Parte final...
Segunda,
08/02
Acordamos tarde na pousada. Um descanso
prolongado. Depois do banho, reunimos o povo o fomos almoçar no centro de Rio
Negrinho. Aliás, um bom e barato restaurante. Encontramos lá velhos conhecidos
do Psicodália, o Ivan (vocal da Confraria da Costa) e o Herman, meu xará (que
já foi guitarrista do Sebbo e hoje toca na Confraria também) e suas respectivas
companheiras. Conversamos por um breve momento e depois fomos ao supermercado
pegar algo para beber. Chegamos à fazenda já era meio da tarde. Um role para
fotos e mais fotos, cerveja, papos e risos. Um dia muito alegre acontecia. Ao lado
do Palco do Sol muitas atividades e boa sombra para descanso, com boas ‘trilhas
sonoras’ ao vivo. Nisso, pegamos parte da bela apresentação de uma cantora que
não conhecíamos...
Thaís Morell, 17:30h
Thaís Morell cantou e encantou muita gente.
Não a conhecíamos, mas foi bom ter visto/ouvido sua apresentação. Serena,
sutil, bastante musical, boas letras e melodias. MBP refinada. No meio de tanto
rock e sons instrumentais de ‘peso’, no meio de tanta eletricidade e
amplificação, Thaís Morell trouxe certa ‘suavidade’ com sua voz e violão. A
calmaria e boa musicalidade se espalharam pelo Palco do Sol numa tarde serena
como a apresentação de Thaís Morell.
Alguns registros e sentamos na grama junto ao
povaréu, bebericar e compartilhar o momento com amigos, conhecidos,
desconhecidos e qualquer pessoa que viesse conversar. O Psicodália tem muito
disso, as pessoas interagem a todo tempo e todo lugar, uma das mais marcantes características
do festival: a ‘interação’ das pessoas com o lugar e entre elas. A comprovação
de que a arte liga as pessoas e as coisas. Depois mais um role pela fazenda e
fomos até o lago para curtir um pouco daquela tranquilidade.
Chega à noite, e o espírito se inquieta
esperando para ver/ouvir duas das atrações musicais mais esperadas por nós
nesta edição do festival.
Cidadão
Instigado,
21h
Em frente ao palco esperávamos as cortinas se
abrirem. Não demorou muito e a banda Cidadão Instigado apareceu, com tudo! Que
show! Que musicalidade! Que composições! A força do rock contemporâneo
nordestino, brasileiro! Pouca influência gringa se ouve nas composições do
Cidadão Instigado. Já gostava muito dos discos da banda, agora, ao vivo, é
muito bom! Música sofisticadíssima e ao mesmo tempo com uma simplicidade
lírica, sem perder o recado, a mensagem, o contato com o público. Algo diferente
do ‘tradicional’. Ou seja, um misto de rock universal e psicodélico com música
regional, onde certo eruditismo progressivo se mistura com a música popular,
não a MPB, mas aquela de bar, comum pelos cantos do Brasil. Fernando Catatau é
um grande compositor e guitarrista. Um show de arranjos e timbres. Pena que o
show foi curto demais (ou eu é que, de tão bom, nem vi passar?). Tocaram seu
mais recente e belíssimo álbum, o ‘Fortaleza’. Ficaram de fora algumas músicas
que eu gostaria muito de ouvir ao vivo, como ‘Nada’ e ‘O pobre dos dentes de
ouro’. Mas tudo bem, a magnitude e musicalidade do show compensaram as faltas. Uma
banda muito entrosada e que faz aquilo que deve ser feito: música, arte! Belo
show! Que volte ao festival numa próxima edição!
Depois do show, no curto intervalo entre
Cidadão Instigado e Elza Soares, rolou a coletiva de imprensa que, assim como o
show, foi curta, porém, muito significativa. Na oportunidade, eu e o Paulo Ph (da
Sensorial e vocal/guitarra/sintetizador da banda chapecoense Feito Elétrico, da
qual também faço parte), aproveitamos e falamos dos eventos alternativos que
acontecem pelo país, botando pilha na organização do Psicodália para que tragam
mais atrações nordestinas ao festival, pois as que vieram se mostraram muito competentes
e intensas artisticamente falando. Lira (Lirinha, ex-Cordel do Fogo Encantado),
que pude ver/ouvir e conhecer ao vivo numa feita na Bahia, seria um belo
pedido, sendo um dos shows mais intensos da música brasileira contemporânea que
já vi/ouvi (demais!), assim como Siba, Céu, Karina Buhr, entre outros. Na
coletiva, conversamos pessoalmente com o Catatau que foi muito simpático e
demonstrou (assim como toda banda) uma enorme satisfação em tocar no sul e no
Psicodália, dizendo na entrevista que não percamos este espaço, este tipo de
festival, pois é diferente de tudo, sendo que hoje, Cidadão Instigado é uma das
bandas nacionais que mais roda no circuito alternativo-independente do país. Quando
saía do camarim, uma mulher que não me era estranha me chamou pelo nome. Começamos
a conversar e ela me fez lembrar de onde eu a conhecia. Era a Patrícia,
produtora do Lira, que conheci no show na Bahia citado acima, e que também é
produtora do Cidadão Instigado. Fiquei muito alegre em revê-la e poder trocar
um dedinho de prosa com ela, uma pessoa muito querida e simpática, a ponto de
lembrar de minha pessoa e meu nome. Por fim, novamente o Psicodália nos traz
reencontros, além dos novos conhecidos e novas amizades geradas. O poder da
música, da arte, que liga e integra pessoas. Viva Cidadão Instigado, a música
nordestina e brasileira!
