualquer conhecedor musical ou pessoa que tenha um pouco de senso crítico, percebe, ao ouvir as bandas participantes, que a grande maioria pelo menos, é muito limitada, artisticamente falando. Não sei onde entraram os jurados nisso tudo. Muito menos quem são, nem dos seus critérios (mas imagino!). Composições efêmeras, geralmente levam o porco pra casa! Das boas, entre as 10 classificadas, uma ou duas tem algo que dá pra explorar, artisticamente falando (falo aqui da questão cultural, artística e musical, e não do potencial mercadológico, que fique claro – música, muito além de produto, é arte, e produto por produto, é efêmero). Mas antes que eu me esqueça, parabenizo a banda xapecoense Regina, que meu primo e guitarrista Maurício toca. A gurizada é gente boa e tocam legal, além de estarem abertos auditivamente a outras sonoridades e estilos. Talvez uma das poucas que mereçam a classificação pelo empenho, certa musicalidade e buscas pessoais. São novos e se mostram disponíveis a crescer artisticamente (torço e espero que assim seja!). Voltando ao tema, infelizmente hoje, até a ‘qualidade’ e a musicalidade são submetidas ao mercado, a publicidade e a produção. Se vende mais estética humana e pessoal do que música: cabelos, rostos, roupas, cores. A música está em segundo ou terceiro plano. E nesse concurso mesmo, de rock, teve muito pouco ou quase nada. Aí entra uma definição histórica do que seja rock: atitude e ousadia, mas principalmente, rebeldia. Mas não aquela rebeldia meramente estética, forçada. Não maquiagem nem teatro de rebeldia, nem rebeldia virtual, de twitter, Orkut, internet, sem causa, mas a rebeldia característica, do modo de se posicionar, da linguagem, que acontece mais na estética sonora, depois no palco, nos timbres e letras, por último no visual. O rock, historicamente, sempre trouxe letras razoáveis, quando não, muito boas (no mínimo críticas), ou pelo menos com um sentido mais amplo e profundo, bem diferente dessas bandas modistas atuais a La Restart e Cine, que só choram suas lástimas e escrevem de forma medíocre sobre assuntos intimistas e banais. Desculpem, mas isso tá mais pra sertanejo universitário do que pra rock! Ou o que define o rock é a distorção de um pedal? Acho que não! Nada pessoal, mas não digo (escrevo) isso por sacanagem nem por desabafo ou mágoa, mas porque pesquiso, ouço, estudo, portanto conheço, mesmo que parcialmente, como funciona a indústria da cultura, seus modos e ideologias e o que isso gera (e não sou só eu). Não que o rock tenha morrido, mas ele não está tão descaradamente no ‘gosto popular juvenil’, como já foi outrora. A maioria das bandas que ganham em votações abertas, prêmios televisivos e etc. (a maioria e não todas! Aliás, quase todas!), são produtos de uma cultura estúpida e medíocre. E o Brasil, consome isso tudo sem sentir o sabor. Lixo cultural e enlatado. Pior de tudo, é o rock sendo usado como discurso e/ou bandeira para essas falcatruas de produtores-empresários que vendem ilusões. Em defesa de algo que conheço, pois vivo essa realidade de dentro, digo que isso não é rock. Isso é qualquer outra coisa, mas não rock. Não preciso me estender mais tentando explicar. Agora, antes de qualquer questionamento vazio, liguem um disco do Restart, Cine e similares, ouçam algumas das bandas deste concurso, depois tirem um tempo para ouvir um Pink Floyd, The Who, Beatles, Mutantes, Patrulha do Espaço, etc., e para não dizerem que sou retrógrado, pode ser também, Raconteurs, Mars Volta, White Stripes, Radiohead - no Brasil, Cidadão Instigado, Teatro Mágico, Confraria da Costa, Sopro Difuso, Ruído/mm, entre outras bandas atualíssimas, e se forem aptos, comparem, levando em conta TUDO. E verão que a única coisa que faz as modistas serem famosas, é justamente o que assassina a arte, ou seja, o produto em si, confeccionado, para ser ‘bonito’ esteticamente e não bom musicalmente. Assim se cria uma geração de amor cego, digo, surdo, ligada a imagem atrelada aos meios de comunicação. A música interessa muito pouco neste caso. A maioria dessas bandas da moda, não faz musica-arte e sim musica-produto, seguindo ordens de mercado e produtores que, através de investimentos, enriquecerem a si e aos meios. As bandas ficam com a fama e os restos, além de servirem de instrumento de manobra, destinados a massa alienada que se empanturra com toda essa parafernália cultural-industrial. Sei que estou sendo um pouco duro, mas minha posição aqui é política, de quem estudou e estuda, ouve e conhece, de quem luta por uma justiça para com a arte, contra o que é fabricado e empurrado goela abaixo pelos meios - e não posso ficar alheio a tudo isso, senão daqui a pouco, tudo se naturaliza e as coisas que realmente são boas deixam de existir, sendo que, quando as modas passarem (como esse modismo colorido-emo-jovem-contemporâneo-pseudo-rock-metal-hardcore), vai prevalecer o que realmente tem personalidade, certo estilo e voz própria. Critico por que posso e sinto a necessidade, mesmo sabendo que isso tudo é passageiro. Portanto, aproveitem a onda, logo, logo, irão se afogar neste lodo de que já estão mergulhados. Rock não é moda, mas sim, um modo de vida, uma sonoridade de características peculiares, que tem história e uma energia criativa, o mais é pura firula e modinha publicitária (e publicidade não é arte!), para ouvidos acomodados e mentes rasas.
• Mas nem tudo está perdido e nem toda a juventude é surda. Vejam o que um jovem admirado por muitos e odiado por muitos mais, diz sobre isso:
A vida é agora
Estranho Delírio
Adelante el rock!
16 comentários:
Porra Nico!!
Belíssimo texto cara.
Restart e cia: Assim caminha a mediocridade...
não tirem o simbolo do rock and roll!!
...vão se fudê!!
\m/
muito massa!!
Salve Grande Nico! Tudo bem meu velho? Sempre que posso leio os seus textos pois eles sempre abrem uma boa discussão. E por isso vou botar lenha nessa fogueira! hehe
Pois bem, eu fico imaginando, sendo você um macaco velho do rock underground (da mesma forma que eu) porque diabos ainda participa de um "campeonato de bandas"? Principalmente esses destinados a "lançar uma banda ao sucesso", é óbvio que vão escolher a que for mais vendável, e não a que tem uma maior pesquisa sonora!
Além disso, eu nunca soube de uma banda que fez sucesso por ter ganho um desses festivais... você conhece uma? No fundo estes festivais servem mesmo é para os organizadores ganharem dinheiro em cima da ingenuidade das bandas.
Acho que vale a pena participar destes "campeonatos" quando a publicidade e a premiação são boas. Mas achar que isso poderá resolver nossas vidas artísticas é pura ilusão!
Outra coisa, pra mim, som e imagem estão em pé de igualdade em importância para uma banda de rock. Imagem também é linguagem, não deve ser subestimada ou subutilizada. O que seria do Kiss sem suas pinturas? E qual a diferença da pintura do Kiss pras calças coloridas do Restart? Pra mim tem muito mais semelhanças que diferenças. Ou seja, a banda precisa de uma marca para se diferenciar, e são poucas as que acertam nisso. Desde a época do Elvis é assim, ele só fez sucesso porque era um cara bem apessoado, ou não? Não adiantou um Little Richard ou um Bill Halley fazer a mesma coisa antes dele em termos sonoros (talvez, até melhor que ele), precisavam de uma "boa aparência" para ser vendável e aceito pela juventude. E Beatles então??!! Quanto do seu sucesso (principalmente inicial) foi devido à "rebeldia" do cabelo moptop? E o movimento punk 77, tão rebelde? Sex Pistols tinham um visual milimetricamente calculado, assim como Ramones, que tocavam na frente do espelho para treinar a "imagem punk", o que parece uma contradição, mas eles sabiam que rock também é imagem.
