Dias incertos e de golpes nos direitos trabalhistas, nas
formas independentes de organização, na democracia, na humanidade, na vida...
Dentro desta triste e violenta realidade pela qual passa o Brasil, movimentos
artísticos de convivência e expressões como o Psicodália são formas de
‘resistência’. E este ano, mais uma vez, o festival se mostrou um espaço destas
manifestações, destas expressões e resistências artístico-culturais, políticas
e de gênero. Mais um festival intenso onde a arte se apresenta no seu mais
amplo sentido. E vamos às impressões...
Quinta
Chegamos na quinta, um dia antes do início do festival. Final
de tarde e a polícia montara uma barreira bem no início do caminho de terra que
leva à fazenda Evaristo. Passamos batido, bem no momento em que a PM revistava
um grupo pequeno de pessoas. Chegamos. Alguns minutos para as credenciais, um
papo com alguns velhos conhecidos do festival que trabalhavam na portaria e já
estávamos liberados e dentro da fazenda. Saudei fazendo sinal de reverência, a
natureza e o festival, como de costume. Encontramos um bom lugar para acampar.
Subimos as lonas e nossas bandeiras, no aguardo dos demais membros do Grupo Vertigem de Ações Poéticas e
amigos/as que chegariam na sexta. Cansados da viagem bebemos algumas cervejas,
rimos e conversamos bastante, até o sono chegar.
(Acampamento Vertigem - no Terreno Baldio)
Sexta
Acordamos alegres por estarmos no Psicodália. A 12ª edição
minha e da Liza, 9 delas trabalhando na imprensa com fotos, textos e divulgação
pré e pós festival, 2 delas tocando com a banda Epopeia e a primeira apresentando espetáculo com o Grupo Vertigem de Ações Poéticas (poesia, música e vídeo). Passamos o dia ajeitando uma coisa ali, outra aqui.
Ajudando outros, bebericando, encontrando amigos de outras paragens e
conversando. O povo aos poucos foi se chegando. Antes da noite nosso
acampamento no Terreno Baldio já estava todo de pé. O festival inicia com um
cortejo circense, acompanhado do público. Música, batucada, dança, malabares,
caricatos, acrobacias, festa, carnaval! Com a permissão e benção dos Orixás, é
iniciado ‘oficialmente’ o Psicodália 2018!
Palco Lunar
A banda Carne Doce
abre o Palco Lunar com seu som cheio de energia e bela performance,
principalmente da vocalista. Na sequência é a vez da clássica Tutti Frutti, banda ‘clássica’ do rock
nacional que teve Rita Lee (ex-Mutantes) como voz. Tocou clássicos de sua
carreira que foram cantados pelo grande público. A banda pernambucana Mundo Livre S/A sobe ao palco com sua
sempre energia e intensidade, fazendo um show de alto nível. Fred Zero Quatro comandando a levada do
mangue beat que faz tremer o chão e vibrar o corpo nesta primeira noite do
Palco Lunar.
(Tutti-Frutti)
(Mundo Livre S/A)
Palco dos Guerreiros
Uma pausa para cervejinha e bate-papos, nos dirigimos para o
Palco dos Guerreiros (que durante o dia é o Palco do Sol), e logo começa o
espetáculo performático do Bloco da Laje.
Curtimos, cantamos, dançamos, vibramos do começo ao fim, com as ‘incorporações’
e pontos para os Orixás e todas as liberdades possíveis que esta ‘trupe pagã e
afro-brasileira’ de atores, atrizes, bufões, músicos e dançarinos/as
possibilitaram. Um ‘manifesto’ político-cultural e artístico no palco. Arte e
simbologias para apimentar o espírito, a vida o festival. Ainda no mesmo palco
tocaram Machete Bomb e Kiai, bandas que não assisti, mas que
renderam bons comentários de quem assistiu no dia seguinte. Encerramos nossa
primeira noite no Saloon,
confraternizando o momento, até o cansaço vencer e o descanso nos abraçar.
