Acordamos tarde depois de um dia e uma noite cansados na correria,
entre tiros (fotos), coletivas de imprensa, conversas, alguns tragos e
estragos, risos, muita alegria e música. A garoa que ia e vinha mantinha a
umidade em alta na Fazenda Evaristo. Mas a agitação não parava. O dia passou
como um raio, rápido, intenso e cheio de energia. Quando vimos já era noite. Em
breve um dos shows mais esperados do Psicodália.
Ian Anderson subiu ao palco com sua banda para
um show que foi demais! Tocaram, sob o som da flauta muito bem tocada de Ian,
clássicos do Jethro Tull que levaram o público ao ápice, dançando e cantando
tudo com muita alegria e integração. Um baita show como haveria de ser, por
mais que a voz de Ian não esteja tão boa, ele, com maestria, cantou e deixou
sua característica no ar, sob tudo, com o uso da flauta e suas performances no
palco. Um grande show para um grande público e um grande festival.
O próximo show que abrilhantou a noite foi o da já também
‘clássica’ do festival, Bandinha Di Dá
Dó. Uma trupe-quarteto de palhaços que sempre fazem um show divertido e
inusitado, com boas performances e musicalidade. Um show intenso, divertido e
com muita interação entre banda e público, que fez a plateia dançar, cantar,
gritar, pular, correr, se mover e rir. Ao som da gaita, das piadas e
‘sacanagens’ (no bom sentido), o rock-teatral e circense da Bandinha sempre
traz um forte tempero humano ao festival, no sentido de fazer com que as
pessoas integrem-se entre si e façam da alegria um estado de espírito que se
soma ao clima do Psicodália. Enfim. Demais!
Um role depois do show da Bandinha para descansar um pouco depois
de tanto dançar e se divertir. Alguns tiros, tragos e conversas. Era alto da
madrugada e o Palco dos Guerreiros (Palco do Sol de dia), foi ocupado pelos
timbres e a visceralidade da banda Centro
da Terra. Já conhecia esta banda de ‘outros carnavais’, literalmente. Baita
show, pra (não) variar um pouco. Pegadas a la Hendrix e Clapton (nos tempos do
Cream) na guitarra, acompanhada por uma baita cozinha. Algo de blues, psicodeia
e até garage rock fazem do show do Centro da Terra um show de rock no sentido
mais visceral da palavra. Uma porrada sonora para fechar a noite, pelo menos
pra nós, já que o Palco dos Guerreiros não era mais no Saloon, infelizmente. O
Saloon é um lugar muito legal, onde a galera que ‘sobra’ da noite vai para
confraternizar e curtir o ambiente. Porém, neste ano, mudaram e fizeram do
Saloon um restaurante, o que tirou seu aspecto ‘artístico’ e de
confraternização dionisíaca. Torço para que ele volte a ser o velho Saloon,
onde encontros inusitados e muita alegria enchia aquele espaço – ainda enche,
mas de uma forma mais, digamos, ‘formal’. Enfim... ‘Volta Saloon!’.
Um tempo de bom sono para o último dia do festival que viria.
Acordamos, novamente, tarde, mas entusiasmados para ver/ouvir o grande mestre Arnaldo Baptista (ex e eterno Mutante),
entre outras atrações. Meia tarde, era chegada a hora do show e o Palco do Sol
lotado. Todos esperando o mestre aparecer. Um piano de calda, telão com suas
obras de arte projetadas e muitas flores criaram o aspecto do espetáculo do
gênio Mutante. Público eufórico e eis que Arnaldo finalmente sobe ao palco.
Muitos aplausos e gritos pelo seu nome. Começa o show com a música ‘Lóki’, tema
do seu disco pessoal mais emblemático e um dos meus preferidos do rock
nacional. Foi difícil não se emocionar vendo e ouvindo o mestre tocar e cantar.
