domingo, fevereiro 28, 2016

Psicodália, um lugar onde você pode ser você mesmo... Parte III

Parte final...

Segunda, 08/02

Acordamos tarde na pousada. Um descanso prolongado. Depois do banho, reunimos o povo o fomos almoçar no centro de Rio Negrinho. Aliás, um bom e barato restaurante. Encontramos lá velhos conhecidos do Psicodália, o Ivan (vocal da Confraria da Costa) e o Herman, meu xará (que já foi guitarrista do Sebbo e hoje toca na Confraria também) e suas respectivas companheiras. Conversamos por um breve momento e depois fomos ao supermercado pegar algo para beber. Chegamos à fazenda já era meio da tarde. Um role para fotos e mais fotos, cerveja, papos e risos. Um dia muito alegre acontecia. Ao lado do Palco do Sol muitas atividades e boa sombra para descanso, com boas ‘trilhas sonoras’ ao vivo. Nisso, pegamos parte da bela apresentação de uma cantora que não conhecíamos...


Thaís Morell, 17:30h

Thaís Morell cantou e encantou muita gente. Não a conhecíamos, mas foi bom ter visto/ouvido sua apresentação. Serena, sutil, bastante musical, boas letras e melodias. MBP refinada. No meio de tanto rock e sons instrumentais de ‘peso’, no meio de tanta eletricidade e amplificação, Thaís Morell trouxe certa ‘suavidade’ com sua voz e violão. A calmaria e boa musicalidade se espalharam pelo Palco do Sol numa tarde serena como a apresentação de Thaís Morell.



















Alguns registros e sentamos na grama junto ao povaréu, bebericar e compartilhar o momento com amigos, conhecidos, desconhecidos e qualquer pessoa que viesse conversar. O Psicodália tem muito disso, as pessoas interagem a todo tempo e todo lugar, uma das mais marcantes características do festival: a ‘interação’ das pessoas com o lugar e entre elas. A comprovação de que a arte liga as pessoas e as coisas. Depois mais um role pela fazenda e fomos até o lago para curtir um pouco daquela tranquilidade.















Chega à noite, e o espírito se inquieta esperando para ver/ouvir duas das atrações musicais mais esperadas por nós nesta edição do festival.


Cidadão Instigado, 21h

Em frente ao palco esperávamos as cortinas se abrirem. Não demorou muito e a banda Cidadão Instigado apareceu, com tudo! Que show! Que musicalidade! Que composições! A força do rock contemporâneo nordestino, brasileiro! Pouca influência gringa se ouve nas composições do Cidadão Instigado. Já gostava muito dos discos da banda, agora, ao vivo, é muito bom! Música sofisticadíssima e ao mesmo tempo com uma simplicidade lírica, sem perder o recado, a mensagem, o contato com o público. Algo diferente do ‘tradicional’. Ou seja, um misto de rock universal e psicodélico com música regional, onde certo eruditismo progressivo se mistura com a música popular, não a MPB, mas aquela de bar, comum pelos cantos do Brasil. Fernando Catatau é um grande compositor e guitarrista. Um show de arranjos e timbres. Pena que o show foi curto demais (ou eu é que, de tão bom, nem vi passar?). Tocaram seu mais recente e belíssimo álbum, o ‘Fortaleza’. Ficaram de fora algumas músicas que eu gostaria muito de ouvir ao vivo, como ‘Nada’ e ‘O pobre dos dentes de ouro’. Mas tudo bem, a magnitude e musicalidade do show compensaram as faltas. Uma banda muito entrosada e que faz aquilo que deve ser feito: música, arte! Belo show! Que volte ao festival numa próxima edição!






































Depois do show, no curto intervalo entre Cidadão Instigado e Elza Soares, rolou a coletiva de imprensa que, assim como o show, foi curta, porém, muito significativa. Na oportunidade, eu e o Paulo Ph (da Sensorial e vocal/guitarra/sintetizador da banda chapecoense Feito Elétrico, da qual também faço parte), aproveitamos e falamos dos eventos alternativos que acontecem pelo país, botando pilha na organização do Psicodália para que tragam mais atrações nordestinas ao festival, pois as que vieram se mostraram muito competentes e intensas artisticamente falando. Lira (Lirinha, ex-Cordel do Fogo Encantado), que pude ver/ouvir e conhecer ao vivo numa feita na Bahia, seria um belo pedido, sendo um dos shows mais intensos da música brasileira contemporânea que já vi/ouvi (demais!), assim como Siba, Céu, Karina Buhr, entre outros. Na coletiva, conversamos pessoalmente com o Catatau que foi muito simpático e demonstrou (assim como toda banda) uma enorme satisfação em tocar no sul e no Psicodália, dizendo na entrevista que não percamos este espaço, este tipo de festival, pois é diferente de tudo, sendo que hoje, Cidadão Instigado é uma das bandas nacionais que mais roda no circuito alternativo-independente do país. Quando saía do camarim, uma mulher que não me era estranha me chamou pelo nome. Começamos a conversar e ela me fez lembrar de onde eu a conhecia. Era a Patrícia, produtora do Lira, que conheci no show na Bahia citado acima, e que também é produtora do Cidadão Instigado. Fiquei muito alegre em revê-la e poder trocar um dedinho de prosa com ela, uma pessoa muito querida e simpática, a ponto de lembrar de minha pessoa e meu nome. Por fim, novamente o Psicodália nos traz reencontros, além dos novos conhecidos e novas amizades geradas. O poder da música, da arte, que liga e integra pessoas. Viva Cidadão Instigado, a música nordestina e brasileira!













