O domingo acorda alegre e preguiçoso, e nós com ele. Lentos e
sentados em frente às barracas contemplando as paisagens (sim, no plural:
natureza, intervenções humanas no espaço e pessoas). Sou adepto a contemplar, observar.
Desde criança. Gosto de ver, perceber, ler, pensar. E foi observando e pensando
que pensei: Se me pedissem para resumir o Psicodália 2017, mesmo não havendo a
real possibilidade, talvez eu diria que foi um Psicodália recorde em acampados
e em diversidade, principalmente de gênero. O Psicodália mais Black/Soul/Funk,
brasileiro e LGBT de todos até então. Este foi um aspecto, no mínimo,
interessante deste Psicodália. As diversidades, ditas ‘minorias’, os grupos
socioculturais como tribos reunidas, manifestando, seus modos, suas artes, suas
palavras, suas políticas. Algum modismo? Sim, provavelmente. Mas muita
realidade. Pertenço a algum grupo? Não sei. Acho que sim. Ou não?! Talvez! Mas
vamos lá, nem só de pertencimentos vive o homem. Digo, o ser. Às vezes gosto de
não pertencer, não estar, não ser. Às vezes, gosto!
Enfim. Divagações a parte, vamos aos fatos...
Enfim. Divagações a parte, vamos aos fatos...
Nossa noite começou com a Noite Latina na Rádio Kombi. Uma
mexida no esqueleto com amigos/as e preparar a alma e o corpo e a mente para um
dos shows que mais esperávamos ver nesta edição do Psico...
Francisco, el Hombre (Palco do Sol) foi o esperado.
Grande show. Grande banda! Música contemporânea brasileira, com o gingado, a
musicalidade e o recado. Os ‘Fora Temer!’ continuavam. Volta e meia alguém
puxava e o grande público mantinha. A banda feita da diversidade de que eu
falava acima. Uma das que mais representa isso, esta ‘mistura’ de formas e
modos de ser-estar. Um show intenso, dançante, crítico, artístico! Entre meus
preferidos do festival. Como guitarrista que sou (ou pelo menos tento), as
linhas e arranjos de guitarra da banda muito me agradam. Um hino dançado e
cantado em coro pelo coletivo multicultural que é o Psicodália. Não é por nada
que leva o nome de ‘movimento’ Psicodália. ‘Ir e sentir o calor da rua’, do
público, das relações. Eis! Obrigado banda!
Obrigado Psicodália! Viva Francisco, el Hombre – e as diversidades!
Obrigado Psicodália! Viva Francisco, el Hombre – e as diversidades!
Depois do Ney
Matogrosso, saímos trocar um pouco o ar e acabamos perdendo um que ouvi
falar, foi grande show, Los Pirañas.
Banda latina. Queria ter visto/ouvido. Mas, infelizmente, nem tudo se pode
ver/ouvir num lugar cheio de atrações, amizades, paisagens fotográficas. São
várias as seduções que o Psicodália promove. Fomos até o CTG, no segundo piso
onde a imprensa desenvolve seus trabalhos. Lá sentamos numa roda e rolou um
agradável tempo de bate-papo entre ‘colegas de trabalho’. Falamos dos shows, do
cenário político atual, das coisas da vida, entre muitos risos e algumas
seriedades. Adriane Perin (responsável pela imprensa do festival) e seu
companheiro Ivan Santos (que também trabalha com jornalismo e é compositor),
Luciana Penante e outros/as, são pessoas sérias no trabalho - e divertidas.
Também, não haveria de ser diferente. Trabalhar com arte e cultura, por mais difícil
que possa ser, é divertido e recompensador. Graças a trabalhos como estes é que
temos espaços e momentos como este – o Psicodália, no caso. Passado um tempo, já
em postos novamente, sobe ao Palco dos Guerreiros, outro dos shows que mais
queríamos ver.
Roberta Motta, Adriane Perin, Luciana Penante..
Fernando Sbeghen, Herman..
Liza, Lu e Fernando..
Ian Ramil (Palco dos Guerreiros) é filho do
grande compositor gaúcho Vitor Ramil
e sobrinho dos irmãos Kleiton e Kledir
(Almondegas – grande banda gaúcha dos
anos 70). Como fãs desta sua família musical, não poderia ser diferente com
ele. Independente das influências, da família, o cara compõe pra caralho! Belíssimas
musicas muito bem executadas. Bandaça! E que show! Valeu cada acorde. Um dos
grandes shows do Psicodália. Curtimos demais! Um misto de música brasileira,
MPB, com Jazz e Progressivo. Algo neste sentido. Ian Ramil e banda trazem algo
‘diferente’. Leveza e muito peso na mesma composição. A presença de Ian no
palco é de uma serenidade, seu cantar de uma espontaneidade. Tem
espiritualidade em si e na sua música. Acho que é esta a melhor forma de
traduzir o que é a banda e seu cantor-compositor. Música e linguagem
contemporâneas com espiritualidade, no conceito de Tarkowski. Demais! Espero
que retorne ao Psicodália, assim como achava que viria novamente o grande show
do Cidadão Instigado. Bandas assim
não devem nada ao passado, a não ser a continuidade daquilo que é bom. Ian Ramil comprova que a música e o rock
nacionais estão vivos e ativos, assim como foi com a próxima banda que veio...
The Baggios sobe ao Palco dos Guerreiros. Como
já era esperado por nós, uma porrada sonoro-musical. De dupla que eram (são) a
trio (presença de um tecladista no show). Demais! O rock e sua visceralidade,
numa grande qualidade musical! Arrepiei com os timbres da guitarra. Belas composições
as do Julio Andrade. Tivemos o prazer de conhecê-lo pessoalmente alguns anos
atrás, ali mesmo, na noite, pelas ruas do Psicodália, quando veio tocar com a Plástico Lunar (outra das nossas bandas
preferidas que já tocaram no festival). Na ocasião ganhamos um CD dele, e foi
onde passamos a conhecer e nos tornar fãs do Baggios. Naqueles anos, Julio era guitarrista da Plástico. The Baggios é uma banda de Aracajú, capital do Sergipe. Um duo (que
é trio também) e que manda brasa no palco, além de ter belíssimas composições.
Assim como o Ian Ramil, seu mais
recente disco é dos grandes discos do rock nacional destes últimos anos. Depois
encontramos Julio mais algumas vezes pela fazenda, com a simpatia e
simplicidade de sempre, trocamos algumas ideias. Pelo jeito também acampava por
lá. Um baita show de uma baita banda! OBRIGADOOO The Baggios!
Andes de cair na barraca, conseguimos ver um naco da Tagore. Já era bem tarde e o cansaço
bateu forte. Dei um ou dois tiros. O show estava bom. A galera curtindo e
respondendo à altura. Mas não teve jeito. Fome, sede, cansaço. Comer algo e
cair no colchão foi o canal. Dali algumas horas a vida continuaria com toda sua
intensidade no Psicodália. A diversão e o trabalho...
* Fotos: Herman e Liza Bueno
Continua...
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