quarta-feira, julho 13, 2011

Aspectos da História do Rock



Rock - & o problema da definição

Ei Herman... Ei Niko! Não vai escrever nada sobre o dia internacional do rock? Mais de uma pessoa me pediu isso hoje. E devido à correria do dia-a-dia, acabei não escrevendo mesmo. Não até agora. Hoje é quarta-feira, dia 13 de Julho, e é comemorado o Dia Mundial do Rock. Pelo que sei, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em homenagem ao show Live Aid, que aconteceu em 1985. O evento, organizado pelo cantor Bob Geldof, tinha como objetivo arrecadar fundos para o combate da fome na África e foi considerado o maior show de rock da Terra, reunindo astros da música pop e do rock mundial. Na época, o concerto foi realizado simultaneamente na Inglaterra, na Filadélfia e nos Estados Unidos. Essa datação é um pouco controvérsia e divide opiniões. Portanto, não vou dar ênfase pra isso aqui. Mas é claro que a História do Rock não se resume nisso. Muito antes, ainda nos anos de 1960, outros grandes festivais, e ainda mais marcantes, do ponto de vista cultural, aconteceram. A Woodstock e o Festival da Ilha de Whigt foram dois deles. Grandes nomes do rock e da música despontaram nestes festivais. Nomes como Jimi Hendrix Experience, Jefferson Airplane, The Who, Leonard Cohen, Richie Havens, Joe Cocker, Grateful Dead, Janis Joplin, Miles Davis, entre outros. Esses festivais de certo modo fortaleceram o rock, enquanto estilo musical e comportamental. Eu pessoalmente, não entendo o rock como simplesmente um gênero musical, pois, além de música, o rock traz em si uma atitude, uma visão de mundo, um modo de comportamento que o torna um tanto, digamos, peculiar. Música por música, podemos falar desde o Barroco ao sertanejo universitário. Mas cada um dos estilos ou gêneros musicais tem em si características que os ‘definem’, ou no mínimo, os diferem um dos outros. Não fosse isso, tudo seria visto como ‘igual’. Nisso, as classificações (ou rotulações como alguns preferem chamar), podem ser interessantes - senão necessárias. Alguns se assumem dentro de algum estilo, outros preferem a ‘abertura’, ou o não comprometimento, outros ainda, a hipocrisia. Mas nós aqui, vamos ‘botar os pingos nos is’, ‘dar nome aos bois’. Então, partindo do princípio de definição, eis que surge a pergunta: ‘O que é o rock?’. Para tentar, ao menos, respondê-la de forma, um pouco fundamentada, vamos aos debatedores do tema, aos pesquisadores e teóricos. Em minha tese-pesquisa de graduação na área de História, trouxe um pouco disso a tona. Alguns teóricos defendem a idéia de que “o rock é um ‘movimento musical’ ou um ‘fenômeno artístico cultural’ que comporta uma atitude, um comportamento com suas características próprias. Há também os que reduzem o rock a um descartável produto de consumo, a uma simples moda passageira. Para o historiador Paulo Chacon “O rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento”. (não sei você, mas eu fico com Chacon e com a idéia do ‘rock música-comportamento’ e não simplesmente ‘música-produto’). Não estou dizendo que o rock não seja um produto difundido pelos meios e que também alimente a Indústria da Cultura, do entretenimento, apenas não estou tratando-o como um mero produto efêmero. Vindo de um período pós-guerra, adentrando na Guerra Fria, o conceito de jovem, tal qual conhecemos ainda hoje, na década de 60 passa a ter voz própria e ativa na sociedade. Nisso, o rock foi um dos principais instrumentos para essa voz ecoar. A contracultura, o Maio de 68 francês, o movimento Hippie, as experiências comunitárias e de gênero, o feminismo, o experimentalismo psicodélico, a literatura beat, os happenings, etc., todos coligados em tempo e perspectivas, tendo como trilha sonora o rock e suas variações. Isso acaba fundamentando que o rock vai além da música e dos modismos da indústria. Dissimulando as localizações, dá até pra se ‘brincar’ dizendo que, entre os ‘eruditos’ ou ‘clássicos’ da música, Beethoven foi ‘o roqueiro’ - ao compor sua 9ª sinfonia. Quem não conhece, sugiro que pesquise Walter Carlos (o criador do sintetizador) e ouça o que ele fez a partir de Beethoven (leia-se: trilha sonora do filme - preferido dos punks, de muitos roqueiros e entre os meus preferidos - ‘Laranja Mecânica’, de Stanley Kubrick).