Eu acho que desde sempre a juventude não quer pensar muito, só quer saber de se divertir, ficar bêbado e pegar as menininhas. Eu não vejo nada de errado nisso. Veja do que fala a letra de My Generation do The Who, é alguma crítica social? Não, é um bando de adolescente querendo extravasar sua monotonia e se afimar enquanto grupo.
Não que eu ache que o rock não pode ser uma forma de arte mais refinada e menos um mero produto comercial, mas daí o segmento será muito mais restrito, principalmente no Brasil. Temos que ter essa consciência de que se não abrirmos certas concessões ao "capetalismo", dificilmente vamos viver de nossas músicas.
Um abraço a todos!
opa!
muito bem seu Nadal! concordo plenamente com sua opinião.. mas a questão é outra.. esse 'deixa disso' q anda rolando, chegou ao extremo.. Beatles é Beatles! Elvis é Elvis (ou foram!), etc. tem imagem? claro! lógico! nós também temos.. mas e a música? o rock (que é mais do que modinha, sempre foi), a 'composição' em si? agora, porque o dito 'mercado', impõe 'verdades', eu tenho q acreditar e aceitar como uma besta? eu não. e acho q tenho, como todos, o direito de dizer, chingar, elogiar.. e isso é participar.. só isso. de tempos em tempos, o combate, só pra não acostumar e virar um 'velho' (nos valores).. o careta hoje, não é mais o adulto ou senhor.. nunca vi algo tão conservador e limitado no rock.. agora, se todos os 'alternativos, undergrounds, ou seja lá o q for', ficarem nos seus cantos, quietos, acovardados, a coisa termina.. é isso!
ah.. acho q está claro no texto.. não estou reclamando a 'derrota' no dito concurso.. por outro lado, seria muito engraçado ganhar!! não sou daqueles q se auto-excluem para não ter que enfrentar a dura realidade do mundo pop.. alguém sempre ouve, gosta e sente algo com a música.. nem que seja meia dúzia.. não é quantidade que faz o valor! nunca foi.. portanto, escolham suas armas.. aqui, nem tudo são flores e nem tudo é espetáculo!
ah, outra coisa.. imagem é linguagem, certamente, sempre foi (eu é quem diga, já que também sou professor de linguagem).. mas, neste caso (música/rock), a matéria-prima primordial, totalmente indispensável, é a própria música.. essa é a linguagem alvo, digo, deveria ser.. depois (e não desconsiderando), vem o resto.. se não tem música, em primeiro lugar, não tem banda, nem motivo, nem pretexto.. olha só.. suas considerações renderam.. hehe! que bom!
ara falo e disse. Mas sinto e discordar na parte em que diz que a Regina é uma salvação, creio e defendo que ela é mais uma igual a qualquer outra, aliás diga-se de passagem ouvi a música da banda intitulada Domingo, uma letra de amor como todas da atualidade, um arranjo e melodia chupados de uma banda gaúcha muito conhecida, uma pista, procura ai por Fresno, ouve algumas deles ai vai percebe a semelhança, será mera semelhança ou foi intencional? Caralho odiei o som dessa banda, e acho uma falcatrua essas merda de concurso. É isso uma banda que deveria estar concorrendo era Setmo Selo com Que culpa tem Cabral, rock de verdade, letra protestante, originalidade no som e na melodia. Sinceramente o vocal dessa tal de Regina mais parece o Lucas da Fresno. Não gostei dessa banda e achei uma falcatrua esse Band em Up. Deveriam chamar de Mais uma merda músical.
