segunda-feira, março 27, 2017

“Já sei pra onde vou. Eu vou sentir o calor da rua!” - Domingo, 26/02

O domingo acorda alegre e preguiçoso, e nós com ele. Lentos e sentados em frente às barracas contemplando as paisagens (sim, no plural: natureza, intervenções humanas no espaço e pessoas). Sou adepto a contemplar, observar. Desde criança. Gosto de ver, perceber, ler, pensar. E foi observando e pensando que pensei: Se me pedissem para resumir o Psicodália 2017, mesmo não havendo a real possibilidade, talvez eu diria que foi um Psicodália recorde em acampados e em diversidade, principalmente de gênero. O Psicodália mais Black/Soul/Funk, brasileiro e LGBT de todos até então. Este foi um aspecto, no mínimo, interessante deste Psicodália. As diversidades, ditas ‘minorias’, os grupos socioculturais como tribos reunidas, manifestando, seus modos, suas artes, suas palavras, suas políticas. Algum modismo? Sim, provavelmente. Mas muita realidade. Pertenço a algum grupo? Não sei. Acho que sim. Ou não?! Talvez! Mas vamos lá, nem só de pertencimentos vive o homem. Digo, o ser. Às vezes gosto de não pertencer, não estar, não ser. Às vezes, gosto!

 Enfim. Divagações a parte, vamos aos fatos...





Nossa noite começou com a Noite Latina na Rádio Kombi. Uma mexida no esqueleto com amigos/as e preparar a alma e o corpo e a mente para um dos shows que mais esperávamos ver nesta edição do Psico...

Francisco, el Hombre (Palco do Sol) foi o esperado. Grande show. Grande banda! Música contemporânea brasileira, com o gingado, a musicalidade e o recado. Os ‘Fora Temer!’ continuavam. Volta e meia alguém puxava e o grande público mantinha. A banda feita da diversidade de que eu falava acima. Uma das que mais representa isso, esta ‘mistura’ de formas e modos de ser-estar. Um show intenso, dançante, crítico, artístico! Entre meus preferidos do festival. Como guitarrista que sou (ou pelo menos tento), as linhas e arranjos de guitarra da banda muito me agradam. Um hino dançado e cantado em coro pelo coletivo multicultural que é o Psicodália. Não é por nada que leva o nome de ‘movimento’ Psicodália. ‘Ir e sentir o calor da rua’, do público, das relações. Eis! Obrigado banda! 

Obrigado Psicodália! Viva Francisco, el Hombre – e as diversidades!




 


Um intervalinho e no Palco Lunar começa um dos shows mais esperados desta edição pelo grande público, Ney Matogrosso. O ex (ou eterno?!) Secos & Molhados brilhou (literalmente) no palco do festival. Um belo show, como haveria de ser. Bem musical e estético. O cara é bom! Tem bela história. É profissional. Sabe o que faz no palco. E canta, canta muito! E dança, e brilha. Porém, alguns (assim como eu), acharam o show um pouco curto e formal demais para um festival como o Psicodália. Não lembro de ter visto/ouvido Ney dirigir a palavra ao público (nem tão integrado ao espírito do festival), ao contrário de TODOS os outros artistas que por ali passaram. Eu diria, um tanto ‘platônico’. Mas também, não tem que ser igual, não é mesmo? Um belo show. Sem bis, e com pouca aproximação. Mas bonito, bem feito, um tanto ‘objetivo’. Gostei. Não muito mais que isso. Valeu a pena? Valeu! Curtiria novamente se tivesse. Mas não elegeria entre meus preferidos dos mais, digamos, ‘consagrados’ ou conhecidos. Enfim...