Minha relação com o rock (ou ‘o que também me constitui’)

Ainda criança, lá com os meus 9 anos de idade, era fã dos filmes do Elvis Presley, assim como fã dos filmes do Roberto Carlos. Já com 10 anos, fui presenteado com alguns discos de vinil de um primo mais velho de Passo Fundo – RS. Ganhei, dos que ainda me lembro, o disco ‘Lóki’ do Arnaldo Baptista, o Velvet Underground & Nico (o da banana), e um Pink Floyd (The Dark Side.. ou o The Wall - não tenho certeza agora – é que já tive os dois num tempo próximo). Até ouvia, mas confesso que na época não dava tanta importância. Por fim, acabei gravando-os em fita k7 e me desfazendo deles. Hoje, estão entre meus discos preferidos. Depois, fui conhecer uma banda alemã que se chama ‘Trio’, um disco branco, com músicas simples, algumas até toscas. Aquilo mudou minha vida. Ali me encontrei: músicas simples, timbres fortes, ironia, crítica e ‘radicalismo’ sonoro. Daí foi um passo para conhecer e me apaixonar por Ramones, depois Sex Pistols, Dead kennedys, The Clash, The Stooges, Toy Dolls, etc. Conheci o punk rock brasileiro com Cólera, R.D.P., Os Replicantes, Os Inocentes, etc. Num segundo momento me encantou Pixies, depois Social Distortion (bandas que ouço até hoje). Fui beber no psicobilly do The Cramps e no rockabilly do Stray Cats e Meteors. Tive um breve flerte com o metal de Slayer, Megadeth, Iron Maiden, etc. (mas gostei sempre mais dos ‘clássicos’ Black Sabbath e Motorhead, algo de AC/DC, entre outros). Passei pelo hard rock setentista (Whitesnake, Ufo, Bad Compani, etc.), até tive experiências com o Death e Black metal, e o extremo do Noise, mas acabei voltando ao punk-hc e grind de bandas finlandesas e outras como GBH, The Exploited, The Misfits, etc. Um pouco do rock-rap-hc ou metal do Rage Against the Machine e Beastie Boys. Depois conheci NOFX, Bad Religion, Operation Ivy, etc. Passei delirantemente pelo ‘grunge-punk’ do Nirvana... Já ouvi muito também o rock nacional de bandas como Bacamarte, O Terço, Secos & Molhados, Casa das Máquinas, O peso, etc.; Ainda hoje me encontro pelo rock progressivo-experimental e jazzístico do King Crimson, pelo Pink Floyd e La Máquina de Hacer Pajaros, entre outros. Ouço soul music (blues, funk e jazz); Mas é com o garage rock e o psicodélico que eu mais me identifico. Voltei às minhas ‘origens’. E, além disso, hoje curto muito o rock contemporâneo de bandas como The Mars Volta, Raconteurs, Radiohead, Arcade Fire, Devotchka, The Queen of Stone Age, etc. O rock nacional sempre esteve comigo: Os Mutantes, Patrulha do Espaço, Cidadão Instigado, Plástico Lunar, Sopro Difuso, Guisado, etc. O country rock do Johny Cash, Beethoven, Buena Vista, entre outros, somados ao rock, deixam meus dias mais toleráveis. Pra mim o rock foi um encontro, onde eu pude me encarar dentro de um mundo que até hoje eu não me adapto bem. Isso explica minha ‘mina’ de discos, vídeos e sons - e a variedade deles. Do início dos anos 1990 até hoje, sou ouvinte, leitor, pesquisador e ‘colecionador’ de música, principalmente de rock. Além da literatura e do cinema, é o rock que me acompanha e me constitui.


Mas, de onde vem e pra onde vai ‘esse tal rock’n’roll’?