Muito bem escrito este texto!
A verdade das musicas está na intensidade e persistência que cada banda cria em seu universo.
Musicar sempre!
Sorte e sucesso pra todos nós!!!
Abraço
Concordo plenamente que o essencial em uma banda é a música, sem dúvida! Sem uma música boa não há visual que conserte uma banda! Fato! É exatamente essa minha busca com minha banda, chegar numa música muito boa, "irresistível". É um processo bastante trabalhoso aliar boas harmonias com ritmos interessantes e letras realmente pertinentes, é como Einstein disse: 1% de inspiração, 99% de transpiração. É o que acho.
Eu só tenho minhas dúvidas quanto a essa opinião generalizada de que hoje em dia as coisas serem muito piores que nas décadas passadas. Sempre tiveram os Restart da vida, e isso não é só "culpa" do "sistema", ou das gravadoras, é "culpa" do público tb.
Eu creio que na maioria das vezes as bandas antes de fazerem grande sucesso e assinarem com uma grande gravadora para tocar massivamente nos meios de comunicação, as bandas tenham conquistado um bom número de fãs por seus meios próprios. Nem tudo no meio pop é criado de cima para baixo, ou seja, montado pelas gravadoras para depois fazer sucesso. Esse tipo de banda fake geralmente não vai pra frente pois não tem alma. Veja o caso do Nxzero, antes de assinar com uma gravadora a banda já fazia bastante sucesso no underground de SP, lotava as casas pq tem muita gente que gosta do som deles. Então ficar culpando exclusivamente os produtores etc e tal pela cena musical atual é meio que uma coisa ultrapassada pra mim, pois se faz sucesso é porque tem demanda de público.
Enfim, acho que sou um chato que fala demais! Seria muito melhor fazer essa conversa na mesa de um boteco!!
Abraço!
Ah, e eu nunca disse que temos que aceitar as "verdades" do mercado, só acho que temos que abrir algumas concessões a ele se quisermos aproveitar as coisas boas que ele oferece, e não simplesmente demonizá-lo. O que seriam essas concessões? Bem, tocar um pouco o que as pessoas no geral querem ouvir, e não só tocar o que a gente acha que é bom. Fazer um diálogo, e não um monólogo.
..no dia em que se pega uma guitarra e nada nasce nenhuma parte nova, nenhuma ideia nova. É um dom que toda pessoa criativa tem. Sempre pode acontecer aquele momento. Ou você pode estar velho demais para pegar a guitarra. Só queremos manter esse dia longe, distante e londe da vista.
It Might Get Loud
opa!
aí falou um sábio! grande Page! (não sou o maior fã do Led, mas quem sabe, sabe!). claro, o público tem parte sim, mas público é público, consome. NxZero já fazia sucesso no underground, claro! Teatro Mágico também faz! e aí? NxZero eleito, Teatro Mágico no.. enfim.. tem argumento pra vida toda! bejomeliga!
Tem razão Niko, quem elege o que será sucesso em últma instância são os produtores.
Foi mal se te aporrinhei com minha verborragia, é que eu curto um debate de ideias. :D
capaz! necessário.. grande contribuição.. é sempre bem vindo meu caro!! tu tem história nisso, teus irmãos.. eu respeito isso e sei quem é quem.. sinta-se sempre a vontade para interferir.. mas nem tanto! hehe! grande abraço!!
Muito bacana esse seu texto, mas tu fala ai da Regina, já parei pra ouvir esses guris, acho que foi no myspace se não estou enganado...
Mas eles são uma típica banda da moda, vi algumas fotos também, franja a la Nxzero/Fresno, músicas na mesma naipe e com pouca qualidade, a única que me chamou a atenção foi "Jogada" se não estou enganado esse é o nome...
Tu que é um dinossauro do rock sabe muito bem disso, que eles querem o sucesso que essas bandinhas ai tem!
Grande Abraço!
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