CHAPECÓ MUSIC LIVE: O maior “e pior” evento de rock da região
Contrariando o que dizia a propaganda, não foram dezenove (19) atrações musicais, mas sim, vejamos... quatorze ou quinze; talvez. Em verdade, atrações mesmo, foram no máximo sete, ou seja, as bandas e/ou músicos que se apresentaram no dito palco I, pois no II...
Palco II: a zona escancarada
Enquanto no Palco I, onde acontecia o tal “acústico MTV: bandas gaúchas” (o que de acústico não tinha quase nada), o exagero em volume de som ensurdecia o público presente, no Palco II, não se ouvia quase nada. Ao contrário do que ‘garantiu’ em discurso a organização do evento, a acústica estava horrível e o isolamento de som pior ainda. Muitas bandas, a maioria, diga-se de passagem, tocaram poucas músicas. Além de diminuírem o repertório, apresentaram-se nitidamente irritadas, como haveria de ser, já que o som do Palco I invadia o ambiente onde as bandas locais se apresentavam, confundindo os ouvintes e os próprios músicos. Um espetáculo de ruídos fez com que a grande maioria do público que foi ao evento prestigiar as bandas locais, migrassem para o ambiente vizinho, prestigiar o desfile de ‘emos’ e ‘mod’s’ que se faziam figurar no local e onde estava situado o Palco I. Um verdadeiro desrespeito com as bandas locais, e principalmente com seu público.
Palco I: acústico para surdos
A voz rouca de Wander Wildner (ex Replicantes, Sangue Sujo, etc.), ficou ainda mais rouca, acompanhando a distorção da guitarra, e não poucas vezes, confundido-se com ela. O cara está bem, boas composições e apresentação tranqüila. Para os entusiastas, fãs, e os que não ficaram surdos, creio que valeu a pena. Preocupado com o bom andamento da festa, principalmente com os amigos, colegas das bandas e público de rock, fui, tranqüilamente e com toda a categoria e respeito, pedir aos técnicos de som do Palco I, se existia a possibilidade de diminuir o volume, já que sobrava som daquele lado. Obtive uma resposta ‘não a altura’ de meu inofensivo pedido. Um sorriso debochado do “profissional” repugnou até o ar em torno de mim. Parecia que o fulano é que era o artista, a estrela, um mero piloto de mesa de som. Fui-me então, com toda a paciência do mundo, falar com a organização do evento. Subindo uma escada que mais parecia um corredor de escola, abarrotado de jovens, quando não crianças, com seus rostos, ultrajes e corpos ornamentados, onde piercing’s confundiam-se com as espinhas da primeira puberdade, cheguei ao meu destino, a organização. De cara e sem rodeios, fui direto a pessoa interessada e ao assunto. Perguntei o que fariam sobre, já que tocar no Palco II estava tornando-se impossível e ouvir insuportável. A cada banda que subia ao palco, a apresentação tornava-se pior. Tocaríamos nós, lá pelas 3:00h da matina, o que infelizmente ou felizmente, não aconteceu. Amigos, fãs da banda, muitos que até vieram de outras cidades e que pagaram para prestigiar-nos e as demais bandas do Palco II, reclamavam-me a cada instante. Passei a bola para frente, ao responsável, já que meu papel, como o de muitos outros, era o de tocar. Recebi a pior das respostas possíveis: - “Quantos ingressos tua banda vendeu?” “E as outras, quantos venderam?” “Estão reclamando o quê?” – Não lembro de ter assinado ‘porra’ de contrato nenhum onde dizia que as bandas eram obrigadas a vender ingressos, muito pelo contrário, foi sim, no dia da reunião festiva, dito em alto e bom tom, que era opcional vender ingressos. Fugir da falha, da responsabilidade desta maneira, é tolice, no mínimo. Péssimo escape. Pior ainda, não admitir a falha, abandonar a razão pela conveniência, deplorável. Nosso papel, o das bandas, era o de tocar por cachê, eis o que constava no contrato, e fomos para isso. O resto, era problema da organização, mas parece que mais uma vez, elegeram os culpados e criaram-se desculpas - esfarrapadas. Fomos mal tratados, essa é a verdade. Laranjas de uma falha; humana é certo, mas concreta. No final das contas, nem tocamos, pois uma das bandas, revoltada com toda a ‘zona’ (situação), “destruiu” o palco, transformando o espetáculo de ruídos em vazio. Enquanto isso, no Palco I, o som prosseguia a curar surdos. Ultramen, apresentou-se com mais equilíbrio, talvez devido ao estilo de som mais dançante, o que combinou um pouco mais com o exagero de volume.