 

Depois do Ney Matogrosso, saímos trocar um pouco o ar e acabamos perdendo um que ouvi falar, foi grande show, Los Pirañas. Banda latina. Queria ter visto/ouvido. Mas, infelizmente, nem tudo se pode ver/ouvir num lugar cheio de atrações, amizades, paisagens fotográficas. São várias as seduções que o Psicodália promove. Fomos até o CTG, no segundo piso onde a imprensa desenvolve seus trabalhos. Lá sentamos numa roda e rolou um agradável tempo de bate-papo entre ‘colegas de trabalho’. Falamos dos shows, do cenário político atual, das coisas da vida, entre muitos risos e algumas seriedades. Adriane Perin (responsável pela imprensa do festival) e seu companheiro Ivan Santos (que também trabalha com jornalismo e é compositor), Luciana Penante e outros/as, são pessoas sérias no trabalho - e divertidas. Também, não haveria de ser diferente. Trabalhar com arte e cultura, por mais difícil que possa ser, é divertido e recompensador. Graças a trabalhos como estes é que temos espaços e momentos como este – o Psicodália, no caso. Passado um tempo, já em postos novamente, sobe ao Palco dos Guerreiros, outro dos shows que mais queríamos ver.


Roberta Motta, Adriane Perin, Luciana Penante..

Fernando Sbeghen, Herman..





Liza, Lu e Fernando..


Ian Ramil (Palco dos Guerreiros) é filho do grande compositor gaúcho Vitor Ramil e sobrinho dos irmãos Kleiton e Kledir (Almondegas – grande banda gaúcha dos anos 70). Como fãs desta sua família musical, não poderia ser diferente com ele. Independente das influências, da família, o cara compõe pra caralho! Belíssimas musicas muito bem executadas. Bandaça! E que show! Valeu cada acorde. Um dos grandes shows do Psicodália. Curtimos demais! Um misto de música brasileira, MPB, com Jazz e Progressivo. Algo neste sentido. Ian Ramil e banda trazem algo ‘diferente’. Leveza e muito peso na mesma composição. A presença de Ian no palco é de uma serenidade, seu cantar de uma espontaneidade. Tem espiritualidade em si e na sua música. Acho que é esta a melhor forma de traduzir o que é a banda e seu cantor-compositor. Música e linguagem contemporâneas com espiritualidade, no conceito de Tarkowski. Demais! Espero que retorne ao Psicodália, assim como achava que viria novamente o grande show do Cidadão Instigado. Bandas assim não devem nada ao passado, a não ser a continuidade daquilo que é bom. Ian Ramil comprova que a música e o rock nacionais estão vivos e ativos, assim como foi com a próxima banda que veio...

 
 

The Baggios sobe ao Palco dos Guerreiros. Como já era esperado por nós, uma porrada sonoro-musical. De dupla que eram (são) a trio (presença de um tecladista no show). Demais! O rock e sua visceralidade, numa grande qualidade musical! Arrepiei com os timbres da guitarra. Belas composições as do Julio Andrade. Tivemos o prazer de conhecê-lo pessoalmente alguns anos atrás, ali mesmo, na noite, pelas ruas do Psicodália, quando veio tocar com a Plástico Lunar (outra das nossas bandas preferidas que já tocaram no festival). Na ocasião ganhamos um CD dele, e foi onde passamos a conhecer e nos tornar fãs do Baggios. Naqueles anos, Julio era guitarrista da Plástico. The Baggios é uma banda de Aracajú, capital do Sergipe. Um duo (que é trio também) e que manda brasa no palco, além de ter belíssimas composições. Assim como o Ian Ramil, seu mais recente disco é dos grandes discos do rock nacional destes últimos anos. Depois encontramos Julio mais algumas vezes pela fazenda, com a simpatia e simplicidade de sempre, trocamos algumas ideias. Pelo jeito também acampava por lá. Um baita show de uma baita banda! OBRIGADOOO The Baggios!


 


Andes de cair na barraca, conseguimos ver um naco da Tagore. Já era bem tarde e o cansaço bateu forte. Dei um ou dois tiros. O show estava bom. A galera curtindo e respondendo à altura. Mas não teve jeito. Fome, sede, cansaço. Comer algo e cair no colchão foi o canal. Dali algumas horas a vida continuaria com toda sua intensidade no Psicodália. A diversão e o trabalho...





* Textos: Herman Silvani
* Fotos: Herman e Liza Bueno


Continua...



sexta-feira, março 10, 2017

Psicodália 2017 – Edição Comemorativa: 20ª Edição

Impressões & outras intervenções...


