quinta-feira, abril 04, 2019

Psicodália 2019: “Temos a arte para que a realidade não nos destrua”

Parte II – parte final (domingo, segunda e terça):

Domingo entre outras grandes apresentações musicais e artísticas, durante o dia tivemos visitas na nossa instalação poética no acampamento do Grupo Vertigem de Ações Poéticas. Fizemos alguns diálogos e troca de informações com mídias independentes e pessoas que circulavam pela fazenda. Final de tarde, e o primeiro show musical que registramos e curtimos foi no Palco do Sol, com a histórica banda Azymuth (RJ). Um baita show quase 100% instrumental, de muita competência. Uma espécie de Fusion soul/jazz de arrancar aplausos e boas vibrações do público. Músicos de alto nível, assim como suas composições. Demais!

Fiquei um pouco triste por perder o show da Lucinha Turnbull (SP), uma das primeiras guitarristas mulheres do rock brasileiro, que foi companheira musical da Rita Lee na banda Cilibrinas do Éden, depois da saída da Rita dos Mutantes, e que, dá pra se dizer, foi a banda embrionária do Tutti-Frutti. Perdemo-nos no tempo e na programação, mas podemos ouvir as músicas da barraca. O cansaço neste momento havia nos derrubado. Mas, mesmo a distância, podemos dizer: Lindas músicas, lindo show!

Um tanto recuperados, no Palco Lunar pegamos o show daquele que é um dos grandes guitarristas brasileiros, e que foi membro de uma das grandes bandas deste país, os Novos Baianos. Trata-se de Pepeu Gomes. Juntamente com seu filho, compondo a outra guitarra, e grande banda, Pepeu fez um grande show, como haveria de ser. Outro instrumental de vibrar. Muito bom!

Na sequência foi a vez da banda chilena Chico Trujillo. Grande show de música latino-americana que pôs o povo pra sorrir, dançar, confraternizar. Los hermanos (não a banda brasileira) fizeram um belíssimo show, e a noite ficou ainda mais alegre e divertida. Gracias hermanos!

Madrugada no Palco dos Guerreiros, vimos um tanto da banda gaúcha Trabalhos Espaciais Manuais, indicação do amigo Caio da rádio Putz Grila. Muito boa! Grande instrumental, experimental, fusion. Encerrado nossa noite frente aos palcos do Psicodália.






































Segunda-feira no Palco do Sol a banda Escambau (PR) fez um baita show. Experimentalismo, psicodelia, belas canções e letras contestatórias. Já conhecia a banda, mas nunca havia visto ao vivo. Gostamos bastante. Bela performance também. E teve até participação do amigo/fotógrafo e saxofonista Nicolas Pedroso, gente boníssima! Giovanni Caruso e Paraguaia são figuras conhecidas do rock independente, e com a banda, deixaram sua marca e recados no Psicodália. Bom demais!

Ainda no Palco do Sol, no final da tarde vimos/ouvimos Anelis Assumpção, filha do grande Itamar Assumpção. E outro belo show! Mulher forte, presente, com canções que nos instigam e provocam. Massa! Depois, entardecemos frente a rádio psicodália nos divertindo e bebericando na festa Balkan. Um role e a única coletiva de imprensa que tivemos oportunidade de participar (não sei se houveram outras, dos nomes mais conhecidos, acredito que não) com o mestre Jorge Mautner, antes do seu show no Palco Lunar. Uma troca de ideias, pausa para fotos, e Mautner muito simpático, conversador, interessado nos assuntos (nisso, agradecemos a Letícia, nova responsável pela imprensa do festival, pelo respeito, consideração e atenção!). Já havíamos assistido Mautner (em companhia do Jacobina, seu companheiro musical, grande violinista) em Chapecó, alguns anos atrás. Encerramos o papo e fomos para frente do palco ver/ouvir e registrar o show. Muito bom, com certa simplicidade e momentos de contemplação de Mautner que, passava a bola para a banda e assistia a reação do público ao seu show. Botou o povo pra cantar alguns dos seus ‘clássicos’.

Depois foi a vez do bruxo, do mestre, um dos grandes experimentadores da nossa música, Hermeto Pascoal e banda. E que banda! E que show! Já havíamos visto o mestre em outra edição do Psicodália, com outros músicos e outra proposta de show. E desta vez, novamente, foi impecável. Hermeto é um dos grandes nomes da música experimental brasileira e mundial. Grande!

Depois saímos para um descanso na barraca, pois o cansaço era grande, e a saúde não ajudava muito. Fui para o festival em meio a um tratamento de saúde, que segue. Mas consegui me manter equilibrado. Energias reestabelecidas, na madrugada pegamos o show dos nossos amigos da Picanha de Chernobill. Baita banda paulista que tivemos o prazer de conhecer artisticamente e pessoalmente no Morrostock do ano passado, onde fizeram um belo show e batemos um bom papo. E no Psico não foi diferente. Blues, hard rock, psicodelia, grande presença de palco e belas músicas/canções! Ou seja, um grande show! Depois tivemos mais uma vez a honra de conversar com a gurizada no camarim. Bandaça!