(Bloco da Laje)
Sábado
Acordamos tarde. Um café e um momento meditativo. Bem
acordados, ao trabalho! Muitos tiros (fotos), risos e conversas. O Psicodália é
um lugar de convivência. Sim, como uma ‘comunidade’, onde as pessoas trocam
ideias, conhecimentos, risos e se ajudam (na grande maioria dos casos, pelo
menos).
(Palco do Lago)
Palco do Sol
Pela tarde, peguei um grande show. E a banda que eu não
conhecia se chama: Orquestra Manancial
da Alvorada de Florianópolis/SC. Um dos membros (como um maestro da banda),
era de Xapecó e foi aluno do Mano, um grande amigo e colega professor e
companheiro no Vertigem. Grande show! Musicalidade afinadíssima! Uma linguagem
bem humorada e com crítica social. Elementos da soul music, jazz, MPB e música
erudita em fusão e ebulição. Uma pausa para retomar as energias e refrescar o
corpo com um chopezinho caprichado. E eis que sobe ao palco um mestre do blues
nacional: Zé Pretim. Mais um
belíssimo show, afinadíssimo. Blues e música popular. O blues man canta e toca
sua guitarra com os dedos (sem palheta) magistralmente. Versões blues de
clássicos como Asa Branca e músicas
próprias fizeram do show um belo momento. O Psicodália faz um grande papel
sócio-histórico e cultural, trazendo atrações como esta, de grandes artistas
brasileiros desconhecidos de parte do público. Zé Pretim é blues, música
brasileira. Zé Pretim é Brasil!
(Zé Pretim)
Teatro
Depois do Zé Pretim, fomos assistir um espetáculo na tenda do
teatro, que este ano foi uma tenda de circo. Espaço muito bem desenvolvido e
dirigido pela querida Mayra e seu grupo de trabalho! Conhecemos, antes mesmo do
espetáculo, Elton Meduna, o autor, ator e diretor da peça ‘Meros Mortais’ da Cia Pathos. Belíssimo espetáculo de
cunho social que, pelo que pude perceber, é baseado num fato real externado ao
público, a partir do assassinato do pai de Elton. Triste, porém poético, o
espetáculo trouxe um profundo momento de reflexão em torno do nosso tempo atual
e das violências que afetam a humanidade e o Brasil.
Depois do espetáculo teatral, iniciamos a noite com um role pela
Rádio Kombi e suas divertidíssimas
festas. Noite funk (soul) era a temática. Dançar um pouco, curtir a vibe e...
alma pronta para a noite intensa que viria.
Palco Lunar
Abre a noite no Palco Lunar a banda Boogarins. Mais um belo show. Já conhecia a banda ao vivo quanto
tocou no Morrostock 2016 (baita festival organizado pelo Paulo, batera da
Bandinha Di Dá Dó), onde também tocamos com a Epopeia. Um show de psicodelia latente.
Antes do show encontramos no rolê, o simpático baterista da Boogarins, com quem
batemos um papo. Na sequência, um dos grandes nomes da música brasileira subiu
ao palco, o Lô Borges, que foi
parceiro de nomes como Milton Nascimento e
Beto Guedes no Clube da Esquina, um grande clássico da nossa música. Lô Borges fez
um show bom, porém, na minha opinião, um tanto ‘cansado’. Não se é esta a
palavra, mas foi o que senti naquele momento. Mais pro final do show, tive uma
emoção ao ouvir um clássico de que gosto muito: ‘Paisagem da janela’. Mais uma
breve pausa e foi a vez da magnífica Bixiga
70. Um dos grandes shows do Psicodália 2018. Porrada sonora! Instrumental
dos mais bem executados que já pude ouvir. Sensacional! Deu pra curtir, dançar
e vibrar muito com a porrada sonora, proporcionada em grande parte pelo naipe
de metais e percussões da Bixiga 70. Depois disso, um rolê, para um
combustível.