Praticamente o show foi um ‘medlei’ de muitas das suas composições só no piano
e voz, em versões bem pessoais e diferentes das dos discos. Arnaldo esbanjou
alegria, simpatia e simplicidade, porém, com uma pegada única, onde cada nota
do seu piano era como uma agulhada profunda porém sensível no coração. Agulhada
que injetava algo de caos, poesia e vida no corpo. De uma ‘tristeza’ poética a
uma alegria vital, o show do mestre Arnaldo é algo muito próprio de alguém que
vive e ama o que faz, para além dos conceitos e regras musicais. Arnaldo é pura
expressão e corpo, alma e poesia, caos e sensibilidade. Durante todo o show
tive meus olhos lacrimejantes e minha boca sorridente, o que não foi diferente
para parte significativa do público que cantou junto ao mestre. Mais um sonho
realizado, o de conhecer e conversar pessoalmente com Arnaldo e poder
ver/ouvi-lo no palco. Obrigado pela sua música, sua arte, sua presença, sua
luz... Mestre Arnaldo!
Alma cheia, saímos para uma volta pela Fazenda, felizes da vida!
Cai a tarde e começa no Palco Lunar a também ‘clássica’ banda do festival Cadillac Dinossauros. Diferente dos
outros anos, por ser uma banda que se move bem no palco, portanto, boa de se
fotografar, este ano não conseguimos tal feito, mas ouvimos de longe e depois
de perto parte do seu belíssimo show. Não há muito o que dizer desta banda.
Aliás, há sim, mas o mesmo de sempre – no bom sentido: Uma banda muito boa e
que já faz parte da história do Psicodália, desde a primeira vez que fomos ao
festival, por volta de 2007, quando ele ainda acontecia em São Martinho. De lá
pra cá, Cadillac mudou, mas continua com seu show porrada e cheio de vibrações
positivas, um tanto dançante um tanto pesada. Bom demais!
Passado um tempo, eis que sobe ao Palco Lunar uma das bandas que
tinha imensa curiosidade em ver/ouvir ao vivo. Quer dizer, não foi a banda quem
tocou, mas um dos seus integrantes mais emblemáticos, o Próspero Albanese que cantou Joelho
de Porco, uma das bandas mais irônicas da história do rock nacional.
Conhecida também como o primeiro ‘punk’ brasileiro, Joelho de Porco é uma banda
bem ‘política’, no sentido crítico da palavra. Letras ácidas e um rock dinâmico
que vagueia por outros ritmos. Quase teatral, Próspero e banda tocaram
clássicos do Joelho de Porco, o que levou o público a loucura. Bom demais! Um
dos grandes shows do Psicodália, e Próspero, um puta vocal, ainda! Banda que
toca muito bem com vocais que cantam muito bem, e para concluir, com
composições muito boas. Simples assim. Baita show, baita momento que também vai
ficar na memória e história.
Depois do show, fomos para o restaurante onde a festa continuaria
com apresentações musicais e teatrais. Subimos até a sala de imprensa para
fotografar e assistir lá de cima os espetáculos, além de curtir os últimos
momentos da nossa estada no festival. Ficamos um tempo. Conversamos com
amigos/as e pessoas, nos despedimos pois sairíamos cedo ainda pela manhã,
comemos algo, bebemos chope e café. Além do cansaço a felicidade por fazer
parte de um todo, de um trabalho, espaço ou lugar onde a arte e a música são os
elementos integradores entre as pessoas. Um pouco tristes por saber que o
festival estava terminando, porém, alegres e realizados por mais esta
empreitada fotográfica, artística, musical e humana.
Perto do meio dia, desarmamos acampamento e depois de alguns
minutos já estávamos na estrada. Uma viagem um pouco longa e estávamos em casa,
com a sensação de, mais uma vez, estarmos vivos e ativos, pertencendo a algo
que muitos não tiveram ou não tem a oportunidade de saber/conhecer, enquanto
outros simplesmente ignoram. Um lugar, tempo e espaço onde as linguagens
artísticas dão o tom desta estada. E é pra lá que nós vamos a mais de oito
anos, todos os anos, trabalhando, registrando, curtindo, tocando. Enfim. Até a
próxima Psicodália!
com os amigos Jorge e Ronaldo da 'Arcpelago'.
Mais fotos em:
Fotos e textos: Herman G. Silvani
Fotos: Liza A. Bueno