A Morte passa por perto...
Semana dura para os fãs, admiradores e entusiastas do rock – e para nós. Dois ícones morrem do mesmo mal, uma doença chamada: Câncer (meu signo!) – mas não fui eu, juro! Também sinto a morte por perto. Ela sempre está em volta. Além de personagens, ícones ou ídolos, amigos e sentimentos morrem, assim como no que se acredita e tudo mais que compõe esta vastidão que se chama mundo. Cada vez mais acredito que a vida é um jogo, recheado de interesses, mentiras e algumas coisas boas. O mais doloroso, não é a morte em si, física, material, mas sim o que fica. Sentimentos esfacelados! Mas vou me reter na parte histórica e cultural...
Malcolm McLaren, produtor/mentor de duas importantes bandas da história do rock e da música, morreu nesta quinta, do mesmo mal do mais próximo “ícone” Ivo Rodrigues, vocal da banda Blindagem. Duas mortes de duas importantes figuras, numa só pegada, e da mesma doença.
Malcom, Dolls & Pistols
Malcolm MacLaren foi fundador e empresário de duas das mais importantes bandas de meados dos anos 1970, a New York Dolls (1973: primeiro disco), e os Sex Pistols (1977: único disco). New York Dolls era uma banda norte americana de glam rock, garage pré-punk. Vestiam-se com roupas extravagantes e femininas, tipo ‘travéco’, tudo para zoar. Pelo menos é o que me consta. O fato é que o Dolls foi uma importante banda (além de ser muito boa e divertida, além de descarada e irônica), no seu tempo. Seu som respinga até os dias atuais, pois lida com o escracho, ironizando o lado ‘ordeiro-medíocre-hipócrita’ deste mundo velho sem porteira – e me desculpem os crentes no mundo mecanizado, mas a anarquia e o caos (leia-se teoria do caos), sempre prevalecem. Tudo potencializado depois pelos Sex Pistols. Sex Pistols, por sua vez, era uma banda inglesa que balançou o reino unido e sua indústria fonográfica, além da moda, da postura juvenil urbana e do modo de fazer e tocar música (neste caso, o rock). Uma das principais, e talvez a grande representante do que passou a se chamar ‘punk’ no mundo da música e da cultura pop, foi os Sex Pistols. Além da extravagância herdada de bandas como Stooges e New York Dolls, os Pistols conseguiram ser mais decadentes, anárquicos e ‘sem futuro’ do que qualquer outra banda. E quem disse que há futuro? ou que tem que haver um? Abaixo a moral! Faça você mesmo! entre outras frases gritadas no palco por Johnny Rotten, ao som violento da guitarra e bateria e as danças e posturas decadentes de Sid Vicious, a figura marcada do punk. Tudo isso, mexeu com as estruturas da indústria, e a importância do único disco dos Pistols o ‘Never Mind the Bolocks’ de 1977, é relativamente, guardadas as devidas proporções, a mesma de discos como ‘Sargent Pappers’ de 1967 dos Beatles e/ou o disco do Velvet Underground do mesmo ano (o da banana). Pistols passou pela Inglaterra (e pela terra), como um furacão, gerando novos rumos para a música da indústria e a moda, além do comportamento das novas gerações. Até o que se conhece hoje por Emo, tem elementos importantes do punk. MacLaren foi casado com a estilista que ‘criou’ o look punk, responsável direta pela moda do final dos anos 70 até meados dos 80, e que reflete até os dias atuais, Vivienne Westwood. O fato é que morre Malcolm McLaren aos 64 anos, importante figura da história do rock, da música, moda e comportamento modernos.
Ivo & Blindagem
Ivo Rodrigues era vocal e compositor da banda paranaense Blindagem. Blindagem é uma das bandas pioneiras da cena do rock paranaense. Formado no final dos anos 70, o grupo alcançou projeção nacional nos anos 80. O grande poeta curitibano Paulo Leminski teve grande influência na história do grupo. A parceria Leminski/Blindagem/Ivo, rendeu belas músicas para a banda. Conheci Blindagem em meados dos anos 90 com alguns amigos de Francisco Beltrão, no Paraná, quando na época íamos direto tocar naquelas terras (Saudades daquele tempo que não volta mais!). Na ocasião eu e a Liza ganhamos o primeiro disco da banda de um amigo que cantava numa banda punk de lá, o Pipoca. Aliás, nós também éramos uma banda punk que depois se transformou em rock. Blindagem e a voz de Ivo, sempre estiveram presentes no nosso aparelho de vinil. Além de ser trilha sonora de festas e viagens. Vimos um show da banda aqui em Xapecó, no final dos anos 90, quando Ivo ainda tinha aquele barrigão de cerveja. E ele, ao mesmo tempo que cantava, com aquele vozeirão, bebia algo destilado. Depois, tivemos o prazer de rever a banda no Psicodália de ano novo, aliás, um dos melhores shows de toda a história do evento. Emocionante! Ivo, já sem seu barrigão, mas com a garganta em dia, elevou os ouvintes cantando. Inesquecível! Aproximadamente 4.000 pessoas com o sentimento musical a flor da pele cantando junto. E essa foi a última imagem que tivemos deste ‘monstro’ do rock brasileiro. Sua voz ecoa... e como! Justamente é ela que fica, além da memória. Todos morreremos um dia, é certo, mas alguns ficarão, se não pelos atos, pelo que cantaram e representaram. E Ivo Rodrigues, é um caso destes. Morre aos 61 anos, Ivo Rodrigues, um dos ‘ícones’ do rock paranaense, do sul e do Brasil. Adeus ao grande cantor!
“Eu te mandava pra longe da terra / pra não te ver mais /
pra você eu inventava uma guerra / mas não sou capaz /
(...) Loba da Estepe, te espero... Minha alma é sua!”
Ivo Rodrigues
“Vidas são como folhas, que na chegada do outono, vão caindo uma a uma, sonoramente ou em silêncio.”
Herman G. Silvani ou Niko.
2 comentários:
Saudações!!
bem legal esta matéria..sempre venho aqui para ler, e manter-se informada..é sempre bom!!
bjs
perda e tanto
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