(Boogarins)
(Lô Borges)
(Bixiga 70)
Palco dos Guerreiros
Não consegui ver/ouvir Consuelo,
mas também ouvi muito bem falar dela. Cheguei ao palco e Mustache e os Apaches faziam seu show. Um belo show por sinal. Já
havia visto um show da Mustache num festival, anos atrás, em Francisco
Beltrão/PR. Folk, jazz, blues, com muita intensidade. Destaco, pessoalmente, a
versão de ‘Os homens de preto’, música folclórica nativista gaúcha, gravada
pelo conjunto Os Gaudérios (o qual
tenho o vinil), executada com dignidade por Mustache e os Apaches. Encerrando a
noite dos Guerreiros, a já ‘clássica’ no festival Apicultores Clandestinos. Rock Primitivo, algo de rockabilly e/ou
psicobilly, punk Rock e hard core, ska e surf music, fizeram mais uma vez os
Apicultores levantarem o público. Divertidíssimo e cheio de energia, para
fechar mais uma noite nos palcos externos do Psicodália.
(Mustache e os Apaches)
(Apicultores Clandestinos)
Domingo
Oficinas
Acorda o dia em garoa. O sono persiste por mais algumas
horas. Até que levanto e vou praticar um pouco de Tai Chi Chuan (estilo Yang) na oficina ministrada pelo sifu (professor)
Mark, até que comecou a oficina de I
Ching com o professor Miguel. Como praticante/estudante e professor de Kung
Fu e Chi Kung, e taoista (filosoficamente falando), conhecimentos da cultura
chinesa muito me dizem respeito. E a oficina de I Ching foi muito interessante.
Aprendi coisas que, mesmo tendo certa noção da obra, não sabia. Inclusive, ler
o I Ching com varetas. Agora preciso praticar para aprender bem. Enfim, uma boa
oficina que rendeu boas discussões e reflexões.
Palco do Sol
Nutrir o corpo depois de ter nutrido o espírito e, algum
tempo depois, o Palco do Sol abre com o show da Estrela Leminski e Téo Ruiz. Estrela é filha do grande poeta Paulo
Leminski. A modo do pai, é uma artista da palavra. Escreve bem. Boas letras e
composições musicais. Um show de boa musicalidade. O amigo Nicolas que também
fotografa o Psicodália já faz alguns anos, tocou saxofone neste show (mandou
bem, eim irmão?!). Um belo show, com boas reflexões e musicalidade. Aproveito a
estiada e saio para um role. Fotografar o ‘cotidiano’ do festival é uma das
coisas que mais gosto de fazer por lá. A tarde passa e a festa Noite Latina
acontece em frente a Rádio Kombi. Dança e alegria. Um pouco de garoa. E segue a
festa...
(Estrela Leminski & Teo Ruiz)
Teatro
Passava pela tenda circense do teatro e o Homem Banda se aprontava para seu
espetáculo. Trata-se do gaiteiro e vocal da Bandinha
Di Dá Dó. Sentei perto das crianças que enchiam de alegria o lugar e
assisti o show inteiro. Chorei. Não de emoção ou tristeza, mas de alegria.
Muito engraçado! O ápice foi quando o Homem Banda chamou duas crianças ao palco
que acabaram sendo parte do espetáculo. Sem palavras para descrever tamanha
diversão. Que o digam as crianças e os adultos que naquele momento, se
misturavam aos risos e também eram crianças.
(Homem Banda) e... 'Eéhh!'
Palco Lunar
Abrindo a noite no Palco Lunar, o grande Zé Ramalho mostrou porque é um mestre. Magnífico show! E o mundo
desabando de água lá fora. Chuva intensa. Banda afinadíssima em grande
musicalidade. Zé Ramalho cantando com seu vozeirão de sempre. Das mais
populares às mais psicodélicas, um grande show. Talvez o show em que mais nos
divertimos. O Vertigem todo junto, dançando, bebericando, cantando - e lendo poesias no meio do público nos momentos de intervalo. Demais!