                   Liza, Catatau (com DVD da Epopeia) e eu (foto: Paulo Ph, Sensorial)



Elza Soares, 23h.

Dirigimos-nos direto do camarim que ficava atrás do palco, para frente do palco. Em poucos minutos a voz peculiar da magnífica Elza Soares ecoou. E como ecoou! Não existem palavras que possam descrever tamanho espetáculo. Um show profundo, intenso, raro, digno de sê-lo. Elza Soares cantou, fez cantar e chorar com o show do seu novo e belíssimo disco: “A mulher do fim do mundo”. Que disco! Que show! Que Mulher! Uma digna mulher, artista e cantora brasileira que cantou o feminino, a condição da mulher na sociedade, sem endurecer, com sensibilidade e em tom contemporâneo. Um disco com uma linguagem atual, para todos (inclusive a juventude) ouvirem, e um show sensacional! Um dos grandes momentos da história do Psicodália, sem dúvida! E Elza canta demais! Ainda! Mesmo com problemas de locomoção pela idade avançada, Elza trouxe a energia da mulher brasileira para cantar seu recado, sua arte, sua musicalidade ao festival. Um show muito bem produzido, esteticamente e musicalmente falando. Algo conceitual e muito atual. Música sofisticadíssima, sem tirar nem por. Contou com nomes contundentes da música brasileira atual, além da aparição de um grande ator/cantor que representou certa negritude neste ‘ato’. Questões sociais, sem perder a arte e a musicalidade, foram cantadas e representadas neste grande show. E nós agradecemos a grande Elza Soares e sua produção por isso, assim como, mais uma vez, agradecemos ao ‘movimento Psicodália’!





Depois das porradas sonoras que foram os shows do Cidadão Instigado e da Elza Soares, saímos para dar uma esfriada. Tanta emoção e musicalidade faz um efeito ‘chapante’ em que ‘recebe’ – mas não só recebemos, pois não há como ficar alheio a apresentações como estas. Nós, o ‘público’, devolve com muita energia, aplausos e carinho tudo o que nos é dado com sinceridade, pois estamos ali para compartilhar, integrar e interagir. Enfim...


Confraria da Costa, 1h.

Como é por ‘tradição’, o show da Confraria fez o público pular, dançar e cantar. Novas e velhas canções de pirata. Herman (meu xará) novo guitarrista da banda, caiu bem. E o show, como haveria de ser, muito musical e com uma incendiária presença de palco, foi uma festa. Confraria da Costa é uma banda que sempre causa um efeito festivo no público, que dança, canta, se diverte, interage durante o show. Desta vez não fui para frente do palco, a muvuca era tanta e eu (nós) estávamos cansados para ficar pulando. Mesmo assim alguns registros à distância foram feitos. Bora marujos!














Gostaríamos de ficar para ver/ouvir a Skrotes também, mas não foi possível. Inclusive, por motivos de trabalhos, acabamos voltando mais cedo para casa. Na terça havia planejado de ver os amigos da Marujo Cogumelo, banda da cidade vizinha Xanxerê, que pela primeira vez tocou no festival, e assim como a Epopeia, subiu ao Palco do Sol às 13h, só que da terça-feira. Por esta vinda antecipada, também acabamos perdendo os shows que queríamos ver muito do Naná Vasconcelos, Nômade Orquestra, O Terno (que fez um baita show na edição passada do Psicodália), entre outros. Ouvimos dos amigos que ambos foram belos shows.


Considerações Finais

Mais um Psicodália passou, o nosso 10º. E entre curtir, trabalhar (na imprensa, divulgando, fotografando e escrevendo) e tocar, neste tempo todo tivemos uma baita ‘escola’, pois muito do que acontece no festival dá para encarar como ‘oficinas’, ‘cursos’ e/ou ‘workshops’, tudo com muita alegria, diversão e intensidade, além dos reencontros com amigos/as que de tempo em tempo acontecem. 10 anos de presença, participação, integração. Uns 8 anos trabalhando na imprensa, 2 tocando com a Epopeia, e todos curtindo o evento. Pontos positivos, vários, inumeráveis. Negativos, alguns, como, este ano, por exemplo, não teve oficina ou prática de Tai Chi - ou outra ‘arte-cultural’ chinesa. Se lembrar de outros, outro dia quem sabe os traga a tona (risos). Mas enfim...

Que venha o Psicodália 2017! Obrigado!



·         Textos: Herman G. Silvani
·         Fotos: Herman G. Silvani & Liza A. Bueno

·         Mais fotos:

Herman:


Liza:  







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