Liza, Catatau (com DVD da Epopeia) e eu (foto: Paulo Ph, Sensorial)
Elza Soares, 23h.
Dirigimos-nos direto do camarim que ficava
atrás do palco, para frente do palco. Em poucos minutos a voz peculiar da
magnífica Elza Soares ecoou. E como ecoou! Não existem palavras que possam
descrever tamanho espetáculo. Um show profundo, intenso, raro, digno de sê-lo.
Elza Soares cantou, fez cantar e chorar com o show do seu novo e belíssimo
disco: “A mulher do fim do mundo”. Que disco! Que show! Que Mulher! Uma digna
mulher, artista e cantora brasileira que cantou o feminino, a condição da
mulher na sociedade, sem endurecer, com sensibilidade e em tom contemporâneo. Um
disco com uma linguagem atual, para todos (inclusive a juventude) ouvirem, e um
show sensacional! Um dos grandes momentos da história do Psicodália, sem
dúvida! E Elza canta demais! Ainda! Mesmo com problemas de locomoção pela idade
avançada, Elza trouxe a energia da mulher brasileira para cantar seu recado,
sua arte, sua musicalidade ao festival. Um show muito bem produzido,
esteticamente e musicalmente falando. Algo conceitual e muito atual. Música sofisticadíssima,
sem tirar nem por. Contou com nomes contundentes da música brasileira atual,
além da aparição de um grande ator/cantor que representou certa negritude neste
‘ato’. Questões sociais, sem perder a arte e a musicalidade, foram cantadas e
representadas neste grande show. E nós agradecemos a grande Elza Soares e sua
produção por isso, assim como, mais uma vez, agradecemos ao ‘movimento
Psicodália’!
Depois das porradas sonoras que foram os
shows do Cidadão Instigado e da Elza Soares, saímos para dar uma esfriada. Tanta
emoção e musicalidade faz um efeito ‘chapante’ em que ‘recebe’ – mas não só
recebemos, pois não há como ficar alheio a apresentações como estas. Nós, o ‘público’,
devolve com muita energia, aplausos e carinho tudo o que nos é dado com
sinceridade, pois estamos ali para compartilhar, integrar e interagir. Enfim...
Confraria da
Costa,
1h.
Como é por ‘tradição’, o show da Confraria
fez o público pular, dançar e cantar. Novas e velhas canções de pirata. Herman
(meu xará) novo guitarrista da banda, caiu bem. E o show, como haveria de ser,
muito musical e com uma incendiária presença de palco, foi uma festa. Confraria
da Costa é uma banda que sempre causa um efeito festivo no público, que dança,
canta, se diverte, interage durante o show. Desta vez não fui para frente do
palco, a muvuca era tanta e eu (nós) estávamos cansados para ficar pulando. Mesmo
assim alguns registros à distância foram feitos. Bora marujos!
Gostaríamos de ficar para ver/ouvir a Skrotes também, mas não foi possível. Inclusive,
por motivos de trabalhos, acabamos voltando mais cedo para casa. Na terça havia
planejado de ver os amigos da Marujo
Cogumelo, banda da cidade vizinha Xanxerê, que pela primeira vez tocou no
festival, e assim como a Epopeia, subiu ao Palco do Sol às 13h, só que da
terça-feira. Por esta vinda antecipada, também acabamos perdendo os shows que
queríamos ver muito do Naná Vasconcelos,
Nômade Orquestra, O Terno (que fez um baita show na edição
passada do Psicodália), entre outros. Ouvimos dos amigos que ambos foram belos
shows.
Considerações
Finais
Mais um Psicodália passou, o nosso 10º. E entre
curtir, trabalhar (na imprensa, divulgando, fotografando e escrevendo) e tocar,
neste tempo todo tivemos uma baita ‘escola’, pois muito do que acontece no
festival dá para encarar como ‘oficinas’, ‘cursos’ e/ou ‘workshops’, tudo com
muita alegria, diversão e intensidade, além dos reencontros com amigos/as que
de tempo em tempo acontecem. 10 anos de presença, participação, integração. Uns
8 anos trabalhando na imprensa, 2 tocando com a Epopeia, e todos curtindo o
evento. Pontos positivos, vários, inumeráveis. Negativos, alguns, como, este
ano, por exemplo, não teve oficina ou prática de Tai Chi - ou outra ‘arte-cultural’
chinesa. Se lembrar de outros, outro dia quem sabe os traga a tona (risos). Mas
enfim...
Que venha o Psicodália 2017! Obrigado!
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Textos: Herman G. Silvani
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Fotos: Herman G. Silvani
& Liza A. Bueno
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