13/02, sexta:
Mochilas e câmeras fotográficas
prontas e pé na estrada para mais um ano de experiências sonoras, existenciais,
individuais e coletivas. Saímos de Chapecó, Velho Oeste catarinense, já era
passado da meia noite de quinta para a sexta-feira. A viagem como um todo foi
tranquila e musical. O ônibus veio de São Miguel do Oeste já com algumas
pessoas. Passamos pelas cidades visinhas de Xaxim e Xanxerê pegar outro povo
e... demovia! A trilha sonora da viagem até Rio Negrinho foi Emerson, Lake
& Palmer e King Crimson, além de um violão que rodava dentro do ônibus. Em
torno de oito horas de estrada, o destino: Fazenda Evaristo, Festival
Psicodália 2015 de carnaval. Foi nossa 9ª edição do festival (eu e Liza), sendo
5 delas trabalhando como imprensa na cobertura (registro fotográfico e textual
do evento – divulgação pré e pós festival, pelos blogs, perfis em rede social e
jornais impressos), uma tocando com a banda Epopeia (2013 – edição de ano novo)
e 3 ou 4 edições (as primeiras que fomos) só curtindo o evento. A chuva fina
que caiu quase o tempo todo fez muita lama e umidade, mas não fez do festival
algo menos intenso. Chegamos cedo, em torno das 8 da manhã, e os portões
abriram às 10h. Na chegada, uma paisagem invernal, ou seja, neblina e umidade,
e os primeiros tiros (ou ‘clicks’).
Barracas armadas, câmeras na mão e um role pela fazenda. Em
seguida fomos até a ‘sala de imprensa’ pegar as informações para nos
organizarmos para as coletivas de imprensa com os artistas. E começamos com a
banda Ave Sangria, com Marco Polo (vocal) e o violeiro Almir Oliveira. Já
havíamos participado de uma coletiva com a Ave Sangria, da outra vez em que
tocaram no festival. Marco Polo é um cara muito agradável, de senso crítico
agudo e com boas histórias para contar. Almir também, um sujeito muito simples,
típico músico pernambucano de ‘raiz’. Falaram um pouco da carreira, do retorno
com a formação ‘original’ e da expectativa para o show que viria logo mais. E
veio. Com tudo...
Mais um role e fomos visitar o acampamento da galera do Velho
Oeste, tomar umas deliciosas cervejas artesanais feitas pelo Giva, velho amigo
e grande baterista que tocou comigo e com a Liza ainda quando tínhamos bandas
punk, em meados dos anos 90, e que hoje toca nas bandas curitibanas Ruído/mm e
Red Tomatoes. Com o povo de Xaxim, Xanxerê e Chapecó, também dividimos cachaça
artesanal e graspa, além dos churrascos,
tudo com muita alegria, já que se tratava de pessoas de alto nível
humano. Demais!
Cai a noite e a primeira banda que abre o Psicodália 2015 no Palco Lunar, com muito estilo e musicalidade, é o Quarto Sensorial. Bandaça! Sonzaço! Um trio progressivo de rock instrumental. As nuances musicais, solos e arranjos muito bem elaborados e complexos faziam lembrar Rush, King Crimson, e por aí vai. Músicos de mão e alma cheias. Virtuose, sofisticação e energia. Um baixista muito bom, um guitarrista rápido e dinâmico e um batera dos melhores que já pude ver/ouvir. Já conhecia a banda de outras edições, inclusive, tocamos no mesmo palco em 2013 com a Epopeia. Enfim, um show intenso e maravilhosamente musical.
Um intervalo e eis que sobe ao palco uma das bandas que mais gosto do rock brasileiro, a épica Ave Sangria. Desta vez com grande parte da formação ‘original’. Um magnífico momento com suas belas, ousadas, críticas, satíricas e poéticas composições. Rock e cultura pernambucana ecoando pela fazenda. Simplesmente genial e cheia de sensibilidade. Assim foi o grande show da grande Ave Sangria!
Depois dos dois primeiros showzaços do festival, uma circulada
para um chope, encontrar pessoas, amigos/as e etc. Retornamos frente ao palco e
pudemos curtir a Orquestra Contemporânea
de Olinda. Baita show! Mais música nordestina, para dançar, cantar e
curtir. Bom demais! Musicalmente e culturalmente falando. Boas impressões com
quem falei depois do show. Não conhecia e elevou ainda mais a minha (nossa)
alegria. Depois mais role, conversas, tiros (fotos), tragos e estragos, até o
cansaço total vir e derrubar. Boa noite com uma garoa fina e o riso das rãs no
lago atrás do nosso acampamento.