* Textos: Herman Silvani
* Fotos: Herman e Liza Bueno


Parte I

Mais um festival Psicodália de carnaval aconteceu e a saudade já bate no peito. Edição comemorativa, 20º edição em 16 anos de festival - descobri isso numa conversa noturna com o Alexandre Osiecki pelas ‘ruas’ do Psicodália (um dos organizadores do festival e baixista da banda Nave Maria). Sim, o Psicodália em alguns momentos parece uma cidade. Ou melhor, uma comunidade, dessas alternativas, utópicas, independentes. A fazenda Evaristo tem ruas. E no Psicodália, essas ruas tem nomes. Nomes que são homenagens à artistas que já se foram e deixaram seus legados artísticos para o mundo. Esta edição do Psicodália foi diferente da anterior, alguém disse. Sim, foi. E a anterior foi diferente da outra que foi diferente da outra. E assim foi e assim vai. O Psicodália mudou, também ouvi. Sim, mudou. Ele sempre muda. Pra melhor, pra pior? Sim. Também. Em algum sentido sim, em outro sentido, também. Mas vamos aos fatos e alguns boatos. Boas leituras!




Baterias carregadas (as nossas e as das câmeras fotográficas), mochilas feitas, depois horas de estrada. Uma cervejinha gelada, compartilhada com amigos e novos contatos na fila de chegada para relaxar e comemorar. Já dentro da fazenda, barracas armadas (desta vez acampamos no Casa das Máquinas), um role e tiros, muitos tiros, para todos os lados (fotos). Completamos 11 anos de Psicodália (eu e Liza), todos eles divulgando o festival, 8 ou 9 anos ‘oficialmente’ trabalhando como imprensa, fotografando, escrevendo, entrevistando, divulgando, pré e pós evento (e tocando em 2 edições com a Epopeia, 2013 e 2016), o que nos faz, de certo modo, ser parte do festival, para além de público (o que também somos, pois, além dos trabalhos, curtimos o festival e suas atrações), o que muito nos honra, pois para nós que vivemos parcialmente experiências ‘alternativas’, vivenciar e somar num evento como o Psicodália é questão de ‘causa’ e não obrigação ou apenas diversão (muito menos turismo). Acompanhamos neste tempo de integração, o crescimento do festival, seus vários e deliciosos sabores - e alguns dissabores, já que falamos de um evento que se tornou de grande proporção dentro do contexto ‘alternativo-independente’, feito por pessoas, e que acolhe outras pessoas de variados pensamentos, segmentos, costumes, hábitos. Ou seja, o Psicodália não é o paraíso (ele, o paraíso, não passa de um ideal), e também não é uma religião onde todos seguem uma mesma crença. Enfim, vamos aos shows...
























Primeiramente: “FORA TEMER!- Sexta, 24/02


Sá & Guarabyra (Palco Lunar) foi a primeira atração que curtimos na primeira noite de Psicodália. Mais que uma dupla, um trio. Digo isso pelo fato de Pedrão (leia-se Som Nosso de Cada Dia, banda que tivemos o prazer de ter visto e conversado numa das edições do Psicodália, ainda quando era realizado em São Martinho), simplesmente um dos grandes baixistas e cantores do rock nacional, fazer parte deste show. Além dele, toda a banda, muito competente musicalmente falando. Um belíssimo show, como foi da outra vez em que tocaram no festival. e Guarabyra continuam poéticos com suas belas canções, cantadas em coro pelo público, para dizer ao mundo que o Psicodália começara ‘muito bem obrigado!’, com a saúde artística e musical de sempre, e com um ‘agravante’, gritado pelo grande público em bom e alto tom: “FORA TEMER! FORA TEMER!”, tanto que, o palco silenciou por alguns instantes na espera do término da manifestação oportuna e coerente do grande e consciente público que, em vários momentos do festival, seja durante os shows ou a partir dos acampamentos, manifestou-se contra este governo e seus vários golpes. Para quem não queria ‘misturar política com arte’, não teve jeito (a ‘arte’ já não seria uma forma de ‘política’?). Durante todo o festival, incrivelmente, ouvi mais ‘Fora Temer’ do que ‘Wagner’. Ainda bem! Sá e Guarabyra também deixaram alguns recados ‘políticos’ ao ironizar o governo do norte da América de Trump e seu projeto contra a imigração. No primeiro dia, na primeira noite, já tivemos um ‘pré’ do que seriam os outros dias do festival. E penso que não haveria de ser diferente, dadas às circunstâncias que todos os acordados deste país devem saber. Talvez me decepcionasse se fosse o contrário. Já pensou ouvir do grande público “Bolsonaro 2018”?, ou “Viva Moro!”? Aí sim teríamos sérios problemas de incoerência ou contradição. Enfim. “FORA TEMER!” mais uma vez – só pra não perder a deixa...


