sexta-feira, março 25, 2011

Impressões do Psicodália 2011: Parte III (parte final)

Como um Sopro...

Terça-feira, 08/03, último dia do Psicodália e tudo passou como um sopro. Acordamos perto do meio dia e fomos direto pros nossos banhos, depois pro almoço. 13h00min começaria o show de uma das bandas contemporâneas que mais gosto, a Sopro Difuso. Fiquei meio bolado por terem posto ela a tarde e no último dia. Sopro merece a noite, sempre! Comemos e fomos pra frente do palco. No último dia, as apresentações sempre são no Palco do Pasto. E que apresentação! Sopro Difuso repetiu o espetáculo da vez passada, só que de dia. Enquanto parte do público derrubava acampamento e outros ainda almoçavam. Destaco as novas músicas da banda, as belas letras, a presença da Michele Mara nos vocais novamente (e que voz!), e os arranjos e solos de guitarra do Érico, um dos grandes guitarristas do festival, os arranjos de flauta e tudo mais. Toda a vez que a banda toca a música ‘Sinal Fechado’ eu me emociono. A letra, o clima e o solo de guitarra floydiano me tocam. Desta vez não foi diferente. Novamente, só posso dizer: ‘Obrigado Sopro Difuso!’



banda Sopro Difuso


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Depois da elevação que foi a apresentação do Sopro Difuso, esperávamos pela coletiva com a banda setentista pernambucana Ave Sangria, que só acabou acontecendo depois do show (a última banda a se apresentar, e que encerrou o Psicodália 2011). Como a Sopro Difuso, Ave Sangria merecia a noite. Ave Sangria mistura psicodelia com ritmos regionais. Banda que na década de 70 no nordeste, gerou polêmica, devido as suas posturas no palco, suas letras e formas de linguagem, consideradas subversivas e imorais pra época. Confesso que não esperava muito desse show. Estava errado. Erradíssimo! Que puta show! Rico musicalmente e extremamente original. Parecido com nada. Até tentei relacionar com alguma coisa, e o que me chegou à mente de mais aproximado, foi o Jorge Mautner (outro ícone). Ave Sangria contou apenas com Marco Polo, o vocal e grande ‘comunicador’ da palavra cantada da formação original. O outro membro inicial da banda não pode vir por algum problema de saúde, mas mandou sua mulher e neto para as percussões da banda. Os demais membros eram de uma banda chamada Anjo Gabriel, músicos muito bons por sinal. Um espetáculo de certa poética, com letras ‘filosóficas’ e simbólicas, tudo muito ligado a linguagem nordestina. Um pouco de rock, um pouco de baião. Ave Sangria tem estilo próprio e sua música é feita com sinceridade. Para a surpresa geral, a banda tocou por 2 horas. Voltou do bis e fez outro show praticamente. Muito bom! A música ‘O pirata’ fez todos cantarem e dançarem. Um show inesquecível, assim como foi TJB, O Terço e Tom Zé, fechando gloriosamente o festival.


banda Ave Sangria 


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Depois do show, enquanto a maioria levantava acampamento, eu e a Liza e mais meia dúzia de jornalistas fomos para a última coletiva de imprensa do Psicodália com a banda Ave Sangria. Durante a entrevista, Marco Polo e sua trupe foram extremamente simpáticos e bem humorados. Certa tristeza transpareceu na fala de um dos membros da banda (a mulher percursionista), quando o que ela contava estava relacionado ao passado conturbado da banda. A censura da ditadura militar nos anos setenta não poupou a Ave Sangria – que sangrou. Triste história! Mas, apesar disso, uma alegria pontiaguda também estava presente nas histórias da banda, e sob tudo, neste retorno aos palcos - neste caso, no palco do Psicodália. Como os demais artistas entrevistados nas coletivas, a Ave Sangria mostrou sua satisfação com o belo show e a receptividade e resposta do público do festival. Acabaram também por elogiar a magnitude do evento. Marco Polo, homem de inteligência sagaz e dono de uma linguagem poética, ora regionalista, ora universal, passou um tempo discorrendo ‘sociologicamente’ sobre a relação da banda com a cultura e política brasileiras. Um momento contemplativo e instigante. Depois, seção de fotos com os organizadores, algum papo informal, e assim se encerrava nossa empreitada.


coletiva com a banda Ave Sangria 


Marco Polo & Liza (levando o Entrevero de Rock por aí... no detalhe da camiseta)



















Marco Polo & eu.. bate papo nos bastidores do espetáculo!