“Voz Mulheres!”, Grupo Vertigem de Ações Poéticas

Chega nosso último dia e noite no Psicodália 2019. Terça-feira já aponta para o final de mais esta belíssima edição do festival. Aproveitamos bem o dia, conversando com amigos/as e fazendo novos/as conhecidos/as. 14h na tenda do teatro, foi nossa vez de subir ao palco, com o Grupo Vertigem. Edição passada apresentamos o espetáculo ‘Barricadas Poéticas’, e foi muito bom! Nesta edição não foi diferente. Com o espetáculo ‘Voz Mulheres’, apresentamos as vozes de várias mulheres, autoras da poesia, da história, do cotidiano. Artistas, poetizas, bruxas, putas, campesinas, lutadoras, benzedeiras, guerrilheiras, resistentes... mulheres! De Emily Dickinson a Conceição Evaristo, passando por Hilda Hilst, Carilda Oliver Labra, Elza Soares, Viviane Mosé, e a mulher que também é Eduardo Galeano em muito de sua sensibilidade e luta. Poesia, música e áudio visual, são as linguagens da nossa proposta. Além dos corpos vivos que pulsam e se movem, além das ‘vozes mulheres’ que existem em cada um de nós. Nisso, agradecemos mais uma vez a querida Mayra e toda sua equipe de trabalho, pela oportunidade, carinho, respeito, amizade e profissionalismo. Assim como, ao público que lotou o teatro para ver/ouvir o espetáculo e todas as vozes que, em consonância e dissonância, formaram um só eco que se eternizou. Esperamos voltar ano que vem novamente. Obrigado e até a próxima!





Fotos Camila Almeida
Final da tarde fomos para o Palco do Sol curtir e registrar o grande Hamilton de Holanda (RJ) e banda, um dos grandes nomes da música instrumental brasileira contemporânea, ‘armado’ com seu bandolim. Uma aula! Um baita show! Hamilton é deste músicos que tem música na alma, que se expressa tão naturalmente com seu instrumento. Bom demais!

Algum tempinho depois, sobe ao Palco Lunar uma das bandas de rock que mais queria ver/ouvir no Psicodália, a magnífica banda carioca Bacamarte, com ‘participação’ da que já foi uma das maiores cantoras deste país, Jane Duboc. Uma das minhas bandas preferidas do chamado rock progressivo brasileiro. E que show! As composições do Bacamarte são incríveis! E a execução delas não fica para trás. Reunião de grandes músicos no palco. Mário Neto (um dos grandes guitarristas do Brasil) e Marcus Moura (grande flautista) comandaram o espetáculo. Tivemos o prazer de conhecê-los pessoalmente no Rio de Janeiro, um tempo atrás, num show de rock progressivo, apresentados pelo amigo Jorge Carvalho, baixista da banda Arcpelago (grande banda carioca). Duas pessoas simpáticas, além do grande talento. E só temos a agradecer pelo belíssimo show. Quem não conhece, fica a dica. Procurem o disco ‘Depois do Fim’, uma obra prima da nossa música, do nosso rock. Obrigado Bacamarte!

Depois foi a vez da banda paranaense, já bastante conhecida pelo público do festival, Mulamba. Mais uma vez um grande show que moveu o público. Música e atitude. Feminismo e política (no seu sentido ampliado). Mulamba, além de musicalmente boa, tem grande postura de palco. As meninas mandam muito bem, nas suas manifestações e musicalidade. Resistir para existir! Avante Mulamba!
Na sequência, outro show que já havíamos visto no Morrostock, o da Letrux (RJ) e banda. Um baita show para encerrar nossa estadia em frente aos palcos do festival. Letrux é uma cantora performance que manifesta sua condição sociohistórica de mulher libertária. Muito bom o show. Somos apaixonados por efeitos e sintetizadores, e nisso, o show da Letrux não poupa. Intenso e com atitude, ora realista, ora poética. Mais uma vez, um grande show. Muita energia para encarar os tempos difíceis que o brasileiro sensível e sensato enfrenta. Gostaríamos de ter visto ainda os shows da Tuatha de Dannan (MG) e Machete Bomb (PR), mas não foi possível. Sairíamos (saímos) cedo na quarta, retornando ao velho oeste. Uma viagem de 7 horas de estrada e muito movimento de caminhões.

Em suma, o Psicodália mais uma vez proporcionou grandes momentos. Mesmo sem as crianças, seus sorrisos e suas cores, suas alegrias de vida, e com certo policiamento, o festival cumpriu com seu papel, que é de oferecer boas atrações socioculturais e artísticas ao público. Mesmo dentro de um contexto moralista e opressor, muitas vezes disfarçado, que virou o Brasil dos últimos anos, o Psicodália resiste e inspira resistências. Democracia se faz com ocupação dos espaços e participação. Portanto, é fundamental que ocupemos, criemos, participemos dos eventos deste teor. Continuemos juntos, criando, desenvolvendo, resistindo, ampliando, pois, muitas vezes são nos momentos difíceis que grandes ideias e criações surgem. E como diria meu amigo bigodudo, ‘o que não nos mata nos fortalece’. Nisso, transformemos ‘tragédia/dificuldade em potência’, pois ‘temos a arte para que a realidade não nos destrua’ (Nietzsche). No mas, obrigado e até a próxima!

 



















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