segunda-feira, setembro 19, 2011

REPOLHO, 20 anos de róque e anarquia!

A primeira vez que vi e ouvi a banda Repolho em ação tive vontade de pular no palco. Não para pegar os caras, mas para tocar mesmo, fazer parte daquele acontecimento. Lembro bem. O ano, se não me engano foi 1992, em frente a antiga praça central da cidade (naquela época o poder público incentivava mais as bandas locais). Eu era um guri que ainda estava engatinhando na música (e de certa forma continuo). Naquela época, além dos irmãos Panarotto (Roberto e Demétrio), tocavam também o Passarinho na bateria e o Girino (Paulo de Nadal, atual ‘Mordida’) no baixo. Lembro também de um figura, alto e magro, que dançava com um repolho na mão. Parte do show. As fantasias já existiam e a atitude também – características que compõem a peculiaridade da banda. Muitos comparam Repolho a banda Mamonas Assassinas, eu não. Conheço Repolho bem antes de ouvir falar em Mamonas, e cá entre nós, o som não tem muito haver também, nem a postura de palco. Mamonas é bem mais produzido, no sentido ‘teatralizado’, pensado, medido, forçado. Na Repolho, o negócio é mai espontâneo, as coisas acontecem – você nunca vai ouvir e ver ao vivo a mesma música na mesma versão. Repolho é a banda mais anárquica que Xapecó já viu, a mais ‘punk’. Talvez eles nem gostem que assim a chamem, mas não tenho outro adjetivo no momento (nem nunca tive). Comecei tocando rock em uma banda punk, montada por mim mesmo e alguns amigos, e Repolho sempre foi uma referência (além dos Ramones, Sex Pistols e Replicantes). Depois foram várias outras bandas como The Clash, Dead Kennedys, Toy Dolls, Cólera, Inocentes, e mais tarde, NOFX, Operation Ivy, entre outras. Por mais céticos que fossemos, nunca deixamos de considerar bandas como Graforréia Xilarmônica, Júpiter Maça e Cascavelletes. Aliás, em meados dos anos 90, fomos ver a Graforréia no antigo Marron Glacê (altos da avenida, em frente ao que mais tarde foi o TNT – ‘bar do fano’). Vimos também no Guará, Júpiter Maça. E depois, por mais umas 3 ou 4 vezes ainda, em outros momentos. Xapecó sempre teve suas ‘bandinhas’ punk (expressão em tom carinhoso), mas Repolho sempre foi a mais sarcástica, audaciosa, crítica. Uma alegria caótica e crítica sai da banda Repolho e vai dar direto no público. Alguns não entendem muito bem, outros não suportam, mas a maioria de quem vai a um show, certamente, passa a ser mais crítico (não apenas no sentido ‘político’ da palavra, mas também no irônico). Repolho, além disso, é uma banda de hits. Sim, hits de sucesso. Uma das bandas mais conhecidas do público ‘underground’ no sul do país. Em entre as do sul, uma das mais conhecidas no Brasil. Sempre do seu jeito (é só assim que eles sabem fazer – segundo já ouvi do próprio vocalista Roberto Panarotto), e vendo seu show ao vivo, dá pra comprovar isso. De certo modo, essa ‘condição’ faz da Repolho, se não a mais, uma das bandas mais autênticas da cidade, do Estado e do Sul do país. Goste ou não goste da banda, o que não é possível, é ficar indiferente. Muitas bandas que conheço daqui da região Oeste, ficam no ‘meio termo’. Já com Repolho o ‘meio termo’ não existe. Humor escrachado com pitadas de uma ingenuidade infantil e flashes de um ‘sem graça’ que acaba sendo engraçado. O erro, aquele pelo qual muitos músicos perdem o sono, na Repolho não existe. Todo o erro é parte da apresentação. Mas quem disse que isso é um problema? No caso da Repolho nunca foi. Sabem como ninguém lidar com isso, numa aceitação de ‘si próprios’ que a torna autentica. Este ano, Repolho completa 20 anos de ‘colonagem cibernética’ (estilo sonoro-musical elevado pela banda), no mesmo ano em que nós (Epopeia), completamos 10 anos. É o rock xapecoense vivo e pulsante, acontecendo! Resistindo aos modismos e a falta de criatividade que assola parte significativa da arte local. Nisso, já tivemos o prazer de dividir algumas vezes o palco com a Repolho, e sempre que isso aconteceu, foi tudo muito simples e direto, sem frescuras ou rodeios. A anarquia que a banda Repolho proporciona, conscientemente ou não, é uma das suas maiores características, pois o palco, de ‘altar cristão’ (em que muitas vezes um show de rock parece ser) passa para um ‘terreiro pagão’, um ritual de orgia das cores, sonoridades e sentidos. Enfim. Repolho continua sendo uma referência pra nós, já que somos herdeiros da energia punk que, diga-se de passagem, a Repolho tem pra emprestar.



...& Repolho marca sua primeira apresentação deste ano em Xapecó (ano do aniversário de 20 anos da banda), no dia 23/09, às 23h. no Premier Bier, onde dividirá o palco com a banda gaúcha Bidê ou Balde: http://acb2.wordpress.com/2011/09/09/repolho-e-bide-ou-balde-no-premier-em-chapeco-dia-23-de-setembro/

Maiores informações e história da banda: http://bandarepolho.tumblr.com/

3 comentários:

Gustavo disse...

Parabéns a banda Repolho, Parabéns a Epopéia, bons tempos, só pra registrar, um cenário importante do rock xapecoense, hollywood bar, os eventos como o domingo lesgau, e outros q ae tiveram, realmente, se tinha muito mais incentivo uma vez.
Abraço Nico.

Paulo de Nadal disse...

Inexplicavelmente Chapecó sempre foi um palco propício pra se fazer som próprio. Parabéns ao Repolho pela bela tradução desse universo nesses 20 anos!!! Ótimas lembranças!
Amor à música!

Anônimo disse...

É realmente, a administração atual de Chapecó, juntamente com a Fundação Cultural de Chapecó, está deixando muito a desejar no meio musical pelo menos, e na minha visão está querendo "elitizar" a Cultura, fazendo com que ela aconteça somente com a classe social mais bem "conceituada" com o grandioso Centro de Cultura e Eventos...sendo que na minha opinião a cultura deve ser levada ao povo, para fazer com que tenham ao menos conhecimento dela e com certeza terá um resultado com as pessoas se interessando pelas culturas que até então não tinham acesso, culturas diferentes do seu cotidiano. Isso faria com que as pessoas fossem atraz delas tendo como inspiração os artistas que estão no palco... me lembro perfeitamente, que na administração da "OPOSIÇÃO" (olhem bem não estou defendendo partidos) o incentivo era muito maior por parte do poder público em relação aos artistas locais e a música em sí, tinha mais incentivo, era quase um domingo por mês q tinha música na praça ou no centro de Chapecó, e isso incentivou muitas pessoas daquela geração inclusive a minha, a estudar música e formar uma banda, com inclusive composições próprias, me lembro dos "Domingos Lesgais" que tinha na época...