Sábado, 14/02
Acordamos no sábado já era quase meio-dia. Almoço tardio. Depois
aquele role. Neste tempo acabamos perdendo a coletiva com a Baby Consuelo (do
Brasil). Mas o dia prosseguiu alegre e molhado, com um tiro aqui, outro ali. Fomos
até o Palco do Sol para ver/ouvir o que rolava por lá, e pegamos o show da Luana Godin e banda. Muito legal. Algo
de MPB, samba e afins. Um belo show que fez o público relaxar, cantar, dançar,
curtir. Depois fomos visitar e registrar algumas oficinas e outros lances que aconteciam pela fazenda. Pausa para
recarregar as baterias, das câmeras e as nossas. Um banho e o jantar. Começa o
show da Baby do Brasil.
Sinceramente, o show que menos gostei no festival. Um show muito ‘correto’, com
pouca intensidade (se comparado aos demais), repertório mais ‘pop’ da sua
carreira solo. Cantou uma ou duas dos Novos Baianos que ‘salvou’ o show. Canta
muito ainda a Baby e seu filho um grande guitarrista. Mas esta é apenas a minha
opinião (Herman). Não me empolgou e fiquei vendo/ouvindo de longe, bebericando
um chopezinho.
Na sequência sobe ao palco,
tocando músicas novas entre as já ‘clássicas’, a também ‘clássica’ banda do
festival Confraria da Costa. Muita
cantoria, dança e rum. Um show, como sempre, agitado, divertido e dançante.
Membro novo na banda, o violinista (muito bom, diga-se de passagem). Canções de
pirata e a lama espirrando pra tudo quanto é lado. Saímos numa altura do show
para um role, encontrar amigos, beber e comer algo e dar alguns tiros, até o
cansaço chegar e derrubar. Boa noite!
Domingo, 15/02
Acordamos um pouco mais cedo que os outros dias, a modo de pegar o
show da banda O Terno, que aconteceu
um pouco cedo da tarde. Almoço concluído, câmeras prontas e rumo ao Palco do
Sol. O show já havia começado. E que ‘puta show, eim?!’ Demais! Já conhecia a
banda, mas confesso que não dava a devida atenção para ela. Que baita show! Um
trio que sabe muito bem o que faz num palco. Dos melhores timbres de guitarra
que já pude ouvir. Uma cozinha muito bem feita, dando chão para o grande
guitarrista e vocal fazer sua parte. Canções bonitas, de boas letras e melodias
com arranjos sofisticadíssimos. Nuances de MPB, jazz, bossa, psicodelia e até
garage rock. Um som fino e bem feito. Uma das belas surpresas desta edição para
mim. Juro que não esperava! O guitarrista domina o instrumento, seus timbres,
arranjos, solos e efeitos como poucos. Me deu até uma vontade de tocar naquele
instante mesmo. Showzaço!
Entre
um show e outro, fomos até a coletiva de imprensa com Flávio Basso, o Júpiter Maçã. Um momento interessante
de diálogo e boas histórias (ou ‘estórias’). Questões e apontamentos em torno
da carreira deste que é uma das grandes personalidades do chamado ‘rock
gaúcho’, da psicodelia e folk do Sul do
país. Quando perguntado pela Liza sobre a perspectiva do show, Júpiter disse: “Vou dar o melhor de mim!”. Um pouco
sério nas suas colocações, porém, muito simpático e educado, Júpiter, bebendo
café e água, dialogou com muito estilo com os jornalistas. Quase no final da
coletiva, curioso com o formato do show, perguntei ao Flávio (mais ou menos assim): "Na edição passada do Psicodália, Wander Wildner fez um baita
show, em que, acompanhado de uma banda, um dos momentos altos foi quando ele
cantou 'Lugar do Caralho', onde o público cantou junto em bom e alto tom. E
hoje, como vai ser, se com o Wildner já foi algo estrondoso?" A
resposta: "Só posso te dizer que
hoje vocês terão a versão do autor...".
Passado algum tempo, sobe ao Palco do Sol a banda Skrotes. Já ouvi em gravação a banda e já me falaram bem dela. Uma boa banda, com muita pegada e boas composições. Um trio instrumental de teclado, baixo e bateria. Um som ora pesado, ora sutil, mas com muita personalidade. Gostei bastante do show. Boa cozinha e um tecladista que senta o braço no teclado, além de tocar muito bem.
A próxima banda eu não conhecia, mas como gosto demais de música
cigana do leste europeu, a Klezmorim me
deu este prazer. Já tinha ouvido falar bem da banda. Grande show! Divertido e
bem musical. Os instrumentos de sopro deram um brilho especial ao show, além
dos ritmos dançantes ciganos. Bom demais! Um deleite e tanto!
Um intervalo de tempo para aguardar um show que, antes do Psicodália, era discutido nas redes sociais, sob tudo, depois de ter ido ao ar a entrevista do Júpiter Maçã com o Rogério Skylab. “Júpiter vai tocar em formato voz e violão, sozinho no palco? Vai conseguir? Ou com banda? Vai ser bom? Vai ser ruim?”. “Júpiter já era!”, até disseram alguns. Confesso que também fiquei curioso, frente a todos os rumores que rolavam. ‘Como seria o show do Júpiter Maçã no Psicodália?’
Continua...