 







Casa das Máquinas (Palco Lunar) sobe ao palco com o gás costumeiro de sempre. Instrumental impecável e vocal que complementa bem o todo. Encontrar os amigos pela fazenda e poder novamente trocar alguns dedos de prosa com os mesmos, é sempre bom. Conhecemos o Marcelo Schevano (atual guitarrista da Casa) desde início dos anos 2000, quando tocava na Patrulha do Espaço, outra das grandes bandas do rock nacional, capitaneada pelo mestre e amigo Rolando Castello Junior, um dos maiores bateristas do nosso rock. Conhecemos pessoalmente os demais habitantes (ou trabalhadores) da Casa das Máquinas quando, nos últimos meses de 2016, com a Epopeia, dividimos o palco, por duas vezes aqui na região Oeste de Santa Catarina. Foram boas experiências, além de musicais, humanas. Marinho (bateria) e Fabio (baixo), além de grandes músicos, são muito simpáticos. Cito ambos, pois, foi os que mais tivemos contato (além do Marcelo). Já havíamos visto a banda por duas vezes no Psicodália, sendo a primeira ainda numa das edições em São Martinho, que contava com Faíska (Joelho de Porco) na guitarra, os irmãos Netinho (Os Incríveis e Casa formação original) e Marinho (Casa e Tutti-Frutti) nas baterias (isso mesmo, o show teve as duas baterias tocando simultaneamente), Andria (Dr. Sin) no baixo e vocal, e Testoni nos teclados. Casa das Máquinas, uma das grandes bandas do rock setentista nacional, mais uma vez levantou o público com seus clássicos e deixou no ar uma das suas novas composições. Pelo que me parece vem disco novo por aí, o que faz (ou fará) da banda, além de ‘clássica’, uma banda atual. Enfim, ficamos na torcida e aguardo...


 





























Cabruêra (Palco dos Guerreiros) foi uma das bandas que eu e Liza mais esperávamos ver neste Psicodália. E vimos. E cantamos, suamos, dançamos, sentimos, sorrimos. Um show, uma festa, um ritual, uma roda, que integrou e trouxe o nordeste para o Psicodália. Estávamos lá, todos nós, de mãos dadas entregues ao momento. Vimos, nos enlaçamos: Francisco el Hombre, Liniker, Sopro Difuso, Bandinha Di Dá Dó,  Cia Conta Causos, Epopeia, entre tantos outros, dançando, cantando, integrando a grande roda. Grande show, grande banda, grande som! Ritmos nordestinos, muita criatividade e psicodelia rural-sertaneja (do sertão), a típica psicodelia brasileira, tão ou mais psicodélica que a californiana. O antigo e o novo, num tanto de rusticidade com tecnologia mecânica, feita a caneta, vozes, efeitos. Quem viu/ouviu sabe do que estou falando. Energia e espiritualidade. Música e linguagem, para além da simples compreensão. No chão da Cabruêra, o negócio é sentir, integrar e cair na roda. Obrigado sertão!









Depois de Cabruêra saímos para um role na fazenda, encontrar amigos/as da região e outros que só encontramos no Psicodália. E a noite se encerrou entre o cansaço de uma longa viagem e uma energia positiva possibilitada pela primeira noite de Psicodália. Deitamos e fomos sucumbindo, sorridentes num sono recheado de sonhos alegres, afinal, sabíamos, era só a primeira noite...














(da esq. para a dir.): Liza, Daniel, Sergio, Josiane, eu...



