O evento
Estava na sede do sindicato (dos professores) quando
recebi a ligação da Michele: “Ei Niko, vamos juntar as bandas e fazer um evento
pelo Entrevero pra encerrar o ano?”. Confesso que num primeiro momento não me
animei muito. Reta final das aulas, trabalhos finais para encerrar o ano no
sindicato, conclusão da minha especialização, etc. Tudo acomulado. Mas a
empolgação da Michele me contaminou. Então, não teve jeito. Depois de alguns
minutos de papo: “Tá, vamos nessa!”. Pronto. O evento saiu. Alguns (meia dúzia),
os menos desavisados - ou por intenções veladas (nem tão veladas assim) –
querem fazer parecer, em suas manifestações públicas, que o Entrevero é um
grupo fechado, uma organização ‘mafiosa’, uma ceita, ou uma organização com
fins lucrativos. Mas não é nada disso. Antes ganhássemos grana com o coletivo! Ish!
A coisa seria bem diferente... Mas, infelizmente, não. Porém, não é por isso
que vamos desistir de querer fazer o que gostamos, não é? O mundo ainda não é
totalmente dominado pelo dinheiro ou por interesses privados, e nem sei se um
dia vai ser. Mas enfim, o evento aconteceu e, mais uma vez, dentro das
possibilidades e limites, foi um sucesso. Só quero constar aqui, o empenho do
casal Michele e Régis, que não ganham absolutamente NADA para fazer os eventos
do Entrevero, assim como nós enquanto ‘produtores’, e agradecê-los pelo
interesse e disponibilidade em ‘fazer’. Sinceramente, se não fossem eles, não
sei se nós faríamos. Outro motor dos eventos do Entrevero, são as próprias
bandas que se dispõem a tocar e fazer o negócio acontecer. É isso. Simples assim
mesmo! Mandamos email ou via rede social, convidando TODAS as bandas que temos
contato e que produzem suas próprias composições. Depois fizemos duas ou três
encontros (reuniões), e no grupo, dialógicamente, definimos como seria. Algumas
aderiram, outras não. Tranquilo, ‘normal’. E o evento aconteceu. Então, graças
também as bandas envolvidas. Valeu!!!
Obs.: O Entrevero não é nada mais do que a reunião de
bandas afins, que querem e se disponibilizam, num ato de troca, interação
e/ou integração, fazer, volta e meia, algum evento independente, para além
das quatro paredes dos bares e/ou casas de shows. Mas também não se encerra
nisso. Os espaços são variados e os eventos podem ser adaptáveis. Então,
ao contrário do que alguns possam pensar, não temos a intenção com isso,
de concorrer com os bares e as casas, apenas, fazer algo ‘diferente’, em
espaços escolhidos pelas próprias bandas. Na verdade, foi a insistência do
público para um lugar de acampamento, que nos motivou a fazer o Entrevero
na Estância das Águas.
O público
Até o final da tarde, já contabilizavamos aproximadamente
200 pessoas acampadas. O que nos leva a crer que a maioria do público que se
fez presente acampou, diferente do que aconteceu no Grito Rock, onde tivemos
aproximadamente 700 pessoas participando e poucos acampados. Desta vez,
atingimos, mais ou menos metade desse público, porém, não gastamos nem
divulgamos a medade do que foi com o Grito. A intenção era essa mesmo, chegar a
aproximadamente um público de no mínimo 200 pessoas. E pelos cálculos, foram
100 acima disso, no mínimo. Então, outra vez, atingida e superada a
expectativa.
O que mais me chamou a atenção e me deixou esperançoso,
foi ver a quantia de público novo, jovem, adolescente, nesse evento. Assim como
foi no Grito, mas, desta vez, ainda mais. A nova leva de admiradores de rock e
afins, está tomando os espaços. Claro, isso não é novidade, sempre foi assim. Porém,
como eu pude perceber desta vez, fazia tempo que não acontecia, pelo menos da
forma como foi. Ponto positivo, pois, as gerações vão se fundindo e a coisa vai
acontecendo, continuando. Nesses momentos é que o rock se mostra para além de
um ‘gênero musical’ ou de um mero produto da indústria cultural e/ou do
entretenimento. Pode até ser clichê, mas ‘rock também é cultura’,
comportamento, postura, visão de mundo. Enfim...
As bandas
A maioria das bandas que tocaram nesse entrevero, foram
também bandas mais novas. Nós fomos a 2ª banda mais velha das que se
apresentaram (tivemos a ilustre presença da banda Paranóia – já clássica do
rock autoral xapecoense). E isso foi foda! (no bom sentido). Compartilhar o
palco com a gurizada que está de pilha nova, é massa! E porque estámos nessa? Porque
sempre trocamos as pilhas (hehe!), então, também sempre estamos de pilhas
novas. E ver e sentir a galera curtindo a banda, putz!, só nos alimenta mais a
alma e a vontade de fazer e prosseguir. Agora vou fazer como quando produzia
fanzines e comentava sobre bandas e shows, em breves comentários sobre o que
pude ver e sentir durante o evento, portanto, minhas impressões...