Não se encontra com exatidão um ‘início’ para esse fenômeno que passou a se chamar de rock and roll, mas os anos de 1950 nos Estados Unidos nos diz algo: “... Estádio de Cleveland, Ohio, 1952. O DJ local Alan Freed promove o primeiro concerto de rock’n’roll com grupos negros. (...) Considerado o pai do rock, seu primeiro DJ e produtor de concertos, e aquele que deu o nome ao novo ritmo, (...) Batizou a si mesmo de Moondog e ao programa de Moondog Rock and Roll Party. (...) Alan Freed, o inventor do termo rock’n’roll e responsável pela popularização do novo ritmo, (...). (A História do Rock’n’Roll nº 1, 2002)”. Filho do lamento negro nas plantações de algodão dos EUA na década de 40 - do blues com a música européia e com o country interiorano do Sul dos EUA, o rock and roll de Chucky Berry e Little Richard, a partir da adesão do ‘homem branco’ a este ritmo-comportamento, de artistas como Body Holly, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis, foi difundido, rompendo com a idéia de que o rock era música unicamente de negros para negros. Talvez a primeira música a acabar com o determinismo da separação racial-cultural. A partir dos Beatles e da beatlemania, o rock and roll passou a ser chamado de rock, sendo ainda mais bem aceito e ‘vendido’ pela indústria cultural, depois, abrangendo ainda mais culturas, misturando sons e estilos, e disso, nascendo vertentes variadas do rock – e eis que surge o pop. O disco dos Beatles ‘Sargent Pappers’ de 1967, é a prova disso tudo. A partir dele, dá pra se dizer que o rock passou a existir enquanto termo mais abrangente e complexo. Mas mesmo assim e depois disso tudo, ainda dá pra ter uma mínima definição ou dimensão do que seja ‘esse tal rock’. Então, o que caracteriza o rock? Seria a distorção dos pedais das guitarras elétricas? (mas o sertanejo universitário também usa!).. A distorção e a ‘agressividade’ do som? O estereotipo ‘mauzinho’? (aí dá pra concordar que bandas como Restart e NxZero são rock). Ou seria mesmo o modo de ver e viver, se comportar, além das distorções (ou das guitarras, ou do termo ‘rock’), uma atitude, não só de palco, mas de vida, uma escolha, um modo de ser-estar, vestir, atuar no todo social, além do impacto musical. Enfim, o rock é indefinível? Pra mim, rock é a soma da estética sonora, da musicalidade e sonoridade, com o comportamento, as idéias. Tudo isso cria uma identidade que pode sim definir o que é o rock e quem são os roqueiros, além dos modismos passageiros que sempre vêm e vão. Por mais que alguns ‘pensadores’ falem do rock mediocremente, tentando lançar sua importância histórica no lixo, desprezando, pela ignorância de não conhecer essa história ou não admiti-la, ele não vive estacionado em ‘verdades’. Rock, além de música é postura. Não é preciso dizer: ‘Ah, essa é uma banda de rock!’. Se determinada banda tem o que dizer, contestar, seja através das letras ou do som, da música, tendo distorção ou não, ela é rock. Não é a ‘beleza’ ou não dos músicos, não são as palavras de um Rick Bonadio ou a cara estereotipada de mau de alguns membros de algumas bandas, não são os chavões tipo: ‘róquenrrouuuuuuuu!’ ou a produção acima do ‘produto’ apresentado no espetáculo midiático que vai fazer com que uma banda seja rock. Rock é rock, e é só ouvir, sentir, e por último, ver (se precisar ver!), para saber disso. Quando a música te causar certo conflito interno, agitação, certo caos, deslocamento ou vontade de se mover, saiba, isso é rock. É quando os conceitos e definições já não sustentam-se pelo discurso.  


Xapecó também é rock!

