sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Agito com Balalau: Epopeia, rock e ar condicionado!


O projeto Start do SESC Chapecó reuniu fim de semana passado duas bandas de rock da cidade. Uma delas na sexta feira, a Ultraleve que eu não consegui ver e a segunda delas no sábado, a banda Epopéia que eu fui ver. As constatações são muitas e isso faz com que eu precise começar por algo. Sério???
Vamos começar pelo SESC. Já trabalhei no SESC (em 95) e as minhas reclamações sempre foram no sentido de utilizar melhor a estrutura disponível. Anos mais tarde percebe-se uma movimentação cultural via SESC que é sensacional. São pequenos eventos em quantidade intensa que privilegiam muitos dos setores culturais. Ou seja as reclamações ficaram para trás e a partir disso vem as propostas de parcerias. Reclamar é fácil, difícil é pensar em algo palpável e realizável. Hoje o SESC Chapecó nessa área de eventos é coordenado pela Camila e pelo Marcus Bonilla, duas pessoas extremamente receptivas em relação a novas idéias e projetos. Ou seja, além dos tradicionais projetos que o SESC nacional proporciona para todo o Brasil podemos pensar em eventos regionais.
No sentido do rock o espaço pode se transformar numa referencia, devido as casas noturnas não abrirem espaços para algo que seja cultural e invistam cada vez mais em aspectos que tragam dinheiro. Tudo bem as casas noturnas tem essa finalidade. É um negocio e o objetivo é ganhar dinheiro e blá blá blá… já disse isso um milhão de vezes. O que faz com que os movimentos artísticos tenham que ser criativos e mais do que isso buscar alternativas. Cansamos de nos gabar que participamos de um movimento de rock alternativo. Vamos mostrar essas alternativas a partir de criatividade. Ser alternativo na minha concepção é gerar alternativas. Dá mais trabalho, mas a recompensa (que não é financeira) é muito maior.
O espaço do SESC não é muito grande. Cabem cerca de 100 pessoas, mas tem ar condicionado e é de graça. Não pode beber e nem fumar. Ou seja um lugar ideal para promover algo mais interessante. Parece comentário de velho e até é. Mas ali podemos mostrar que o rock (ou qualquer outra manifestação artística) pode ser civilizado.
Vamos ao show, ou melhor fui ao show. E poderia nesse exato momento resumir o que eu vi com uma única palavra: emocionante. Pra mim que acompanha isso tudo desde muito tempo, é emocionante ver uma banda chegar num nível tão bacana em relação ao que fazem. Mais do que isso, a apresentação do Epopéia só comprova que se tiver estrutura bacana fica mais legal. É muito simples ter esse parâmetro. Olhe os show que o Epopéia (ou qualquer outra atração musical) faz na Efapi por exemplo e teremos um bom parâmetro comparativo.
 Sobre o amadurecimento musical e conceitual do Epopéia, já venho comentando isso há um bom tempo. E esse amadurecimento ao meu ver vem da percepção de que o rock (estilo musical, estilo de vida ou rótulo blá blá blá) não é só a música em si. Ele pode agregar elementos e se transformar em arte. Sempre vai ser a força motriz e o objetivo é a musica, mas pode conter diversos outros elementos que incrementam tudo isso gerando novas perspectivas e sensações. As referencias estão ai para ser usadas. E nesse sentido as perspectivas são ilimitadas. O próprio Nico num determinado momento do show explicou que o show tem referencia de cinema, literatura, artes plásticas, fotografia… Tudo evolui num cenário propicio para evolução e proporciona para o publico (fãs, parentes e amigos) grandes apresentações. É perceptível isso. E esse talvez tenha sido o show mais legal que eu vi do Epopéia (em termos gerais com certeza). Tudo acontece de forma organizada nos bastidores, para que a explosão seja no palco e proporcione ao público possibilidades sensoriais. É o lado conceitual e estético agregando valor na apresentação. Foi isso que eu percebi no último sábado. Nesse sentido o rock adquire uma outra dimensão.
No repertorio canções da autoria da banda. Afinal era o lançamento do segundo ep (em Mo.vi.men.to) do grupo. Canções novas que apontam caminhos para um próximo ep e também os covers que se inserem como releituras no processo todo apontando as referencias musicais. E foram somente dois (num repertório de mais de dez músicas), “White Rabbit” do Jefferson Airplane e no bis “Formato Cereja” da banda nordestina Plástico Lunar.
A abertura do show foi muito bacana. Tudo começou com uma interferência de rádio, as cortinas fechadas e um filme sendo projetado nas cortinas. O filme em questão “Através do espelho” da trilogia do silêncio do Ingmar Bergman proporciona uma metáfora interessante se pensarmos que estamos falando de um show de rock. O filme preto e branco derretia enquanto a banda promovia sons e ruídos psicodélicos. A música funcionava como trilha sonora do filme, que ao serem abertas as cortinas, passava a figurar como parte de um cenário em movimento. Uma mistura interessante de propostas. Estava tudo ali para o deleite de todos aqueles que compartilham referencias. Desde os primeiros instantes, nos primeiros acordes era possível deduzir tudo. A formula sem fórmula, o rock anos setenta, a psicodelia, Alice no País das Maravilhas, Bergman e tudo mais que os seus olhos pudessem ver, ouvidos ouvir e a cabeça relacionar. Um cenário conceitual servido de base para uma apresentação musical regida por uma luz discreta e um som impecável. O som estava muito bom e isso proporciona certa tranqüilidade e segurança na banda que brinca num cenário minimamente pensado e construído para isso.
Parabéns ao SESC pela iniciativa de abrir esses espaços as atrações locais. Parabéns ao publico que compareceu mostrando que temos em nossa região pessoas interessadas em algo diferente. E parabéns ao Epopéia por nos proporcionar uma noite agradável de rock, sensações e ar condicionado.

foto e texto de Roberto Panarotto (Repolho):

http://acb2.wordpress.com/2010/02/11/epopeia-rock-e-ar-condicionado/

a Epopeia continua...

Um comentário:

Rodrigo Mello Campos disse...

Dale Epopéia. O show foi emocionante, valeu a pena a viagem interestadual.

Também achei muito bacana a opinião do panarotto sobre a maturidade da banda.



Abraços


obs: Com relação ao projeto, o nome é Sesc ENTER, não start, mas dá tudo na mesma.