A primeira banda a subir no palco foi a mais nova (tanto
de tempo de banda quanto na idade de seus integrantes). Tendo o amigo Nando
(grande batera, também da banda John Filme), na bateria, a gurizada ‘medonha’,
de aproximadamente 14 anos de idade, não dorme em serviço. Trata-se da banda Hairy Stone. Medonha pelo simples fato
de, em tão pouca idade, destruírem. Um trio cheio de energia, que mandou
músicas próprias cheias de belos e fortes riffes de guitarra, peso na bateria e
baixo. Uma porrada! Quem esteve cedo no local, pôde ver e confirmar o que estou
dizendo. E o Entrevero iniciou muito bem, obrigado! Para minha surpreza, o
guitarrista e vocal é filho de uma amiga de infância e pré-adolescência minha,
dos meus tempos de CTG (e o guri detona na guita, diga-se de passagem).
A segunda banda foi a já ‘clássica’ do rock autoral
xapecoense, Paranóia. Bays e trupe
mandaram seu rock pesado para o povo. O Rafa Panegalli, mesmo com o pé detonado
tocou bateria e fez o dever de casa. Ducaralho a apresentação da Paranóia. Fazia
um tempo que eu não via. O Bays vai morrer roqueiro – graças a Dionísio! Clássicos
da banda foram executados com toda a propriedade que só uma banda de tanta
estrada pode fazer. Paranóia ‘representa’ muito bem uma época, que começou já faz
um bom tempo, mas que, ainda não terminou. Nisso, existe uma continuidade
interessante. Dá-lhe Paranóia!
Depois foi a vez dos amigos da St. Joker mandarem brasa. Também tenho uma amizade de infância,
familiar (e também dos tempos de CTG) com o Fabinho, vocal da banda. Bela performance
da St. Joker, como sempre! O batera manda bem, assim como o guita Marko que usa
muito bem os efeitos de guitarra, coisa pela qual sou apaixonado (não é por
nada que experimento e estudo efeitos e timbres, além de usá-los muito). Como
um todo, a banda é boa e faz bem feito, e suas músicas são muito boas e cheias
de energia. Apresentação pesada e empolgante. Outra porrada da noite!
- Um aluno meu foi
com a mãe ver a banda em questão, pois também é primo do Marko (guita), e
para ver a Epopeia, mas, devido ao atrazo no início do evento, acabamos
ficando para o final e ele não pode ficar, que pena! Estava tão empolgado!
Mas... daqui uns dias ele atinge mais idade e quem sabe possa ficar até
mais tarde. Legal ver mães e filhos curtindo rock juntos, ainda mais um aluno.
Volta e meia alguns alunos/as aparecem nas nossas apresentações e/ou
eventos. São as gerações que vão se construindo através dos contatos...
Na sequência foi a vez da banda Duranggos. O Rafa, mesmo com a perna estourada e depois de já ter
tocado batera na Paranóia, largou as muletas, sentou numa cadeira, pegou o
baixo, abriu a voz e mandou brasa. Belas composições e covers coerentes com a
proposta da musical da banda. A apresentação da Duranggos também deixou boas
impressões e dignificou o evento. Outra grande e nova banda xapecoense a marcar
presença e dar sequência a uma noite tomada de boas apresentações.
Passados alguns minutos sem banda, foi a vez da John Filme subir ao palco. E o que
falar da apresentação desse trio? Nando destruindo na bateria, Akira na
guitarra (um dos guitarristas que mais curto na cidade atualmente) e Emanuel (Gringo)
no baixo (simplesmente um argentino – hehe!). Trio envocado, no sentido sonoro
da palavra. Akira diz que eu sou radical. Eu concordo. Sou mesmo! Mas devolvo o
‘elogio’ dizendo o mesmo dele, pra ele. Um dia ele me perguntou ‘porque’, e eu
respondi: “Já viu o modo que você toca guitarra?”. Pra mim, uma das bandas mais
interessantes do rock xapecoense hoje, e, instrumental, diga-se de passagem. A apresentação
da John Filme neste evento, foi simplesmente desconcertante! Tocaram apenas uma
‘música’. É isso, uma ‘música’ que nem sei se era apenas música. Uma experiência.
Algo em torno de 20 minutos. E pra quem acha que só a Epopeia faz loucuras,
experimentos ou psicodelias com efeitos, improvisos, timbres, precisa parar para
ver/ouvir isso na John Filme também. Foi uma apresentação diferente, inusitada,
psicodélica (na amplitude do conceito). Nando sai da batera e sem parar a
música passa as baquetas para o Akira que passa a guitarra para o Nando, e o ‘Gringo’
sustentando toda a ‘loucura’ no baixo. E a música acontece... Porrada
novamente!