Por aqui, no ‘Velho Oeste’, o rock chegou com os ‘forasteiros’. Geralmente jovens que vinham de fora e aqui se instalavam - ou que daqui saiam indo estudar fora, e depois voltavam trazendo a novidade na mala. Uma das primeiras duplas a tocar o novo ritmo no seu repertório, ainda em bailes, era dos amigos músicos Arlindo Sander e Romeu Roque Hartmann, ainda no início dos anos de 1960. Durante a minha pesquisa, encontrei um disco gravado ao vivo, que data de 1965, onde Suzane Fávero, uma menina de aproximadamente 11 anos de idade, cantava uma canção da Jovem Guarda, acompanhada pela dupla já citada acima. A mesma dupla, algum tempo depois, fundou uma das primeiras, senão a primeira banda a vincular o rock na cidade. Trata-se dos The Jats. Depois, vieram outras, como Os Bananas, onde tocou o Paulo Franzmann, pai do Paulo baixista/guitarrista da banda xapecoense Mister Magoo. Aproximadamente 10 anos depois, surgiram as primeiras manifestações do rock autoral registrado em estúdio aqui na cidade. Tyto Livi, cantor solo, com a gravação de seu compacto “Memórias de um certo louco” (1977), inaugurou o que eu ‘pretensamente’ chamei de ‘a segunda fase do rock chapecoense’ na minha pesquisa. Trata-se do período de meados dos anos de 1970, onde, juntamente com o Grupo Nozes (primeira banda de rock autoral a gravar um disco EP – 1978, que contava com o Bili Ficgna no contrabaixo), Tyto Livi deixou registradas suas canções. Pouco tempo depois, surgiu a banda Poluição Sonora (que não deixou suas músicas gravadas em disco – primeira banda do Ricardo Bays). Anos mais tarde, em meados dos anos de 1980, surgiu a banda Paranóia, fundada pelo Bays, e atuante até os dias atuais. Depois foi o Gilmar Guerreiro e As Vozes do Vento. Guerreiro deixou gravado um compacto que data de meados dos anos 80, e mesmo ele ‘não se considerando’ rock, pelos roqueiros foi absorvido e considerado. Seu disco foi censurado na época por causa da música ‘Chimarrão’, que se tornou uma espécie de hino para alguns, e que virou vídeo-clipe (lembro daquele vídeo que passou pela televisão), até tenho esse vinil com a tarja escrito: ‘Censurado’. Na primeira fase da Epopeia em 2001, ainda antes, quando era a Tribo Audaz, lá por 1998, fizemos e tocávamos uma versão mais psicodélica do ‘Chimarrão’ do Gilmar Guerreiro. Passaram-se anos até que no início dos anos de 1990, surgiram uma leva de bandas punks e Hard Core na cidade. Entre elas o Atta Sexdence, Orelha de Pau, Órfãos e Chimia. Nessas tocaram alguns músicos conhecidos daqui, como o Paulo ‘Girino’ (ex-Repolho, hoje Mordida, de Curitiba, irmão do Fernando de Nadal dos RedTomatoes), o Zubaid (grande baterista xapecoense), o Passarinho (baterista da Repolho), entre outros. Tubino, um dos membros de alguma dessas bandas, tocou guitarra na minha primeira banda em 1994, a G.D.P. (Gritos de Protesto). Nessa mesma época, antes da G.D.P., surge em cena uma das que considero, das principais bandas da cidade, a Repolho. Ao contrário de alguns ‘críticos de miseráveis fundamentações históricas e teóricas’, não me apoio em teses deterministas que concebem uma única ‘verdade’ aos fatos, quando ao tentar argumentar sobre uma possível ‘situação do rock chapecoense’, acabam por cegar frente às possibilidades de interpretação que a história suscita – A História trabalha com versões e possibilidades, não com leis ou determinismos. Enfim... Projetos que reúnem bandas em torno das suas composições próprias e em ocupação de espaços como o Entrevero de Rock, bandas como Os Variantes, que despontam como uma das mais cogitadas do Estado em coerentes sites de rock, bandas também, como a novíssima John Filme que, mesmo nova, já traz em si a potência sonora que faz do rock um universo de possibilidades, são o que fazem a coisa acontecer. Este ano, Repolho completa 20 anos de estrada, enquanto a Epopeia, andou a metade deste caminho. É isso, este ano estamos fazendo 10 anos de rock, e apesar da perda do Tuba e das dificuldades, continuamos – já revigorados). Mas essa é uma outra história para um outro momento...

A Epopeia do rock continua!

Herman G. Silvani

2 comentários:

Paulo disse...

Bah...muito bom!!
Nostalgia bOa!!
abraço aos amigos.

Anônimo disse...

Viva o Nosso Róque!