Já faz alguns anos que acompanhamos o Movimento Psicodália. Os festivais, em 6 anos a fio, e de perto. Como público interessado e atuantes na comunicação do festival, trabalhando, fotografando, escrevendo, publicando, propagando, já curtimos muita coisa boa que, talvez, jamais tivessemos a oportunidade de ver ao vivo em outro lugar. Eis uma das importâncias desse festival. O Psicodália hoje é o maior festival de música e/ou rock independente que privilegia a música autoral no sul do Brasil - e um dos maiores, mais interessantes e mais importantes do país, certamente. O nível de qualidade musical do festival, das bandas, é muito bom. Desde as bandas que nele se apresentam – e que, pelo que se pode perceber, passam por um ‘crivo’ e tanto, quanto as suas escolhas – quanto a preocupação pela qualidade de som. Algo difícil de se ver/ouvir por aí. A exigência por um som que ofereça timbres descentes e coerentes com as propostas sonoro-estéticas das bandas é grande. Na maioria das vezes, o som esteve muito bom, e o melhor de tudo, com timbres adequados ao rock e suas vertentes. Então, pra nós é um privilégio poder fazer parte desse grande evento na sua edição especial de ano novo (2013) e, além de tocar em um dos palcos do Psicodália, tanto ‘disputados’ e almejados por bandas e artistas independentes do país todo, poder dividir o momento com bandas muito boas.
Nesta edição teremos boas novidades. Entre
as bandas mais conhecidas, Os Mutantes (novamente, só que com um show
inédito, tocando o disco ‘Tudo foi feito pelo sol’ com a formação original que
gravou essa, que é considerada uma das obras primas do rock progressivo
brasileiro); Alceu Valença e banda, tocando outro ‘clássico’, o disco ‘Vivo’,
um dos seus principais trabalhos na boa fase dos anos 70; Hermeto Pascoal e
banda, um mestre com seu ‘brasileirismo jazzistico experimental’; e Blues
Etílicos, uma das grandes bandas do rock’n’blues nacional - entre outras.
Depois dos Variantes, Epopeia é a 2ª banda
chapecoense a ser convidada e/ou eleita a subir no palco do festival, um
privilégio que nos enche de orgulho e prazer, pois, quem já tocou ou já foi
numa das edições do Psicodália, sabe do que estamos falando. Agora é afinar bem
os detalhes, arranjos, proposta do show, para quando chegar o dia, fazermos jus
ao que nos propomos e trabalhamos para tal, e ao que os Variantes já fizeram
nesse festival: levar ao povo que estará presente, nossa música, nossa
sonoridade, nossa arte, nossos timbres e intensidades... nossa alegria criadora
com pitadas de caos e certa desconstrução... Enfim...
Epopeia
toca Grupo Nozes & Repolho toca Tyto Livi...
2012 dirigindo-se ao seu final e
bons ventos sopram em nossa direção. Fomos uma das duas bandas convidadas para
um projeto universitário que retoma um pouco da história do rock chapecoense
pelo Augusto Zeiser (a outra banda é a Repolho), amigo e estudante de
jornalismo da Unochapecó. Projeto esse baseado na pesquisa do nosso guitarrista,
compositor, professor-pesquisador e escritor, Herman G. Silvani. A proposta era
que a banda Repolho gravasse músicas do Tyto Livi (primeiro cantor/compositor
chapecoense e da região a registrar suas músicas em disco de vinil, um compacto
que data de 1977, de forma independente), e a banda Epopeia, fizesse o mesmo,
só que com a primeira banda, o Grupo Nozes (compacto de 1978). Segundo o
levantamento historiográfico de Herman, muito provavelmente foram os primeiros
registros de rock independente nesses formatos na região Oeste e até no sul do
Brasil. Se assim for, esses artistas foram pioneiros nisso. Dada a importância histórica,
assim como a banda Repolho, Epopeia aceitou o ‘desafio’ e o projeto criou vida.
Fomos gravar na região do Contestado, bem nos dias do centenário desse
acontecimento histórico, e tivemos, no dia da gravação, as ilustres presenças do
fouclorista e pesquisador do Contestado Vicente Telles, do cantor e compositor Gilmar
Guerreiro que, nos anos de 1980 em Chapecó teve seu disco (também EP) censurado
– já que as gravações aconteceram no seu estúdio particular. A música
‘Chimarrão espumoso’ do Guerreiro, mesmo censurada (e não sendo um ‘rock’),
tornou-se um dos ‘hinos’ do rock chapecoense, sendo, talvez, a música de um
cantor chapecoense mais tocada pelas bandas autorais da cidade. Acabamos, nesse
dia da gravação, registrando também a música ‘Chimarrão’, que foi cantada pelos
amigos presentes, quando estes invadiram o estúdio em uma alegre homenagem ao
Gilmar Guerreiro. Além disso tudo, tivemos a presença, é claro, de um dos
próprios membros do Grupo Nozes que gravou o disco nos anos 70, trata-se do
Carlos Alberto Ficagna, o Billi, que era o baixista do Nozes. Fizemos
releituras ou versões - ‘ao vivo’ no estúdio - de duas das canções originais do
disco, com uma roupagem mais contemporânea, adaptando-as ao nosso modo, a nossa
voz. Foi uma bela experiência, uma boa troca de conhecimentos e informações
entre ‘gerações’, tudo em prol da nossa história musical e do rock regional,
além das boas composições e bandas que nossa cidade foi capaz de produzir nesse
tempo. Em breve, o material audio-visual estará pronto e circulando por aí.
Mais um projeto importante em que participamos como convidados, dado ao seu
caráter artístico, cultural e histórico, e isso amplia nossos horizontes, não
só musicais, mas artísticos e culturais. Nossa proposta, enquanto banda, é
justamente esta, ir além de subir no palco e tocar, ou seja, ser uma banda que
vagueia entre outros espaços e linguagens além dos já ‘tradicionais’.
E o Grito Rock 2013?
Projeto “Rock Contestado”
O rock precisa ser contestado – ou
melhor, desconcertado. Não, não queremos destruí-lo. Não é isso! Muito pelo
contrário. Acreditamos que para sua ‘saúde’, seja preciso, de tempo em tempo,
repensar o rock, assim como a vida e nossas ações e posturas diante dela. E
para isso, nada melhor do que uma viagem, um desvio, uma experiência, que já
começou, e não se encerra. A região do Contestado, com sua história de
conflitos e sua natureza ‘espirituosa’, nos servirá de inspiração criativa.
Pois, não nos basta subir ao palco e tocar. Assim como, não nos basta os vários
‘clichês’ que se nutrem daquilo a que muitos chamam ‘rock de verdade’ – um discurso
reproduzido a granel por aí. Isso pode ser muito subjetivo, não pode? Então,
nada melhor do que a ação, a música em si, com seus timbres e linguagens, a
fusão com o meio, para dar vida a novas possibilidades e audições. Consideremos
que o rock também se movimenta. Então, é nesse sentido que já estamos pensando,
para o primeiro semestre de 2013, novos trabalhos, experimentos, gravações e
propostas conceituais da Epopeia. Enfim! É assim que prosseguimos
desConcertando o habitual...
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