Estávamos bem em frente ao palco com as câmeras prontas para os
tiros, junto a amigos que, como nós, esperavam ansiosos para ver/ouvir como
seria o show do Júpiter Maçã.
Comentei com meu amigo Augusto Zeiser sobre a possibilidade do show ser
elétrico e com banda. Público lotando o espaço abaixo da cobertura e de
repente, por trás das cortinas, uma batida na bateria. Em seguida, um acorde de
guitarra. “Se soar uma nota de contrabaixo, vai ter banda!”, comentei. Dito e
feito. Para a nossa alegria, o show foi com banda. Acompanhado pelo Gabriel
(Pata de Elefante) na guitarra, o baterista e baixista da banda Identidade e um
tecladista, Júpiter Maçã começou seu show. Logo no início parecia um pouco
desconcertado, mas, antes mesmo de terminara a primeira música, Júpiter se
encontrou e encontrou o Psicodália cantando em coro. E esse foi apenas o
começo. O show deu uma crescente formidável. Clássicos do disco “A sétima
efervescência” fizeram o público cantar, gritar, sorrir, chorar, gozar e
vibrar. Belíssimas canções do seu ultimo trabalho também deram cor ao show que,
eclético, foi do psicodélico ao folk, tudo com muita maestria. E as surpresas!
Lá pelas tantas, Júpiter puxa um rife psicobilly de guitarra que marcou a minha
juventude e lançou com tudo a música ‘Morte por Tesão’ dos Cascavelletes.
Demais! Em seguida, uma base de três notas que, de tanto eu ouvir bandas
fazerem cover aqui no Velho Oeste, não suportava ouvir, mas com o Júpiter foi
(é) bem diferente. Não acreditei, mas ele mandou o clássico ‘Cachorro Louco’ do
TNT, outra banda sua de muito sucesso, numa versão experimental e psicodélica
que deixou o público em êxtase. Para quem dizia ou achava que o Júpiter 'já era',
como vi/ouvi alguns comentarem antes do show pela rede social, aprendam que,
não se subestima um cara como ele, que tem a história que ele tem. Em suma, foi
‘O SHOW!’. Quem viu, viu! Quem sentiu, sentiu!
Depois da porrada que foi o show do Júpiter, fomos até o camarim
para a coletiva com o Jards Macalé.
Falou da sua relação com a música popular brasileira, dos períodos musicais
relacionados a nossa história e da sua concepção de show, dizendo que, cada vez
que sobe ao palco é uma realidade única e própria, por isso seus shows sempre
são diferentes e, muitas vezes, até inusitados. Boa e agradável pessoa,
inteligente e cheia de conteúdo, o que reflete no seu show. E que show!
Confesso que não esperava tanto. É difícil eu me surpreender, mas Macalé
conseguiu! Depois comentei com amigos músicos que, o show do Macalé foi uma
‘aula de música’ para qualquer músico ou compositor que se dignifique a ser. Um
dos shows mais complexos, musicalmente falando, que eu já pude ver/ouvir. Mas
uma complexidade nada chata, mas sim, com elementos ‘populares’. Música
sofisticadíssima executada por músicos excepcionais. Assim ‘resumo’ o que foi o
show, se é que dá para ‘resumir’ algo daquela amplitude. Simplesmente
magnífico!
Logo em seguida sobe ao palco a banda já conhecida de quem foi no
ano passado ao festival, Metá Metá.
E mais uma vez, um puta show, como era de se esperar! Um show dinâmico,
musicalmente profundo e sofisticado, com um talento vocal que se expressa e
canta muito bem. Um show que saltava da negritude do samba, da umbanda e
candomblé, da MPB ao progressivo-psicodélico e ia, ou foi, até o punk hardcore.
E o povo vibrava com as nuances e musicalidade da Metá Metá. Um show que fez
jus a um dia e uma a noite magníficos musicalmente falando. Demais!