Fatos, aspectos & a abdução...

Aproveitamos nossa estada e as voltas que dávamos pela fazenda e registramos alguns fatos e aspectos curiosos e de certa importância pra nós. A rua ou ‘avenida’ principal da fazenda, foi batizada, merecidamente, de ‘Alameda Ivo Rodrigues’, em homenagem ao grande cantor que morreu pouco tempo depois do extraordinário show da banda Blindagem no Psicodália do ano passado, assim como a principal ‘travessa’ que foi batizada de ‘Travessa Zé Rodrix’, outro ícone da música brasileira já morto. Numa das tardes mais iluminadas e secas do festival, um artista andava com suas pernas de pau pra lá e pra cá, brincando e provocando o público que transitava pela fazenda. Primeiro ele imitava um bêbado, andando meio zonzo e sempre prestes a cair, o que provocava certo receio e risos do público. Algo divertido. Depois, num outro momento, o figura encarnou um pândego ou um bufão, com uma meia calça na cabeça e com a língua tingida de preta, vestido apenas com um sobretudo, nu por baixo e em cima daquelas pernas de pau, parava em frente a algum grupo de pessoas abrindo rapidamente seu sobretudo deixando seu membro exposto, largava um riso sarcástico e um pouco horrorizante e saía na disparada. Uma performance irônica e anárquica, típica dos Bufões. Arte meus caros, Arte! Além das alegorias. Pena que os seguranças não entenderam assim e tentaram impedir a performance pagã do artista. Mas parece que tudo terminou bem. Os organizadores do festival vendo a perseguição ‘policial’ dos seguranças, rapidamente intervieram. Coisas do mundo burocrático-formal e moralista que respingam e enchem o saco até em espaços ‘alternativos’, infelizmente!









Depois disso, eu e a Liza um pouco tristes com esse tipo de moralismo, acabamos indo até o pondo de abdução mais próximo e dentro de poucos minutos pegamos o primeiro disco voador rumo ao desconhecido. Nisso, fomos convencidos pelos ETês que nos aplicaram uma dose efervescente de ânimo, a voltar e continuar com nosso ‘inoxidável’ trabalho, aproveitando as horas de diversão que ainda tínhamos pela frente. Voltamos. Os ETês estavam certos.





O retorno, os sobreviventes...

Companheiros de viajem e nossa van já esperavam pelo lado de fora da fazenda enquanto derrubávamos nosso acampamento. Desfazer barraca, dobrar e guardar tudo. Contamos com a ajuda de alguns amigos pra isso, o que agilizou um pouco a coisa. Acabamos saindo da Fazenda Evaristo lá pelas 17h, devido ao nosso atraso com a coletiva. Pro lado de fora, vários ônibus, carros e vans, todos apontados e prontos para o retorno. Seria um retorno difícil, devido à precariedade do asfalto. Mas o cansaço acabou colaborando para uma viagem um tanto chapada e, graças a Deus, a sorte, a Dionísio, ao motorista, etc., retornamos vivos. Já em casa, agora era repor o sono e voltar para as atividades cotidianas (mas nem tanto), já tendo em mente uma possível volta a edição do ano que vem do festival.






