Mais pro fim do show, umas versões ‘Ramalhescas’ do mestre Raul Seixas fez todo o público cantar. Me emocionei por mais de uma
vez, com a musicalidade e as letras de cunho poético-sociais de Zé Ramalho.
Obrigado Zé! Obrigado Amigos/as e
companheiros/as de Vertigem! Obrigado Psicodália! E alguns encontros com velhos conhecidos, colegas de trabalho (imprensa, fotografia, etc.), artistas e afins, pessoas que somam-se ao espírito do festival.
(Zé Ramalho)
(Juliana Strassacapa, Francisco el hombre & Liza Bueno, Grupo Vertigem, banda Epopeia e imprensa)
(Ivan Santos, Herman Silvani e Adriane Perin: arte e imprensa reunidas na diversão e trabalho)
(Ivan Santos, Liza Bueno, Adriane Perin e Taísa Rodrigues: arte e imprensa reunidas na diversão e trabalho II)
Um ar para respirar e sobe ao palco a já clássica no festival
Confraria da Costa, com suas canções
de pirata e outras destilações terrorífico-libertárias. Como sempre um belo
show que fez o público dançar, pular, cantar, se encher de energia. Sempre a
luz do show da Confraria é boa para fotografar, somado a performance e
figurino, rende bons tiros.
(Confraria da Costa)
Palco dos Guerreiros
Mudança de palco para mais um belo show: Pata de Elefante e seu instrumental visceral rico em timbres e
dinâmica. Já é a 5ª ou 6ª vez que vejo um show do Pata. Sempre bom! Western,
surf music com pitadas de blues e rockabilly, mais ou menos, referencia o som
da Pata de Elefante. Bom demais!
(Pata de Elefante)
Segunda
Teatro
Dia do nosso espetáculo com o Grupo Vertigem de Ações Poéticas: ‘Barricadas Poéticas em dias
incertos’. Acordamos perto das 9h para ver do palco e das necessidades para
nossa apresentação. Cansados, depois votamos a dormir. Companheiros do Vertigem
faziam o corre atrás do cenário. O dia passou entre fotos e conversas. Algum
tempo antes da apresentação, a necessária concentração. Queríamos muito
assistir o show da banda Som Nosso de
Cada Dia, uma das minhas preferidas do rock brasileiro, onde tocou guitarra
e cantou nesta empreitada, nosso amigo Marcelo
Schevano (Patrulha do Espaço, Casa das Máquinas e Carro Bomba). Marcelo
está produzindo o primeiro disco solo da Eliz
Bueno, nossa vocal na banda Epopeia.
Mas, devido ao choque de horários, não foi possível assistir ao Som Nosso.
Depois encontramos o Marcelo e saímos dar umas voltas e beber umas cervejas
pela fazenda. Também trocamos um dedo de prosa com a ‘seleção’ que compõe
atualmente a banda Som Nosso: Pedrão, além do Schevano, acompanhado por membros
da banda Terreno Baldio e Violeta de Outono. Imaginava que o show do Som Nosso
seria mais tarde, pela noite, devido ao estilo musical e história da banda.
Depois pensei que, talvez este horário realmente aponte certa ‘mudança’ de
público do Psicodália, como ouço muitos dizerem (se bem que não vejo muito
assim, mas, pode ter relação). Num passado não tão distante, mais bandas de
rock psicodélico e progressivo tocavam no festival. Nos últimos anos, o festival
trouxe mais a sonoridade ‘brasileira’ (o que também gosto muito e acho
fundamental). Mas este é um assunto um tanto quanto complexo que podemos
tratar, quem sabe, num outro momento. A questão é que fiquei me coçando para
assistir tal espetáculo (o do Som Nosso de Cada Dia), mas, a arte nos chama
para o palco...