Cansado e um pouco (ou muito) alto do chão, fui (fomos, eu e a
Liza), comer e beber algo para repor as energias. Um role pelo restaurante e
encontramos amigos, entre eles, o grande Jorge Carvalho e o Ronaldo Rodrigues
(baixista e tecladista da banda carioca Arcpelago
– Ronaldo também toca na histórica Módulo
1000 que tocou na edição passada do Psicodália, numa belíssima
apresentação!). Inclusive, duas bandas que poderiam tocar no Psicodália 2016:
“Ei organização, fica a dica!”. Depois de algum papo e muitas risadas, já
saciados, fomos ao Palco dos Guerreiros (que foi o Palco do Sol) para ver/ouvir
a banda Nave Maria, mas já era tarde e o show havia recém acabado. Então damos
mais um role e voltamos para curtir os Apicultores
Clandestinos. Passagem de som e em seguida o show. Já era de manhã quando a
banda começou a tocar. Dali uma hora e pouco o dia iria clarear. E foi um baita
show! Os Apicultures distribuindo melzinho e cachaça de mel tocaram vestidos
com aquelas roupas de apicultor seu ‘surf music’ com passagens psicobilly,
western, garage rock e punk. Um show divertido e dançante, bom demais! Fizeram
o público dançar e curtir com suas boas energias e vibrações. Ficamos até que o
cansaço veio impiedoso. Fomos para a barraca dormir ao som das rãs cantantes do
lago atrás do nosso acampamento. Ao longe alguma banda tocava jazz, blues e
soul-funk com muito primor. Ouvimos até apagarmos de vez. Já era dia.
Segunda, 16/02
Dormimos pouco, pois teríamos um dia cheio – e tivemos. Mal
levantamos e corremos para as coletivas dos mestres Arnaldo Baptista e Ian
Anderson, que seriam na(s) cidade(s). A primeira coletiva foi a do Ian
Anderson, ao meio-dia no hotel de uma cidade visinha a Rio Negrinho. Nela,
Anderson falou durante um bom tempo com a imprensa e os fotógrafos, sobre sua
trajetória e tudo mais. Foi muito simpático e divertido em suas ‘piadas’.
Demonstrou um grande senso crítico e intelectual. Ter nas costas uma história como
a sua e a do Jethro Tull não é algo que se possa ver ou ouvir falar todo dia.
Tiros dados (alguns registros) e fomos, junto aos amigos e também fotógrafos
Diogo Dreyer e Augusto Zeiser, comer em um restaurante na cidade, pois, a
tarde, iríamos ao encontro de Arnaldo Baptista em outro hotel, desta vez em Rio
Negrinho.
Alimentados, mas ainda cansados, nos dirigimos ao hotel onde
Arnaldo Baptista conversaria com a imprensa. E lá estávamos nós quando o mestre
adentrou sorridente na sala iluminada e espaçosa do hotel. As questões foram
basicamente em torno da sua carreira e sua história musical, onde Arnaldo
respondeu tudo com muita simpatia e bom humor. Depois tivemos um momento
fotográfico com o mestre, onde tivemos a oportunidade de conversar com o eterno
Mutante e sua companheira Lucinha. Um momento especial para uma pessoa como eu
que, tenho o Arnaldo com um dos gênios da música brasileira e mundial.
Esbanjando alegria e simpatia, na coletiva, Arnaldo com sua linguagem própria ou
pessoal, tanto verbal como visual, deu um ‘show’ a parte, íntimo e de certo
lirismo-lúdico, o que comprovou que, Mestre é Mestre, independente do local ou
situação. Saímos do hotel alegres e com a energia renovada para continuar com a
empreitada fotográfica e a diversão que viria logo mais na Fazenda Evaristo.
Neste meio tempo (pelas coletivas de imprensa), perdemos algumas
atrações musicais. A tarde se encerrou e a noite começava a se desenhar no
horizonte. Banho, alimentação, breve descanso. Já relaxados, câmeras na mão e
um role para mais registros. Aquecendo a alma para a noite de shows que viria,
sob tudo, pelo tão esperado por parte do grande público Ian Anderson.
Continua...