quinta-feira, setembro 29, 2011

Adeus Redson!

O punk-rock brasileiro perde um de seus mais atuantes ativistas

Conheci Cólera quando ainda pirralho queria mudar o mundo através do rock (& talvez ainda queira, qual é o problema?!). Acontece que hoje, menos utópico e nada – ou quase nada - idealista, ‘tenho a arte porque a vida não me basta’ (isso não é meu, plagiei de algum lugar). Mas também sei que ‘sem a música o mundo seria um erro’ (assim falou Nietzsche!). Então estamos conversados! Ontem, divagando pela internet foi que recebi a notícia da morte do Redson, grande nome do punk rock brasileiro, compositor, vocal e guitarrista de uma das grandes bandas desse estilo no Brasil, o Cólera. Tive um momento de tristeza profunda. O mesmo sentimento que me encheu os olhos de lágrimas que tive quando Joey Ramone, vocal dos Ramones morreu. Duas bandas e duas pessoas (artistas) referências pra mim, enquanto eu me construía um jovem num mundo adulto. Posso até dizer que isso salvou minha vida, porque não? E sei que não só a minha. Quando comecei a ouvir Cólera, ainda em meados dos anos 90, também comecei a me politizar, ler, estudar, me tornar crítico, ativo, vivo! Somadas as minhas leituras, minhas audições nunca mais foram as mesmas. A partir daí, soube muito bem o que queria com a música, com a literatura, com o mundo. Cólera foi uma das bandas que me abriu o mundo para o questionamento e a insatisfação. A partir disso não pude mais me contentar com o dado e passei a criar. E isso enriqueceu muito minha vida. Até onde sei, Cólera foi a primeira banda punk independente do Brasil a pegar a estrada rumo a Europa numa turnê, dentro da ‘filosofia’ do ‘faça você mesmo!’. Isso já é o suficiente para que a banda tenha um respeito e consideração pelos músicos, artistas, punks e/ou roqueiros do Brasil. Acredito que, quem nunca ouviu Cólera tenha um furo no seu conhecimento e compreensão do que seja o rock no Brasil. Redson era um homem ativo que compôs belas músicas, intensas e sinceras, produziu belos discos e deixou seu rastro na História do rock e da música brasileira, mesmo não sendo assim considerado pela ‘nata’ da cultura e da indústria cultural da badalação nacional. Em dias de Rock in Rio no Brasil, bandas famosas daqui, ídolos semi-deuses dali, eis que morre Redson, um peculiar e autêntico artista, compositor e personalidade do rock, muito além do ‘pão e circo’ midiático. Termino este texto com certa tristeza, porque essa foi realmente uma perda pra mim - porém, uma alegria vem acompanhada disso, pelo simples fato de ter conhecido Cólera, já ter tido quase todos os seus discos em vinil, ter tocado músicas do Cólera quando tocava punk rock, e ainda hoje, por ouvir e saber cantar boa parte das músicas dessa banda que deixou seu som ecoar e sua energia correr nas veias daqueles que passaram por essa experiência, porque ouvir Cólera é mais do que simplesmente ter os ouvidos agradados. E a voz de Redson enche a sala da minha casa de vontade criadora e sonoridade...
by Herman ou Niko












Amnésia (Cólera)

Como bala de canhão
Isso pesa na consciência
Tenho bronca da rotina
Com vontade de agredir
Eu já repeti demais
E a minha decisão
É voltar a dizer não
É voltar a dizer não
Demais, já repeti, já esperei
Já me cansei demais...
Isso é vida de animal
E assim não é legal
Tenho bronca da rotina
A vontade é destruir
Eu já repeti demais
E a minha decisão
É voltar a dizer não
É voltar a dizer não
Demais, já repeti, já esperei
Já me cansei demais...


*
Cólera ao vivo (festival - ao vivo na Finlândia - programa Agora é tarde & Ultraje a rigor homengeiam Redson):

2 comentários:

Ravel disse...

Cara, só hoje soube da morte do Redson. Estou comovido, o cara era muito jovem. Aliás, morrreu com a idade do meu pai. Assino em baixo de seu texto, eu e muita gente, tenho certeza, que ouve e admira o Cólera desde os anos 80. Nem vou dizer mais nada. Tomei a liberdade de linkar seu texto no blog. Forte abraço, e seguindo o exemplo do Red: Dia após dia eu procuro ir em frente...
Grande abraço e pêsames pra todos nós desse país indigno de seus melhores filhos, como o imortal Filho Vermelho.

Ravel disse...

Meu post: http://arquivoscriticos.blogspot.com/2012/01/adeus-ao-filho-vermelho.html