Terminada a belíssima apresentação da John Filme, mesmo
cansados de uma tarde toda de trabalho e muito calor, foi a nossa vez, a vez da
Epopeia. Penúltima banda da noite. John
Filme acabou criando um clima muito ‘perigoso’, porém, confortável pra nós, no
sentido de gerar uma sonoridade que encheu o lugar de divagações e sons ‘delirantes’.
Esse clima casou com a nossa vibe, nossa sonoridade. De início tivemos
problemas com equipamento (mal contato, essas coisas chatas), mas nada que
interrompesse nossa onda. Alguém sussurrou perto de mim: “Bah, vai ser foda pra
outra banda tocar depois disso!” (referindo-se a apresentação espirituosa da
John Filme). Quando outra voz interrompeu: “Ah, mas vai ser a Epopeia! Tem tudo
haver...”. Dito e feito, fizemos o que sabemos e sentimos em aproximadamente 40
minutos. Mais uma vez o público desceu do acampamento e encheu a frente do
palco. Foi bom sentir novamente a vibração, os aplausos, a admiração das
pessoas. Depois da apresentação, muitos vieram nos falar e saudar, e isso nos
abasteceu de energia. Tanto é que amanhecemos curtindo o nascer do sol num bate
papo alegre e espirituoso junto a natureza.
Pra encerrar a noite, tivemos a apresentação da banda Black Was Bourne, cover de Ozzy e Black
Sabbath. Não sou a pessoa indicada para falar de bandas covers – mas que fique
claro, não tenho nada contra, porém, tabém não tenho muito o que dizer, só isso.
Mas pelo que pude ver, a apresentação foi boa, e o público curtiu, cantando
junto os ‘clássicos’ do Ozzy e do Sabbath. A princípio, a proposta do Entrevero enquanto
coletivo, é o vínculo de bandas que compõem suas próprias canções, pelo menos
enquanto prioridade. Então, foi convidada a banda Mr. Magoo. A maioria da banda
Black Was Bourne é do pessoal da Mr. Magoo, e como essa não pôde participar, o
Zebu pediu para tocar com a banda cover, que, dentro de um bom senso, se
ofereceu para encerrar o evento, o que não interferiu na questão das bandas
autorais. Discutimos internamente e não vimos problemas nisso, já que também foram
colaboradores, ajudando a conseguir um som acessível para o evento. Além disso,
isso serviu para ‘calar’ um pouco a boca daqueles que falam sem saber, que “o
entrevero é ‘contra’ bandas covers” e/ou outros estilos, uma panelinha, e
blá-blá-blá, aquele velho papo de quem só se move por interesse próprio/pessoal.
Fazem a crítica pela crítica, pois, quando no fundo, vivem sonhando num pretenso
sucesso idealizado (rock star) e tal. Não se trata disso. Mas agora não cabe
aqui problematizar isso, que cai mais num âmbito de ciúme, inveja e/ou
mesquinharia por parte daqueles que assim se manifestam publicamente, dizendo
que o Entrevero é isso ou aquilo, sendo que, ele só existe quando acontece, ou
seja, quando as bandas envolvidas querem e fazem. Enfim...
No geral, o evento aconteceu, atingiu e superou, mais uma
vez, nossas espectativas e pretenções, que não eram muitas (e não são). Nisso,
agradecemos TODOS os, direta ou indiretamente, envolvidos: bandas, público
local (e de fora), apoiadores, incentivadores: Estância das Águas, radio rock
alternativo (Leandro Rosseto), Delay (site)... Em especial a Michele e o Regis,
que mesmo tendo banda, geralmente nem tocam nos eventos do Entrevero, mas mesmo
assim os fazem, e sem remuneração, pela vontade de movimentar, comprovando que
nem tudo nesse mundo das produções culturais e ‘artes’ é vaidade, ego e
individualismo... En-fim!
& pro ano que vem, já pensamos no Grito Rock edição Velho Oeste 2013...
Let’s rock!
Um comentário:
Opa salve Galerinha da Epopeia!!!!!!!! Um puta de um evento feito pelo Coletivo Entreveiro mostrando que o Rock Autoral e Independente não esta morto em Ccó mais sim vivo.Infelizmente não consegui ver todas as Bandas toca pois meio mal, cansado ou babado sei la rssrsrsr fui dormir rsrsrsrs mais as bandas que olhei foram de mais e depois do meu cochilo acordar com o som Psycho Killer do Talking Heads uma releitura da Banda Epopeia Putz Punk Parabéns pala iniciativa do Coletivo Entreveiro Parabéns para as Bandas e no quer for preciso em questão de ajudar o Rock Independente e Autoral e tiver no nosso alcance Já falando como Web Radio Rock Alternativo pode contar com nós e putz estava escutando uma gravação feita de madrugada logo pela manhã que ainda não deu tempo pra Edita mais e Punk e polemica rssrsrrsrs mais uma vez Parabéns Coletivo Entreveiro e Bandas ...
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