Os bastidores

Durante os dias do Psicodália, devido ao nosso trabalho na imprensa, pudemos transitar nos bastidores do festival e observar mais de perto, ou de dentro, como ele funciona. Um pouco lúcido, um pouco torpe, observando os detalhes, percebi a complexidade e dificuldade de se organizar e administrar um festival deste porte. Mas aí é que está o negócio! A simplicidade com que os organizadores levam a idéia e direcionam o festival faz a diferença. Tudo muito direto e sem frescura. Tratamento humanizado, já que estamos lidando com seres humanos (além de serem artistas). Isso muda tudo. Na edição retrasada aconteceu um erro no nosso cadastro, o que nos excluiu da imprensa. Isso nos gerou certo transtorno, mas já foi. Acabamos, assim mesmo, de alguma forma, cobrindo o evento, só que não nos bastidores nem nas coletivas de imprensa como desta vez. Desde a primeira edição que participamos, fotografamos e eu escrevi textos referentes ao festival no blog ‘epopeiarock’. Tivemos um tratamento digno por parte dos responsáveis pela imprensa do Psicodália, com o devido respeito que acaba gerando uma boa relação, sem burocracias nem tratamentos ‘meramente’ profissionais. Annaterra, Bruna e Clisseu, com suas gentilezas e simpatias, são os três nomes que tivemos mais contado (outros dois ou três, não consigo lembrar). Tenho alguns problemas de memória e acabei deixando alguns neurônios por lá (indiretamente! - é bom que se diga! Sou um homem ‘sério’, fui ao Psicodália laborar, ok? - risos!). Nossa ‘função’ foi bem acolhida por esse povo – gracias!, numa relação que somou trabalho e amizade. Também nos bastidores, surgiu um rumor sobre uma possível ‘espécie’ de Psicodália de inverno, já neste ano. Mas é só um rumor (por enquanto!). Veremos! Contudo, foi possível, além de registrar o festival pelas nossas vistas e impressões, conhecermos pessoas interessantes e personalidades geniais do mundo da música e arte brasileiras. Voltamos do Psicodália com a energia física um pouco debilitada, porém, com a alma sonora e musicalmente renovada para enfrentarmos essa ‘outra realidade’ mais rotineira a que estamos submetidos. Música e arte pelas beiradas e nossa experiência meio ‘gonzo’ e nossas impressões meio tortas do festival (mesmo sem a ‘técnica’ ou ‘métodos’ do jornalismo mais formal-mercadológico, ou algo assim, e com máquinas amadoras no meio de todos aqueles ‘canhões’ Canon, Nikon, Sony, etc., fizemos nosso trabalho da nossa maneira e dentro das nossas possibilidades). Lógico que os instrumentos, equipamentos e tecnologias ajudam muito, mas isso não garante bons registros ou alguma poética na imagem, pois se assim fosse, bastaria ter uma caneta de ouro para se escrever um belo romance. Enfim... O Psicodália pra mim (pra nós) foi um pouco isso.

> Canidia (baixista do Goya), Davi (ex-guitarra e vocal d' O Conto), Clisseu (guitarra d' O Conto), Marco Polo (Ave Sangria), eu, Bruna (psico-imprensa), Annaterra (psico-imprensa) & Liza..



>  Damo, Liza, Guto e Cíntia (ao fundo Ivan, vocal da Confraria da Costa e e a vocal da banda Sopa)



> Guto, eu, Liza (discosta) em clima bukowskiano.. promovendo uma marca de Tequila aí..


público no Palco do Sol (meio da tarde e o rock comendo solto!)..


> Felipe, Nanda, Negão, Chico, Gabi, Bruna e Tiago.. povo de Xanxerê e redores.. curtindo um momento reelex e uma cervejinha gelada..























diversão para crianças e adultos.. oficinas e brincadeiras afins..


 O Bazar (onde se compra e vende discos, livros, cd's, camisetas, artesanato, etc.)


O galpão (CTG), restaurante e afins..




'sonzinho básico' para os shows noturnos do Palco do Pasto..


 mapa na entrada..



Evaristo, o Patrão & fazendeiro





Até a próxima!

























Fim...

(by Herman G. Silvani & Liza A. Bueno)



"A Epopeia continua..."


3 comentários:

Benhur disse...

Parabéns gente!!
muito bom o trabalho.

Lucas Valério Fernandes disse...

Nossa já deu saudades do festival!
Perfeito!

pra quem quiser ver mais fotos

http://www.facebook.com/album.php?aid=54728&id=1791062554&l=37f92108d4

http://www.facebook.com/album.php?aid=54728&id=1791062554&l=37f92108d4

Anônimo disse...

Zé Boita:

Grande cobertura epopéicos!
Não pude ir desta vez, mas senti o cheiro do psicodália aqui no blog!

Upa-lê-lê!