Produção de cenário do grupo Vertigem, com Maurício Sinski (foto: Isadora Stentzler)
Grupo Vertigem de Ações
Poéticas: Barricadas Poéticas em dias incertos
Com intervenções poéticas pelo festival, leituras no Saloon,
no restaurante, pelas ruas da fazenda e até no meio do público nos shows, as
‘ações poéticas’ foram acontecendo. E chegou a nossa hora. Com a integração da
Mayra (responsável pelo teatro) e seu grupo de trabalho, montamos rapidinho o
cenário e em alguns minutos iniciamos o espetáculo. De Rimbaud à Facção
Central, passando por Hilda Hilst, Lira, J.G. de Araújo Jorge, Vange Leonel,
Bukowski, Neruda, Mia Couto, etc., a poesia se fez, com música autoral e
releituras, com vídeos e manifestações socioculturais destas linguagens
integradas. Depois do espetáculo, alguns diretores/as, atores e atrizes, de
outros espetáculos que nos assistiam, assim como público presente e membros da
organização do festival e do teatro, vieram nos saudar pela apresentação.
Alguns emocionados, como nós. O que nos faz acreditar que o espetáculo atingiu
o coração, mente e espírito dos envolvidos. Só temos a agradecer ao público,
aos trabalhadores/as envolvidos, ao festival e à Mayra que, carinhosamente
apostou e somou nesta nossa empreitada poética. Muito obrigado!
(Mano, do Grupo Vertigem de Ações Poéticas em intervenções pela Fazenda - no Saloon)
(Grupo Vertigem de Ações Poéticas) * fotos: Isadora Stentzler
Esperamos, sinceramente, que no próximo Psicodália, o Brasil
tenha saído deste estado deplorável em que se encontra (no seu sentido
político-ideológico, social e econômico), e que, por isso, o Vertigem possa
voltar com novo espetáculo talvez, pelo menos, menos ‘duro’, mas não menos
intenso e poético. No momento, fazemos parte desta ‘resistência’, junto ao
Psicodália e seus vários artistas e trabalhadores/as que, como nós, pensa e
pratica um mundo mais diverso e poético, onde cada um tenha o direito, a
condição de ser e se expressar conforme sua necessidade. Enfim. Continuamos...
Trabalhadoras e trabalhadores que fazem o Psicodália acontecer
Palco Lunar
Já era escuro lá fora quando saímos do teatro rumo ao
acampamento. Depois de guardar cenário e instrumentos musicais, fomos até a
frente da Rádio Kombi onde acontecia a festa Noite Balcan. Muita diversão e música
do leste europeu. Em alguns instantes, já na frente do Palco Lunar, pegamos
parte do show da Francisco, El Hombre.
Mais uma vez, um emocionante (e emocionado) show, que botou o público pra
cantar e dançar, deixando o recado da diversidade, como um manifesto, uma
convocatória para aceitação das diferenças. Já vi uns 3 shows da banda pelo
menos (entre Morrostock e Psicodália), e novamente, um belo show!
(Francisco, El Hombre - com participação da banda Mulamba)
Role no Saloon. Tragos e estragos. Pizza dália (deliciosa!) para
forrar o estômago. Aliás, este ano, a alimentação estava muito boa. Melhor do
que todos os outros anos, principalmente o ‘prato feliz’. Bom demais!
Enriqueceram no tempero. Preço acessível. Uma atração a mais para o festival.
Pelo menos para eu, que como bem e tenho a comida como uma arte também. Algumas
horas no Saloon, chovia. Dei uma escapada para ver um pouco pelo menos do show
do Jorge Ben Jor. Confesso que não
sou dos maiores fãs da sua obra (respeitadíssima!), mas, o tanto que vi/ouvi do
show, posso dizer: que showzão, eim?! Bah! Altas vibrações. Grande
musicalidade. O público vibrava a cada canção. Mas não pude ficar por muito
tempo. Chovia demais e estava difícil entrar pra debaixo da lona, muita gente.