“Mulher, negra, macumbeira e de esquerda...” Sábado, 25/02

O dia nasce na fazenda Evaristo. Acordo com ele (o dia) já de pé e caminhando. Demoro para levantar. A mente quer, mas o corpo não deixa. Vamos respeitar a natureza e esperar, até que o corpo possa. Mente e corpo em sintonia, energia pronta, equilíbrio feito. De pé e acordados, um mate cevado compartilhado em roda com novos vizinhos de acampamento recém conhecidos. Depois um café passado e rua. Caminhar, interagir, integrar, fotografar (não necessariamente nesta ordem). Assim passamos o dia. Entre visitas a oficinas, Yoga e Tai Chi Chuan, alguns tragos e estragos, muita alegria, diversão, trabalho: prazer! Essa foi a ‘lei’. Essa foi a ‘regra’. Até a noite chegar e vir nos abraçar, como uma mãe abraça um filho, com carinho, amor, e proteção. Aconchegados por ela para mais uma noite de belos shows. E nós retribuímos com sorrisos e abraços nas estrelas...








































Cátia de França (Palco do Sol), primeira mulher que ‘ouvimos’ subir ao palco desta edição do Psicodália para um show. ‘Ouvimos’ porque quando chegamos frente ao palco já estava se despedindo, tanto que nem deu para fotografarmos, então, praticamente não vimos o show. Ficamos tristes com isso, pois foi uma das atrações esperadas por nós. Porém, recompensados e mui alegres com seu carinho e diálogo na coletiva de imprensa. Cátia de França, uma estrela não fabricada, mas de brilho próprio, natural. Simplesmente uma mestra ou maestra da música e cultura brasileiras. Uma das conversas mais sinceras que já tivemos numa coletiva de imprensa. Entre assumidas condições e firmes posições, um sorriso pleno e vivaz de pessoa que muito viveu e muito sabe. Que energia daquela mulher! Abençoou a Liza apertando-lhe docilmente as mãos, nos emocionando, e garanto, emocionando também os demais que de bênçãos de avós ou pais cresceram um dia. Também tive o prazer de ter sua benção. Meu corpo se encheu de energia e minha alma de alegria. Na entrevista, quando indagada sobre ‘ser mulher ontem e hoje, cantora, artista, em relação ao atual contexto político nacional’, respondeu com firmeza: “Minha filha... ‘Sou Mulher, negra, macumbeira e de esquerda...’ além de outras coisas que não precisa dizer aqui, que não vem ao caso...” (rindo-se neste momento da fala). Afirmou-se como artista e mulher que canta a vida, e por isso a vive como tal. Artista que ‘paga aluguel e não tem carro’. Que não vive na TV e pela TV e que, por isso não é menos artista - mas talvez, seja mais. Se perdemos visualmente seu show, ganhamos sua luz e presença pessoal nos ‘bastidores’. Um dos grandes momentos do Psicodália 2017 para nós. Obrigado Cátia de França! E foi assim que começamos nossa intensa noite de sábado no Psicodália...

























Um giro pela fazenda, entre uma cerveja e outra, diálogos com amigos/as, conhecidos/as, cães que passeavam livremente pelas ruas, paramos em frente a Rádio Kombi onde rolava a festa da Noite Funk. Muita dança e diversão ao som do soul-music nacional e internacional. Ficamos ali por algum tempo e fomos para o Palco Lunar, começava o show de Di Melo & Trombone de Frutas. E que show, eim?! Mais uma vez, ambos, mandaram brasa e fizeram o público subir. Muito swing, muita vibe, energia. Musical de primeira da Trombone e poética profunda do mestre Di Melo. Além dela, mais uma vez, a política. O grito em coro “FORA TEMER!” novamente se fez ouvir por toda a fazenda. Além da multidão, a banda Trombone de Frutas cantou em um de seus refrões este ‘grito’. Sim, “FORA TEMER!” como refrão da música. Teve também discurso? Teve! E com muita propriedade. Olha só seu governo, acho que deu, né? Vai-se embora que já passou da hora. Aliás, nunca deveria ter sido. Ouça o eco e vaza! Adquira talvez assim, um mínimo de dignidade. Pede pra sair. Sai fora! Vai! Competência, musicalidade, arte, manifestação, política! Isso mesmo meus caros e caras, isso também é o Psicodália. Isso também é o mundo!
