...e o Cachorro já não é mais tão Grande
Lá pelas tantas, sobe ao palco a aclamada e esperada Cachorro Grande, uma das boas bandas nacionais que vinculam na grande mídia, representante do dito ‘rock gaúcho’. Por três ou quatro vezes prestigiei a banda ao vivo, e posso afirmar com convicção que foi um dos melhores shows de rock que já presenciei (e olhem que não foram poucos). Nesta noite ilumina de escuridão, a Cachorro Grande fez uma apresentação, que para mim, admirador da banda, foi um tanto superficial. Assim como no final de ano da Globo, no programa também ‘Global’ Altas Horas, a banda já mostrava-se limitada, ou seja, teatral, agradável, um tanto comercial. A influência ‘mod’ da banda, inspirou ‘moda’ a outros. Antes fosse só isso. Apresentação morna, esteticamente agradável ao público consumidor de efemeridades. O cachorro é o mesmo, mas não mais tão grande. Talvez seja por enquanto ou para este tipo de evento, onde não se pode esperar muito mesmo. Opinião de um apreciador, compositor e músico de rock, guiado não só pela emoção.
Enfim...
Um velho ditado diz: ‘quem avisa amigo é’. Não sou vidente ou coisa parecida, mas tenho sensibilidade suficiente para perceber que algo não está certo ou justo, e que isso algo pode acarretar, e acarretou. Quando fui-me precaver a organização do exagero dos “profissionais” do som do Palco I, que de tão “profissionais que eram” nem se deram ao luxo de compreender a situação e respeitar os ‘colegas’ músicos do Palco II, e ignorar o público pagante, fui com a maior das boas intenções, mas não fui ouvido. Não tardou muito e aconteceu. Músicos enfurecidos puseram abaixo equipamentos do Palco II, revoltados, como todos os demais que por lá se aventuraram. Os equipamentos não tem culpa é certo, mas a fuga do controle deu-se devido ao descaso da organização e falta de bom senso dos ‘colegas’ do Palco I. Não sei se algum engenheiro convenceu a organização de que aqueles ‘lençóis’ estendidos isolariam o som de um ambiente para outro, mas a ‘zona’ quase incendiou, e a incompetência dos ‘cabeças pensantes’ fez-se notar. Por nós, tudo bem. Tristes por não tocarmos, na fissura que estávamos, mas aliviados por não ter-lo feito naquela circunstância deplorável. Doemo-nos pelo público pagante, nossos admiradores, amigos, principalmente os que vieram de outras cidades e foram mal aconchegados. Muitos sentiram-se usurpados, enganados. E nós, enquanto banda, ignorados, mal tratados numa verdadeira falta de respeito aos artistas, sua arte e seu público; mais ainda, falta de consideração humana para com todos os que apenas queriam ter uma noite agradável. É triste ver, de um lado, artistas de certa fama participar do espetáculo ‘pão e circo’, gritando “rock’n’roll!” aos quatro cantos, enquanto do outro, artistas de menor vinculação comercial, mas artistas também, se contorcendo, suando frio, fazendo das tripas coração para serem ouvidos. Vitória do capital e dos capitalistas, frios, oportunistas. Derrota de toda arte e do pouco que resta da sensibilidade humana.
Herman G. Silvani (Niko)
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