Também não consegui entrar no espaço destinado a imprensa para fotografar. Mas,
pude conferir um pouco deste belíssimo momento.
(Joge Ben Jor)
Voltei para o Saloon para mais algum tempo de
confraternização entre amigos e companheiros/as do Vertigem. Até que fomos
todos/as para o show da também ‘clássica’ no Psicodália Bandinha Di Dá Dó. Clown music. Um baita show! Com boas
performances e muito humor. A Bandinha divertiu o grande público, como sempre.
Ao final do show, o pertinente e contundente recado/manifesto do Paulo
(baterista e organizador do Morrostock), contra a pressão dos ‘di bem’ (conservadores
da região), polícia e do conselho tutelar sobre o público e o festival.
(Bandinha Di Dá Dó)
Estado moralista e sua
atuação hipócrita
Muito triste e indignante ver polícia e conselho tutelar
questionando, com certa ignorância ou estupidez, as pessoas dentro da fazenda.
Relatos com quem conversei, diziam que as abordagens tinham certo tom
pejorativo, preconceituoso, discriminatório. Conselheiros tutelares escoltados
pela PM, segundo relato, chegaram a tirar onda da ‘tenda da cura’, rindo-se e
dizendo: ‘vão curar o que ali?’. Outros, relataram que os ‘moralistas’
provocavam: ‘você não acha impróprio, ou não tem vergonha de trazer seu filho
num lugar como este’? Relatos também de revistas abusivas pelo lado de fora da
fazenda. Ouvi falar de ‘constrangimento público’. É este o papel destas
instituições? É este o nível das abordagens e do conhecimento delas? Não
encontro outra palavra senão ignorância. Alguns preferirão estupidez,
mediocridade. Olhem as fotos e verão o modo, a situação e lugar ‘terrível’ onde
as crianças conviveram nestes dias. Um papel ridículo do Estado e suas
instituições. A ‘operação’ poderia ser razoável se não fosse tão intransigente
e os questionamentos tão medíocres. Penso que também seja reflexo do momento
sinistro pelo qual passa o país, e que todos sabem (ou pelo menos deveriam
saber). Mas o recado foi dado por tantos outros artistas que se manifestaram no
festival. Nós do Vertigem, também deixamos nosso recado, nosso manifesto
político e poético na história do Psicodália – e continuamos. E como bem disse
o Paulo, é tempo de resistência. E a arte é um destes canais. Enfim.
Resistimos! Contudo, nada que tire o brilho do Psicodália, que, além de arte, é
um movimento de resistência frente a uma realidade muitas vezes absurda.
* Vejam só que absurdo, de como as crianças são 'mal tratadas, escravizadas e tristes' no Psicodália:
Dito e visto isso, frente a todo este ‘ataque’ às diversidades, encerro
minhas impressões citando meu amigo bigodudo:
“O que não nos mata, nos torna mais fortes” (Nietzsche)
·
Impressões
da terça-feira não foram possíveis pelo falto de voltarmos para o ‘velho oeste’
pela manhã, por motivos de trabalho. Queríamos muito ter visto Pedra Branca, Arrigo Barnabé, Tulipa Ruiz,
Terra Celta y los hermanos uruguaios do Cuatro
Pesos de Propina. Mas não deu. Então é isso. Até a próxima! Enfim. Não há
fim... Continuamos...
Texto: Herman Silvani
Fotos: Liza Bueno & Herman
Silvani
* Mais fotos:
(Fabi do grupo Vertigem, Liza do grupo Vertigem e Epopeia, Jacir da banda Sopro Difuso e Jo da Cia Conta Causos)
(Paulo da Bandinha Di Dá Dó e organizador do Morrostock e Herman do grupo Vertigem e Epopeia)