Liniker foi a próxima atração a subir no Palco Lunar. Já muito conhecida do grande público alternativo, Liniker e banda fizeram um belíssimo show. Confesso que, não era muito fã das músicas, apenas simpatizava com elas (não sei ainda se sou tão fã, mas já gosto mais). Tocamos com a Epopeia no Morrostock mais recente (2016), no final do ano em Santa Maria/RS, festival na mesma vibe do Psicodália (um tanto menor, mas não menos intenso), onde Liniker também tocou, e não tivemos a chance de ver o show, já que bem na hora passávamos o som no nosso palco que era outro. Volta e meia, ouvimos seu som em casa, mas de tantos sons e bandas que ouvimos, não era um dos que nos chamava tanto a atenção. Apreciávamos mais a questão estética e artística dela e banda em palco do que o som propriamente dito. Porém, agora, depois de ver/ouvir ao vivo, opa, algo mudou. Ouvimos um tanto mais. Coisas que ‘só vendo pra crer’, como diz o velho e popular chavão. Ou seja, a soma do som com a imagem, e principalmente a imagem apresentada (ao vivo), presencial, gera outra compreensão e sensação que, às vezes só as gravações não oferecem. E Liniker, eu gostando um tanto ou não, é uma grande artista e canta e dança em uma grande banda. E isso eu posso afirmar, entendendo um pouco mais do que estou falando agora, depois de ver/ouvir e sentir o show ali, bem na minha frente. Muito bom! Valeu cada acorde musical, cada palavra cantada ou dita no palco. E, amigos/as, houve também ‘manifestos’, artísticos, políticos, de gênero. Ouve vida e postura. Grande energia que se expandiu por toda a fazenda... e pelo mundo, porque não?!





















Metá-Metá (Palco Lunar) já é uma banda bem conhecida do público que frequenta a mais tempo o Psicodália. Já vimos, pelo menos 3 vezes seus shows no festival. Sempre muito bons e diferentes um do outro. Uma grande banda. Grandes músicos e uma vocal que chama toda a vista para o palco. Ficar alheio? Jamais! Da MPB, progressivo ao punk hard core, Metá-Metá faz tremer o chão e tudo o que estiver sobre ele. Um peso musical que vem não sei de onde. Talvez da alma, talvez da composição. Sim, da composição. Metá-Metá é uma composição – também! E mais uma vez, nos fez vibrar e sentir. Grande show!




Era bem tarde da noite ou cedo do dia, dependendo do ponto de partida, e a Orquestra Friorenta tocava no Palco dos Guerreiros quando, por algum impulso astral do universo transcendental conspirador, fomos levados a ir até onde a banda conspirava ou fazia seu ritual. E lá chegamos. E lá estava ela, a tal da Orquestra Friorenta. Um show instigante, provocativo e, é claro, musical, muito musical. Um tanto de teatro ou representação no palco – nos bons sentidos artísticos das palavras (como preferirem). As indumentárias eram um show a parte. Engraçado e crítico. Olha aí, novamente ela, a política (na sua ampla e possível concepção). Política é também relação, ato, feitura, ação, para além das instituições. Questionar as tradições e as coisas quadradas postas em seus (in)devidos lugares, seja pela música, pela performance ou pela palavra, também é um ato político, não é? Então... Orquestra Friorenta fez isso, além do bom show que nos fez retardar o cansaço de um dia e uma noite intensos nos deixando energias para um tanto do próximo show que viria...


















Charles & os Marretas continuou com o estrago no Palco dos Guerreiros. Corpo esgualepado, mas cabeça pensante e sensibilidade aguçada. Ao som do Funk/Soul/Black, o público dançou, pulou, vibrou com o balanço desse grupo. Uma baita banda que fez jus ao seu horário de tocar. Guerreiros os que dançam e cantam. Guerreiros os que tocam e fazem dançar e cantar. Ficamos por um bom tempo curtindo o belo show – era difícil desgrudar e não balançar o corpo. Sonzêra, eim?! Resistimos. Até um vento convidativo vir sussurrar aos nossos ouvidos para outros prazeres: o de comer, beber, conversar, sorrir e por fim, dormir. E lá se fomos, investir um tempo nisso, no Saloon. O tempo se perdera e o sorriso embriagado da manhã surgia no horizonte, sob a lona da barraca, umedecida pelos pingos de uma chuva que ensaiava, mas não caia – ou era o orvalho que despencava da copa dos pinheiros que compõem a paisagem campestre do lugar?


































































Continua...